O automobilismo sempre foi um grande laboratório para a indústria automotiva. Freios ABS, câmbio Tiptronic, controle de tração e até mesmo itens básicos, como cintos de segurança e espelhos retrovisores, saíram das pistas para as ruas. Agora, o Brasil possui a única competição do mundo com carros movidos a Gás Natural Veicular (GNV). É a Pick-up Racing, que utiliza os modelos Ford Ranger, Chevrolet S10 e Dodge Dakota equipados com motores V6 turbinados com 320 cavalos de potência.
Quando surgiu a idéia de converter as picapes da gasolina para o gás natural, ainda no primeiro ano de existência da categoria, em 2001, pensava-se que a adaptação seria muito difícil. Porém, o GNV mostrou que é um combustível adequado para competição e o processo foi mais fácil do que se imaginava. A cada corrida, os mitos estão sendo derrubados. "Acidentes sem risco para os pilotos, corridas com média horária alta, índice pequeno de quebra nos motores e recordes de tempo, superando os motores à gasolina, são apenas alguns dos fatores que demonstram a alta qualidade do combustível", destaca o diretor da Pick-up Racing, Gue Marques.
Segurança
O piloto paranaense Émerson Duda garante que é mais seguro guiar um carro movido a gás natural que outro utilizando combustíveis líquidos. "O risco de vazamento é bem menor e uma explosão é quase impossível", argumenta o competidor, que corre com uma Ranger e ocupa a sexta posição do Campeonato Brasileiro, com 26 pontos (o líder é o gaúcho João Campos, com 75). A 6.ª etapa ocorre no próximo fim de semana em Londrina.
Desde 2003, os motoristas que optaram por converter o carro para GNV passaram a ter uma opção oriunda das pistas. É o mesclador, peça que mistura o ar com o combustível, ocasionando a combustão que movimenta o motor. Num kit de conversão tradicional, o orifício da peça é bem menor que na utilizada pelas picapes de competição, aumentando um pouco o consumo.
Mais potência
Esse desenvolvimento aconteceu para que a potência dos carros fosse mantida. "Para quem busca economia, aliada à potência, esse item desenvolvido na categoria surgiu como uma solução, já que a perda de desempenho é um dos fatores considerados negativos na conversão para GNV", explica Marques. Atualmente, com o GNV, as picapes estão mais rápidas que na época em que eram movidas à gasolina.
Em 2005, dois novos componentes passaram a ser "testados" pela categoria. A Fremax, com sede em Joinville, desenvolveu um sistema de freios exclusivo para a competição, utilizando os mesmos discos da Stock Car. O diretor da empresa, Paulo Picanço, explica que o equipamento é feito com uma liga especial, que utiliza um sistema flutuante. "Assim, a dispersão de calor é melhor, diminuindo o consumo das pastilhas. Em breve, levaremos essa inovação para as ruas", garante.
A outra empresa que estréia na categoria este ano é a Biagio Turbos. O gerente de marketing Daniel Bernardi explica que os kits biturbo que passaram a equipar os motores das picapes foram desenvolvidos com uma tecnologia inédita para veículos movidos a GNV. Aliás, as turbinas foram desenvolvidas para trabalhar com até três combustíveis (gasolina, álcool e GNV). As corridas são estratégicas para o desenvolvimento de projetos da Biagio Turbos, funcionando como laboratório de desenvolvimento e aprimoramento dos produtos da empresa.
Utilitário é transformado em um bólido
Painel O painel próprio para competição também é ponto fundamental para que os pilotos tenham domínio de todas as informações que podem assimilar e passar aos boxes durante treinos e provas. Relógios quem indicam temperatura, pressão de óleo e de água, além de medidores de corrente elétrica, passam a substituir os instrumentos originais. O velocímetro digital ajuda o piloto a controlar a velocidade nos boxes, limitada em 60 km/h.
Fibra O trabalho de transformação começa pela desmontagem total da camionete original no exemplo aqui considerado, uma Ford Ranger, equipada com motor de seis cilindros. Da carroceria original, por uma questão de segurança, sobra apenas a cabine seguindo as especificações de fábrica. Pára-lamas, portas, pára-choques, capô e saias laterais são substituídos por similares construídos em fibra.
Peso A instalação de um assoalho liso de alumínio sobre a carroceria é artifício para melhorar a função aerodinâmica. A redução do peso é outra preocupação das equipes, que retiram das cabines bancos, forração e vidros. Em seu lugar, instalam banco de competição, cinto de segurança com cinco pontos de fixação e um santantônio. De 1.900 quilos, a Ranger cai para 1.420 quilos, peso que inclui o piloto e sua indumentária completa.
Suspensão Na suspensão traseira, o feixe de mola convencional dá lugar ao sistema com braços e amortecedores especiais para competição. Na parte da frente, é necessário um retrabalho para facilitar a cambagem, termo que define o acerto da geometria das rodas. A altura em relação ao solo, que numa Ranger de série é de cerca 40 centímetros, cai para não mais que oito centímetros no modelo utilizado nas corridas.
Combustível Sai o tanque de combustível com capacidade para 90 litros e entram dois cilindros de GNV, com 44 metros cúbicos, que garantem autonomia para entre 130 e 145 quilômetros em condições de corrida.
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