O mercado de carros é impiedoso: enquanto alguns modelos tornam-se sucessos estrondosos, outros são sumariamente rejeitados. Embora seja difícil estabelecer padrões para esse fenômeno, geralmente veículos que vendem mal quando novos tendem a ser preteridos também depois de usados.
Vale ressaltar que vender mal não indica, necessariamente, falta de qualidade ao produto. Há diferentes razões para o insucesso, que podem passar por falhas de marketing e até turbulências econômicas no mercado.
Elaboramos uma lista com 10 exemplos de carros que não caíram no gosto do consumidor, nos últimos 20 anos. Usamos como critério apenas veículos lançados para obter grandes números de vendas. Modelos de nicho, cujo lançamento não visa, principalmente, o volume de emplacamentos, ficaram de fora. Confira:
1. Fiat Marea
O Marea causou impacto quando foi lançado em 1998. Moderno para a época, tinha como destaque um motor 2.0 de cinco cilindros e 20 válvulas. Dois anos depois, o modelo adotou um propulsor 2.4 com as mesmas características técnicas.
Mas a mecânica passou de atrativo a pesadelo: complexa, exigia muito conhecimento técnico e ferramentas específicas. Além disso, o conjunto motriz vinha importado da Itália, o que aumentava os preços de determinadas peças.
Para piorar, a própria Fiat recomendava intervalos muito longos, de 20 mil quilômetros, entre as trocas de óleo. E aí o contato com combustível ruim e a outros fatores fizeram surgir casos de contaminação por borra. A Fiat chegou a reduzir esse prazo pela metade, mas era tarde: o sedã e a perua Weekend já eram carros rejeitados.
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Há, porém, outro fator relacionado ao insucesso comercial do Marea. Nos anos seguintes ao lançamento, o mercado recebeu uma enxurrada de novos sedãs. Entre eles, as (então) novas gerações de Honda Civic e Toyota Corolla. A competitividade crescente do segmento, associada à má fama mecânica, selaram o destino do modelo da Fiat.
2. Volkswagen Gol 1.0 16V
O Gol é um sucesso incontestável de mercado. Foi simplesmente o automóvel mais vendido do país por 26 anos, entre 1987 e 2013. Porém, duas versões, em especial, são abominadas pelos consumidores: a 1.0 16V e a 1.0 16V turbo.
Em parte, pelo forte preconceito com motores multiválvulas e turboalimentados que dominava os consumidores da época. Mas, a má fama não era totalmente injusta.
Esses motores, tanto o de aspiração natural quanto o turbo, apresentavam falha na polia do comando de válvulas com variador de fase. O resultado, muitas vezes, era a necessidade de retificar o cabeçote.
A repercussão negativa foi grande, a ponto de a Volkswagen tirar tais propulsores de linha, em vez de aperfeiçoá-los. E o Gol e a Parati equipados com eles entraram para o roll de carros rejeitados.
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3. Renault Symbol
O Symbol não tem falhas graves de projeto. Pelo contrário: seus motores 1.6 de 8 ou 16 válvulas equiparam vários modelos da Renault sem histórico de problemas.
A culpada por seu insucesso comercial, provavelmente, é a concepção. Afinal, o modelo nada mais era senão um sedã baseado no Clio nacional, já ultrapassado. A arquitetura antiga trazia heranças indesejáveis, como falta de espaço no banco traseiro e visual controverso.
Para piorar, o sedã sofreu concorrência interna da primeira geração do Logan, que era mais espaçoso e barato. Não deu outra: o modelo teve vida curta, sendo produzido apenas de 2009 a 2013. Assim, o Symbol passou a figurar na lista de carros franceses rejeitados pelo consumidor.
4. Peugeot Hoggar
Atualmente, muitos incluiriam o 206 em uma lista de carros rejeitados. Porém, deve-se considerar que o modelo vendeu bem na década passada, quando era novo.
A situação começou a mudar quando a Peugeot lançou o 207, que nada mais era que um 206 reestilizado. Foi então que a linha passou a contar com uma picape: a Hoggar.
Nenhum integrante da 'nova' gama teve êxito comercial, mas coube à caminhonete o maior fracasso. O design, com grandes faróis e lanternas, além da dianteira pontuda, é geralmente apontado como o grande vilão.
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Entretanto, a Hoggar herdou a fama de ter suspensão frágil que acomete toda a linha 207. Em um veículo de carga, essa reputação é ainda mais temida. Por fim, pesou também a falta de tradição da Peugeot no segmento de picapes.
5. Citroën AirCross
Há quem pense que o AirCross saiu de linha, substituído pelo recém-lançado Citroën C4 Cactus. Mas não, pois ele continua sendo fabricado em Porto Real (RJ). Tal desconhecimento reflete a pouca penetração que o modelo teve no mercado, uma vez que suas vendas nunca decolaram.
É difícil apontar um único fator responsável por colocar o AirCross entre os carros rejeitados. Talvez o projeto que mescla características de diferentes segmentos, justamente seu maior diferencial, tenha sido um tiro pela culatra.
Afinal, não encanta quem quer um SUV propriamente dito, tampouco ao público dos monovolumes. O Citroën AirDream então, que é o mesmo veículo, mas sem decoração aventureira, é um verdadeiro mico.
