A economia globalizada não tem impedido que o consumidor brasileiro pague altos valores pelos carros fabricados fora do país. Alguns modelos custam o dobro em determinados casos quase o triplo do preço do automóvel comercializado no Brasil em relação a países como Estados Unidos, México, Argentina e outros da União Europeia. O motivo deste enorme abismo tem explicação: a carga tributária nacional.
"A diferença é a alta carga de tributos cobrada no Brasil", afirma Alexandro Marchini, empresário do setor de exportação de automóveis e proprietário da Rimini Trading, empresa de assessoria nos processos de importação e exportação.
Alguns veículos podem exemplificar perfeitamente a disparidade de valores nos diversos mercados mundiais. O novo Volkswagen Jetta, com motor de 2.0 de 115 cavalos e câmbio manual, foi lançado nos Estados Unidos por US$ 15.995, aproximadamente R$ 25.100. O mesmo carro, no Brasil, parte de R$ 65.755, quase o triplo do valor. Outro caso emblemático é a picape Toyota Hilux 4X2 cabine dupla que aqui custa R$ 73.766 e é vendida por 88.100 pesos na Argentina, equivalente a cerca de R$ 60 mil. (Conheça outros casos no box ao lado)
Para importar um automóvel, os empresários do setor e as montadoras chegam a pagar mais de dez tarifas, entre tributos governamentais e taxas. Somente em impostos são cinco cobranças; Imposto de Importação (II), Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), Programa de Integração Social (PIS), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviço (ICMS). (Confira no quadro ao lado)
Para encarecer ainda mais o preço final do carro, os tributos são cobrados em cascata, ou seja, o IPI incide sobre o valor do carro mais o II. Já o PIS é calculado levando em consideração o preço do veículo com os dois primeiros impostos. E assim consequentemente até o ICMS, último da lista, que é cobrado sobre o valor do produto acrescido de todos os outros tributos. O II não é cobrado de carros exportados de países que têm acordo comercial com o Brasil.
"A base de cálculo é imposto sobre imposto. A forma de cobrança é absurda. Quando chega ao final, a cobrança do ICMS, o preço já está uma bomba", diz Marchini. "Pode colocar uns 70% do valor do carro somente em impostos para a importação", reforça Olivier Girard, consultor do setor automotivo, infra-estrutura,transportes e logística e sócio da consultoria Macrologística.
Em outros países, a carga tributária é bem menor, o que resulta em preços menores ao consumidor final. Na Espanha, por exemplo, representa 13,8%; na Itália, 16,7% e nos Estados Unidos, apenas 6,1%.
"Não existe previsão de mudar, já que a receita representa muito para o governo", ressalta Marchini. "Ainda mais agora que o governo está querendo cortar o consumo", complementa Girard.
Infraestrutura
Além da lista de tributos cobrada pelo governo, o importador ainda precisa pagar algumas tarifas como taxa portuária, frete e seguro internacionais, taxa da Marinha Mercante e despachante. Os gargalos de infraestrutura no Brasil, como deficiência dos portos e estradas em péssimas condições, também contribuem para aumentar os preços.
"Os portos não são ideais, já que a maior parte só recebe navios menores, o que faz com que o valor do frete seja diluído em uma quantidade menor de automóveis", explica o consultor.
Outro fator que influencia no valor final é as modificações que as montadoras fazem para deixar os veículos nas condições ideiais para dirigibilidade no Brasil, conhecido pelo setor como tropicalização dos automóveis.
Posicionamento
O consumidor também preciso arcar com o lucro do fabricante. Depende do posicionamento do mercado e da imagem que a montadora quer dar ao modelo, o preço pode ser de carro de luxo aqui, enquanto é o considerado veículo de entrada em outros países. Por exemplo, enquanto na América do Norte um automóvel como o Jetta e o Honda Civic são de entrada, no Brasil atendem o mercado de alto padrão. "Como, geralmente, esse tipo de veículo é vendido para consumidores abastados, as concessionárias aumentam a margens de lucro", diz Girard.
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