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Alexander Gromow, radicado no Brasil há 62 anos | Divulgação/ www.euamomeufusca.com.br
Alexander Gromow, radicado no Brasil há 62 anos| Foto: Divulgação/ www.euamomeufusca.com.br
  • O Fusca alemão de Gromow: fabricado em 1955, modelo 56, com vidro traseiro oval, teto solar de fábrica, cor vermelha coral e conhecido por
  • O acabamento em perfeito estado de conservação mostra o carinho que Gromow o único Fusca que ele teve até hoje

O Dia Mundial do Fusca surgiu graças à dedicação de Alexander Gromow, um alemão que veio para o Brasil com apenas 2 anos de idade. Ele teve a ideia e trabalhou no sentido de lançá-la mundialmente -- isso na primeira metade da década de 1990. Tanto por cartas -- não havia internet acessível para o público na época -- como por meio de boletim informativo do Fusca Clube do Brasil, do qual era o presidente, ele divulgou o seu desejo e lapidou a escolha da data com representantes de clubes e colecionadores do mundo inteiro. Acabou prevalecendo o dia 22 de junho, pois nesta data em 1934 foi assinado o contrato que deu início ao desenvolvimento do Fusca por Ferdinand Porsche. Na entrevista a seguir, Gromow conta um pouco mais sobre a criação da data e a paixão pelo carro, fabricado entre 1936 e 1998.

Como foi convencer outros clubes de diferentes lugares do planeta a apoiá-lo na instituição da data?

Eu tive a oportunidade de participar do 5.º Encontro Internacional de Volkswagen Antigos de Bad Camberg, em 1991, e na qualidade de representante do Fusca Clube do Brasil, que eu presidia, fui convidado por Heinz Willy Lottermann – organizador do evento (falecido em 2000) -- a dirigir algumas palavras aos participantes do encontro durante o jantar de confraternização. Com base na experiência do Dia Nacional do Fusca brasileiro, que eu também ajudei a criar, já tinha a história preparada de casa e coloquei em discussão a criação de um dia mundial para o carro, ideia que foi aprovada por aclamação pelos representantes dos cinco continentes.

Como convencê-los? Essa foi uma história de trabalho feita na época em que ainda não existia internet; tarefa realizada através de correio. A plataforma de comunicação que usei foi o boletim "A Bananinha" do Fusca Clube do Brasil, que redigia em dois idiomas: português e inglês. Os boletins eram enviados para muitos clubes de vários países e o canal de comunicação era o editorial que na versão em inglês tratava de aspectos da definição do "World Wide Day of the Volkswagen Beetle".

Os presidentes de clubes internacionais interagiram comigo, trocando ideias por cartas, e com isso se chegou ao consenso do dia 22 de junho. Na verdade não foi uma questão de convencer os demais clubes, mas sim de definir uma data. A ideia de se criar a data já havia sido decidida em Bad Camberg 1991. Em 1995, na edição seguinte de Bad Camberg, estava tudo acertado e eu lancei o Dia Mundial do Fusca durante a abertura oficial do encontro.

Hoje a data é comemorada em todo o mundo?

A comemoração ocorre em muitos países e de duas formas: eventos fixos, com encontros ou passeios, que são realizados nos fins de semana próximos ao evento, quando o dia 22 de junho cai no meio da semana. Neste ano, por exemplo, a edição de Curitiba será realizada no domingo (26). E a outra modalidade é o "Drive your VW Beetle to Work Day", ou seja, "Dia de levar o seu Fusca para o trabalho". Neste caso, os fuscamaníacos colam cartazes na vigias (vidros) laterais traseiras para indicar que estão participando da comemoração.

Algum outro modelo de carro tem tamanha idolatria quanto o Fusca?

Não que eu saiba. O Fusca é um fenômeno mundial neste sentido e desperta reações emocionais que não encontram uma explicação racional. Por exemplo, o amor dos americanos pelo carro é tão grande que foi devido ao clamor destes amantes que o New Beetle foi lançado. Tentaram acabar com ele, mas o clamor voltou forte e agora temos a segunda edição do New Beetle, que "curiosamente" perdeu o "New" e passou a ser chamado somente de "Beetle" e está mais parecido com o seu irmão mais velho, o VW Beetle tradicional – que era refrigerado a ar.

Essa paixão tende a aumentar, mesmo com as novas gerações que não viveram o período de comercialização do carro?

Pergunta difícil de responder. Eu espero que sim, para que os carros sejam mantidos pelo maior tempo possível entre nós. Fato é que ainda hoje o Fusca, e até a Kombi, é muito presente na propaganda de tevê. Eles são sempre usados quando a imagem tem que representar carisma, confiabilidade, carinho, resistência, fidelidade, etc. O Fusca continua sendo um catalisador de emoções e muitas crianças desenvolvem amor pelo carro de uma forma espontânea.

Que avaliação faz dos clubes existentes no Paraná e no Brasil. A estrutura e preservação da história do veículo são equivalentes aos grupos de outros países?

