A fusão da FCA (Fiat Chrysler) e da Renault pode criar a maior montadora do Brasil e deve precisar de aval do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para vigorar no país, segundo pessoas a par das negociações.
O acordo entre as montadoras, anunciado oficialmente nesta segunda-feira (27), ainda deve demorar para ser finalizado - um prazo considerado rápido seria algo entre um e dois meses.
Apenas após a consolidação do acordo pelas matrizes das empresas é que o plano seria apresentado à autoridade da concorrência brasileira.
A Fiat, da FCA, é a terceira colocada em vendas no Brasil de automóveis e comerciais leves, segundo os dados fechados de 2018 da Fenabrave (associação das revendedoras), com 13,18% de participação de mercado.
Considerando ainda Jeep e RAM, que também fazem parte da FCA, o grupo seria o primeiro colocado, com 17,69% do mercado, praticamente empatado com a GM (17,58% de participação).
Caso a fusão ocorra, o grupo lideraria com folga no Brasil, com pouco mais de um quarto das vendas, ainda considerando os dados de 2018; teria 26,39% do mercado. Hoje a Renault, é quarta do ranking (8,7%) nacional. No mundo, o novo grupo seria o terceiro maior, atrás de Volkswagen e Toyota.
O mercado ficaria ainda mais concentrado caso Nissan e Mitsubishi (9,95% e 0,9%, respectivamente) aderissem ao acordo. Nesse caso, o grupo resultante dominaria pouco mais de 31% de todas as vendas no Brasil.
Um acordo que englobasse Nissan e Mitsubishi, porém, é mais difícil de ocorrer. Embora oficialmente a Nissan tenha dito nesta segunda que está "aberta a qualquer discussão que fortaleça" a parceria já existente, a perspectiva de uma junção de forças com a FCA não entusiasma a japonesa, que vê mais concorrência do que complementaridade com a FCA.
Além disso, os japoneses afirmam que as redundâncias na operação europeia da trinca forçariam fechamento de fábricas e de vagas para evitar perdas financeiras, medidas que seriam rechaçadas pelos governos de França e Itália.
Mas, acima de tudo, acham que a proposta da FCA é uma estratégia dos ítalo-americanos para entrar no maior mercado do mundo, o mercado chinês -e, de forma mais difusa, no circuito asiático como um todo.
Parceria e fusão são tendências globais
A parceria, tendência global que vem sendo avaliada por todas as marcas, "faz todo sentido pois não há dinheiro que chegue para atender o novo mercado", afirma Paulo Cardamone, presidente da Bright Consulting, referindo-se ao novo papel das montadoras com a chegada de veículos com elevado índice tecnológico, conectados elétricos e autônomos.
Cardamone acredita que o Brasil será um dos grandes beneficiados. "O novo grupo passaria a ter importante escala de produção e seria líder, com quase 30% do mercado". Segundo ele, "só a consolidação de áreas como financeira, contábil e de recursos humanos resultaria em corte absurdo de custos".
Para a Fiat Chrysler, a fusão daria acesso a novas tecnologias, como a de carros elétricos, segmento que a marca francesa lidera na Europa. Já a Renault poderia entrar no gigante mercado norte-americano.
Dona de marcas de automóveis que incluem as luxuosas Maserati e Alfa Romeo, a FCA cita grandes economias em compras, eficiências em pesquisa e desenvolvimento, em manufatura e ferramental, redução de número de plataformas de veículos e de motores.
Os resultados já seriam positivos a partir do segundo ano de sinergia, prevê a FCA. Pelos cálculos da empresa, os rendimentos combinados chegariam a € 170 bilhões, com lucro líquido de mais de € 8 bilhões.
Em visita ao Brasil na semana passada para anunciar a nova fábrica de motores em Betim (MG), o presidente mundial da FCA, Mike Manley, confirmou que o grupo "sempre busca fortalecer sua posição e continuará fazendo isso." Outra recente parceria global é a da Ford e Volkswagen, inicialmente para a área de picapes e vans.
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