Os automóveis sempre despertaram paixão nas pessoas desde que começaram a rodar no fim do século 19 na Europa e nos Estados Unidos. Por volta de 1905, centenas de companhias na Europa Ocidental e América do Norte estavam produzindo automóveis em pequenos volumes e usando técnicas artesanais, sem qualquer padronização, ou seja, um veículo era diferente do outro. Em 16 de junho de 1903 surge o Ford A, construído numa fábrica em Detroit como um projeto ambicioso de um empreendedor, ávido em transformar um sonho em realidade Henry Ford. O carro era baseado numa plataforma, sobre a qual era montado por apenas uma pessoa, dando origem ao que ele denominou de um sistema inovador de produção em massa.
Outros projetos sucederam os planos de Henry Ford a partir do modelo A, como protótipos experimentais que nunca foram ao mercado, mas foi o vigésimo deles que se destacou mundialmente como um novo marco para a sociedade. Em 1.º de outubro de 1908 foi lançado pela Ford Motor Company o modelo T, com 2.9 litros e quatro cilindros, finalmente um carro que qualquer um podia dirigir. Ele trazia um kit de ferramentas e dicas em forma de perguntas e respostas em 64 páginas no seu manual de proprietário e que possibilitava responder facilmente a qualquer um dos 140 problemas que poderiam ocorrer no veículo.
Na primavera de 1913, Ford inovou novamente. Baseado nas observações do transporte de bovinos em pedaços, nos frigoríficos de Chicago, ele implantou a produção baseada na linha de montagem móvel, em que o carro era movimentado em direção ao trabalhador estacionário. A melhoria de produtividade foi tanta que possibilitou a redução dos custos e a sua aplicação nos diversos segmentos da indústria até hoje. Com isso conseguiu produzir um carro a cada 93 minutos e em 1925 atingia a escala de um a cada cinco segundos.
Apelando aos consumidores, Ford ficou famoso pela frase que teria dito: "Você pode ter um carro de qualquer cor, contanto que seja preto". A escolha pela cor preta significava redução de custos pela escala e também porque a cor era a que secava mais rapidamente. Em 1914, o carro já custava U$ 490, passando para U$ 290 em 1924. Comparativamente, custava menos que uma carruagem a cavalos, avaliada em torno de U$ 450 na época.
A fatia de mercado da Ford disparou de 9% em 1908 para 61% em 1921. Em 1923, pico da produção, Ford produziu 2,1 milhões de chassi, cortando mais de dois terços do custo real para o consumidor, fazendo com que a maioria das famílias americanas possuísse um veículo, seja nas cidades como no campo. Em 1926, os automóveis de Ford eram montados em mais de 36 cidades norte-americanas em 19 outras nações.
A GM lançou contra-ofensiva ao idealizar uma nova concepção de veículos, com linhas para todos os gostos e bolsos, despertando as dimensões emocionais que o mercado de massa, conquistado por Henry Ford, desejava, pois buscava status, conforto e novas opções de cores e estilos. A estratégia do chefão da GM, Alfred Sloam, começou a balançar a estrutura extremamente verticalizada formada por Ford que insistir na busca excessiva de redução de custos e preços e oferecimento de um produto com poucas opções. A GM criou o conceito de marketing para o class-mass, o "modelo do ano" e os carros usados. O Buick, por exemplo, custava quase o mesmo preço com um ano de uso e oferecia muito mais do que o Ford T. Como estrutura organizacional, a GM inovou na descentralização das operações para divisões específicas e na centralização do controle.
A demanda por carros elegantes e cheios de emoção da GM disparou. De 1926 a 1950, a quantidade total de carros vendidos nos Estados Unidos saltou de dois milhões para sete milhões por ano, aumentando a sua participação no mercado total de 20% para 50%, enquanto a Ford caia de 50% para 20%. Em 1926, a General Motors vendeu 692 mil veículos e caminhões, e a Ford caiu de 2 milhões em 1925 para cerca de 1,5 milhão em 1926.
O precioso trunfo do volume de Ford estava desaparecendo, na qual ficava muito difícil manter os lucros com a queda contínua nas vendas, e então, por questões da engenharia e do mercado o modelo T faliu. Em 27 de maio de 1927, saía de linha de produção o tão consagrado Ford modelo T, tendo sido produzidos mais de 15 milhões do modelo T pelo mundo afora.
Apesar da descontinuidade do processo do modelo T, ele se tornou um marco para a indústria automobilística mundial. Foi considerado o carro do século pela capacidade de transportar e integrar pessoas e levar o desenvolvimento a regiões antes inatingidas por outros meios de transporte.
Quem quiser conhecer um destes belos exemplares, pode encontrá-lo no Museu do Automóvel de Curitiba, que dispõe em seu acervo um modelo T de 1919.
Péricles José Pires é administrador, mestre e doutorando em Administração pela UFPR e professor do Centro Universitário Positivo (UnicenP).
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