6. Nissan Tiida Sedan
Se o Tiida hatch já não foi nenhuma maravilha de vendas, o sedã é ainda pior de mercado. Ambos foram importados no México, quando a Nissan ainda não havia inaugurado sua fábrica em Resende (RJ).
Eles têm qualidades, entre as quais bom espaço interno e desempenho correto, graças ao motor 1.8 16V. Todavia, nada disso foi capaz de atrair os compradores e ambos são, atualmente, carros rejeitados.
No caso do sedã, o fator mais determinante parece ter sido o desenho da traseira. Por mais que gosto seja algo pessoal, é difícil encontrar alguém que considere o modelo bonito.
A Nissan acabou interrompendo as importações das duas opções de carroceria. O hatch chegou a ter uma nova geração no exterior, que nunca chegou ao mercado brasileiro.
7. Hyundai Elantra
Diferentes gerações do Elantra foram importadas para o Brasil, mas nenhuma fez sucesso. A última talvez tenha protagonizado o maior fracasso. Afinal, quando chegou, em 2011, a Hyundai vivia um momento de franca expansão no país.
Aliás, o mercado nacional como um todo ia de vento em popa, e o segmento de sedãs médios estava bastante aquecido.
Por todos esses motivos, a Hyundai esperava que o Elantra fizesse sucesso. Tanto que veiculou uma massiva campanha publicitária durante o lançamento.
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Apesar disso, o modelo nunca chegou a ter números expressivos de vendas. Ao contrário de outros carros da marca, o sedã está entre os rejeitados.
8. Chery Celer
Vários carros chineses foram rejeitados pelos consumidores brasileiros. Por que, então, só o Celer está na lista? Simples: ele é que teve maior expectativa de vendas. As demais empresas do país asiático vieram como importadoras e estabeleceram operações menores por aqui.
Já Chery construiu uma fábrica em Jacareí para produzir o compacto. Foi uma medida para crescer antes das compatriotas, o que não aconteceu.
Na verdade, tudo deu errado para a empresa. Logo após a inauguração da fábrica, o país entrou em crise e as vendas de veículos despencaram. A empresa apostou em um hatch e em um sedã, quando o segmento em evidência era o dos SUVs. No olho do furacão, o Celer acabou fracassando.
Após acumular prejuízos, a Chery acabou entregando suas operações no Brasil, incluindo a fábrica de Jacareí, para o Grupo Caoa. Desde então, a marca vem passando por uma reformulação, que inclui o lançamento de novos produtos.
Ironicamente, o Celer hatch sofreu mudanças e continua em produção. O modelo ganhou uma reestilização e adereços off road, para ficar parecido com um SUV. E até mudou de nome: agora, ele se chama Tiggo 2.
9. Chevrolet Agile
Perto de outros carros da lista, os integrantes da linha Agile nem são tão rejeitados assim. Mas basta compará-lo a outros hatches compactos da Chevrolet para perceber o insucesso.
Corsa e Celta tiveram desempenho comercial muito melhor quando novos e mantêm maior aceitação no mercado de usados. O Onix, então, nem se fala: é o automóvel mais vendido do Brasil desde 2015.
Já o Agile teve vida muito mais curta que seus 'irmãos”: durou só cinco anos, de 2009 a 2013. Os problemas começaram ainda na fase de projeto, que tinha grandes restrições orçamentárias.
A arquitetura ultrapassada, da primeira geração do Corsa, impunha uma posição de dirigir desconfortável, enquanto a altura elevada da carroceria prejudicava a estabilidade. E o design nunca foi uma unanimidade.
É verdade, porém, que o Agile tinha alguns pontos fortes, como o espaço no habitáculo e no porta-malas. Porém, era pouco para evitar o fiasco.
10. Ford Focus Sedan/Fastback
A configuração sedã do Focus sempre teve boas qualidades como produto, mas nunca vendeu bem. O modelo teve três gerações no país: todas são ruins de mercado. Os emplacamentos sempre representaram uma fração em relação aos do hatch, que apesar de não ser um campeão de público, conseguiu conquistar algum espaço.
Entre os atributos técnicos do Focus destaca-se a suspensão independente nas quatro rodas. O conjunto traseiro do tipo multilink tornou-o uma das referências do país em estabilidade e suavidade ao rodar.
Sob o capô, o modelo teve motores atuais e potentes. E a Ford tem tradição no segmento de modelos médios. Tinha tudo para dar certo: de certo modo, é até surpreendente que o sedã tenha se tornado um dos carros rejeitados do mercado.
Durante muito tempo, o design da traseira do sedã não ajudou: a primeira geração era polêmica, e a segunda, sem criatividade. Na terceira e atual safra, é difícil reclamar do estilo do sedã. Mas ela trouxe outro problema, que se chama Powershift.
O câmbio automatizado de dupla embreagem da Ford ganhou má fama após vários casos de mau funcionamento. Em 2015, o fabricante reestilizou a gama e mudou o nome do modelo, de Sedan para Fastback. Nada disso adiantou: o Focus acabou saindo de linha neste mês.
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