Tocar um clube é uma questão de devoção e amor pelo hobby. É uma luta contra muitas dificuldades, uma luta para realizar eventos e procurar patrocínio para cobrir as inevitáveis despesas. Neste aspecto os clubes do Paraná que tive a alegria de poder conhecer são de primeira linha, principalmente no que se refere ao empenho pela causa. Não conheço todos, mas acredito que devam se comportar na mesma linha. O meu conhecimento de clubes de muitos países mostra que há vários paralelos entre eles, tanto nas suas qualidades, como em seus problemas, pois nem tudo são rosas... Mas, no geral, o inexplicável amor que o modelo desperta em seus aficionados se reflete em clubes que honram o nome do Fusca através de uma atuação diferenciada. O que é cativante é poder avaliar as influências regionais sobre estes clubes que moldam cada um deles de uma maneira especial. O Fusca Clube de Antalaya, na Turquia, por exemplo faz as suas festas com muita dança regional que lembra a dança do ventre, bem diferente de eventos no Brasil onde o samba dita o ritmo. Mesmo aqui, as diferenças regionais se fazem presentes. Mas sempre resta um ponto em comum e este é único: é o Fusca!

Por falar em patrocínio, eu gostaria de ressaltar a atuação da Copava em Curitiba, uma concessionária que apoia os eventos ligados a veículos VW antigos, investindo nos aficionados e fidelizando a marca. Isso não é mais muito frequente, infelizmente.

Qual país preserva mais a história do carro?

Acho que não poderia deixar de ser a Alemanha, pátria do Fusca. Lá existem muitos clubes e especialistas no carro. A própria Volkswagen AG tem um museu e um parque temático dedicado a seus automóveis. Inclusive, mantém uma oficina de recuperação de veículos históricos que conseguiu construir duas réplicas de protótipos do tempo do desenvolvimento do carro feito por Ferdinand Porsche, protótipos que foram destruídos originalmente. A Volkswagen of South Africa construiu um singelo museu e a Volkswagen do Brasil, que é muito maior que sua coirmã sul-africana, ainda não, e não se tem muita esperança que isso venha a acontecer algum dia. Espero sinceramente estar errado.

Quantos clubes e/ou colecionadores existem no Brasil?

Essa é uma pergunta que eu gostaria de poder responder, mas ainda não tenho como. São muitos e de vários tipos, desde aqueles "de papel passado", ou seja, estabelecidos oficialmente com documentação lavrada em cartório, até as conhecidas "Ações entre Amigos". Seguramente são centenas e eu bem que gostaria de ver um antigo projeto meu se tonar realidade: a criação de uma Confederação Brasileira de Clubes Volkswagen. Quando isso se tornar realidade, certamente a resposta à pergunta será automática. Ressalto, porém, que para mim qualquer tipo de clube, oficial ou não, tem o mesmo valor no que se refere às suas contribuições no sentido de manter os carros e a sua história.

O sr. teve quantos Fuscas? Qual versão mais lhe atrai?

Sou colecionador de um carro só, que tenho desde 1970. Trata-se de um Fusca alemão, ano 55, modelo 56, com a vigia traseira oval, teto solar de fábrica, cor vermelha coral e conhecido por "Rosinha". Este carro foi restaurado na Ala 0, oficina interna da Volkswagen do Brasil. As versões que mais me atraem, sem dúvida alguma, são as cabriolet, em especial, as mais antigas. Mesmo o New Beetle cabriolet é muito bonito. Vi alguns em minhas viagens aos EUA, mas ainda não vi nenhum por aqui.

Qual é o Fusca mais raro hoje no país e onde está?

Outra pergunta difícil de responder, pois muitos carros raros permanecem no anonimato de coleções fechadas. Mas, como veículo VW mais raro, eu citaria o Schwimmwagen ano 1944 que pertence a Erineu Cicarelli, de São Caetano do Sul (SP). Trata-se de uma versão militar do Fusca, em forma de jipe anfíbio, com tração nas quatro rodas -- uma raridade em nível mundial.

Quem é Alexander Gromow?

Nasci na Alemanha no dia 2 de março de 1947 e cheguei ao Brasil em 1949. Virei engenheiro eletricista, modalidade Eletrotécnica, formado há 40 anos pela Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie. Sou um amante do Fusca de longa data. Já escrevi um livro sobre o assunto e compilei outro; trabalhei no lançamento do Dia Nacional do Fusca. Conduzi o processo que resultou no Dia Municipal do Fusca em São Paulo (data oficial, com decreto assinado pelo então prefeito Paulo Maluf) e lancei o Dia Mundial do Fusca em Bad Camberg na Alemanha. Mantenho a coluna Volkswagen World no Portal Maxicar e dou palestras sobre a história do Fusca dentre outras atividades correlatas. A oportunidade de falar com seus internautas através desta entrevista vem de encontro a todo este trabalho de quase 30 anos.

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