A Mercedes-Benz, líder do mercado de caminhões no Brasil, pretende absorver a fatia do mercado que será deixada pela Ford. A fabricante norte-americana sairá do segmento após decisão de fechar a fábrica de São Bernardo do Campo (SP), responsável pela produção de veículos pesados.
"Estamos de olho e temos condições de atender ao perfil desse cliente (da Ford), mas ainda é cedo", disse o presidente da Mercedes-Benz no Brasil, Philipp Schiemer, após participar, na noite deste quinta-feira (28) de evento de inauguração de uma nova linha de montagem de cabines na fábrica da Mercedes em São Bernardo do Campo.
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Ele ressaltou que a unidade no ABC conta com 50% de ociosidade, portanto, há espaço na produção para absorver a demanda do cliente da Ford. Essa ociosidade também é um dos motivos para que Mercedes não se interesse em comprar a fábrica da concorrente.
O executivo evitou comentar a decisão da Ford, mas destacou que a situação da indústria de caminhões no Brasil "está complicada há anos". Contudo, enfatizou o potencial do mercado brasileiro e de caminhões e ônibus e pediu que o país tratasse com mais "cuidado" os investidores que estão aqui.
"O resultado de investimento da indústria no PIB é um péssimo sinal. E não se investe por razões óbvias, há um déficit fiscal alto que, se não for resolvido, fica difícil convencer colocar dinheiro novo aqui no Brasil", disse Schiemer. "Não falo de incentivos, mas sim de criar condições para que possamos competir internacionalmente", afirmou.
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Ele, no entanto, afastou a possibilidade de a montadora sair do país. "O Brasil é um mercado importante para nós, estamos aqui há 62 anos, há um potencial muito bom para caminhões e ônibus, mas o Brasil precisa cuidar dos investidores, e por isso a reforma da previdência é tão importante, e não só ela, a reforma tributária também", disse.
A Mercedes-Benz tem um plano de investir R$ 2,4 bilhões até 2022. O programa de aportes foi anunciado no fim de 2017. A nova linha de cabines é resultado de um investimento de R$ 100 milhões, montante que está dentro do plano.
Mercado em crescimento
Apesar de a Ford abandonar o setor, o mercado de caminhões vive um bom momento após amargar uma crise, quando as vendas caíram de 155 mil unidades/ ano em 2013 para 50 mil/ano em 2016.
A recuperação começou em meados de 2017, com uma elevação mais significativa em 2018, quando fechou com 76,4 mil unidades, um salto de 46,8% em relação ao ano anterior - foi o melhor resultado desde 2014, quando negociou 137 mil veículos (veja tabela abaixo)
Entre as marcas, a Ford figurou em 4.º lugar, com 9.306 exemplares emplacados ou 12,2% do mercado de caminhões no país. A Mercedes liderou, com 29,2%, seguido de Volkswagen, 24,5%, e Volvo, 13,9%.
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Para Sergio Zonta, vice-presidente da Fenabrave, a melhora do último ano é reflexo do aumento da confiança de transportadores e frotistas.
Segundo ele, a greve dos caminhoneiros, em maio de 2018, também contribuiu para a elevação do setor, já que muitas empresas optaram por frotas próprias, ao invés de caminhoneiros autônomos, para fugir do aumento do custo com o tabelamento do frete.
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A Anfavea, entidade que reúne as marcas fabricantes, as vendas de caminhões deverão crescer em torno de 15,8% em 2019, alcançando um volume de 88 mil unidades emplacadas.
O recém-empossado presidente da entidade, Luis Carlos Moraes, disse que a projeção das fabricantes para o setor de pesados se baseia na instabilidade da inflação e no crescimento do PIB, que, para a Anfavea, deve fechar este ano entre 2,5% e 3%.
“O setor de caminhões continuará o movimento de recuperação ao longo do ano”, diz Silvio Munhoz, diretor comercial da Scania no Brasil. “Fatores decisivos como a estabilidade da economia e sua tendência de crescimento e a previsão de nova safra recorde, já estão contribuindo para o aquecimento da compra de caminhões, especialmente de pesados.”
Ano | Vendas |
2009 | 108.904 |
2010 | 157.384 |
2011 | 172.657 |
2012 | 137.751 |
2013 | 154.554 |
2014 | 137.052 |
2015 | 71.767 |
2016 | 50.292 |
2017 | 52.068 |
2018 | 76.431 |
Fonte: Fenabrave |
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