Quem cruza com um Renault Twingo nas ruas brasileiras, e não são muitos exemplares na ativa, gastará segundos observando o carro tentando imaginar como a indústria foi capaz de idealizar um modelo tão estranho, que mais parece ter saído de um desenho animado.
Alguns até o acham feio, seja pelo formato quadrado, de tamanho reduzido, ou pela frente que lembra um rosto, com os faróis transmitindo um ‘olhar triste’.
Mas há também quem tenha ficado fascinado pelo pequenino francês e o abraçaram como um integrante da família ao tomarem conhecimento dos seus atributos.
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Foi o caso jornalista Ricardo Boechat, morto nesta segunda-feira (11) após um acidente de helicóptero em São Paulo. O âncora da Band News FM e do Jornal da Band fazia questão de citar no ar o seu apreço e carisma que passou a ter pelo antigo carro.
Certa vez em entrevista ao colunista social Amaury Jr. afirmou que tinha um “fetiche” pelo seu Twingo, explicando o motivo que o levara ao usar o Renault na sua rotina diária.
Não tenho outro carro, venho para o trabalho com ele. É azul, e não chama muita atenção. Acho despropósito ter um carro enorme e que gaste muito.
Antes do azul, Boechat teve um modelo cinza claro, que veio no pacote ao emprestar o apartamento de um amigo quando se mudou para São Paulo, em 2005. O carro, ano 2001, estava à sua disposição na garagem do prédio. Não demorou para Boechat usá-lo como meio de locomoção e virar seu xodó.
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O veículo chamava a atenção nas ruas não só pelos inúmeros amassados e batidas, mas também pelo adesivo do PGN, o famigerado Partido da Genitália Nacional, uma brincadeira criada na parceria que tinha colunista de humor José Simão em seu programa matutino.
O companheiro do dia a dia rendeu causos interessantes, contados em seu programa matinal. Certa vez ele quase perdeu o carro ao não lembrar o local que havia estacionado. Só foi lembrar três dias depois que deixara no estacionamento do Aeroporto de Congonhas.
O apresentador ficou com o exemplar até 2014, quando decidiu doá-lo para o artista plástico Alê Jordão após se envolver num acidente, que amassou bastante a frente do subcompacto.
O Twingo virou assim uma figura meio parecida comigo, ou seja, amassado na lataria, tem que receber óleo com mais frequência e não recebe.
Reprodução / Twitter
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Desmanchado, as partes de metal e vidro viraram diversos objetos para a exposição Spectrum, exibida na Casa Electrolux (SP).
A ideia de Jordão foi criar um ambiente de interação, com efeitos de de iluminação, além de abordar a causa da sustentabilidade, com a reutilização de materiais descartáveis.
Reprodução / Internet
Boechat comprou então um Land Rover Freelander, mas logo perceberia que não podia viver sem um Twingo. Foi aí que decidiu comprar um outro exemplar, desta vez azul, também ano 2001 como o primeiro. Na verdade, ele se deu de presente no Dia das Crianças de 2016, como mostrou a postagem da sua mulher Veruska à época.
Reprodução/ Instagram
Até onde é possível se aperfeiçoar por um automóvel eu admito uma certa afeição exatamente pelo grau de rejeição que ele tende a sofrer. Ele sempre me atendeu muitíssimo bem, razão pela qual eu nunca vi motivo para me desfazer dele. Ele é meio folclórico.
Projeto simples, econômico e versátil
A Twingo de primeira geração começou a ser importado para o Brasil em 1995, dois anos após ser lançado na Europa como uma opção mais em conta
O monovolume era um projeto simples, para reduzir custos de produção e manutenção, e ao mesmo tempo audacioso. Trazia no interior soluções para o melhor aproveitamento do espaço.
O banco traseiro, por exemplo, vinha com ajuste de distância (deslizante), que aumentava a área para as pernas dos ocupantes.
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Também era rebatível nos dois sentidos, o que permitia ampliar a capacidade do porta-malas e até transformar a cabine numa ‘cama’ com o rebatimento total dos assentos dianteiros.
Inicialmente vinha com motor 1.2, de 55 cv e a partir de 2000 passou a vir pelo Uruguai, já reestilizado e equipado com os propulsores 1.0 8V e 1.0 16V.
Peças disponíveis e preço acessível
Uma das vantagens do carro é a fartura de peças mecânicas encontradas no mercado, mesmo as do motor francês 1.2. O que é mais difícil é localizar peças de acabamento, como os botões do ar-condicionado, por exemplo.
O modelo também é sinônimo de resistência, rodando muitos quilômetros até acusar o desgaste do tempo ou dar algum problema mecânico. Sem contar o ótimo desempenho no consumo, que, em média, supera os 12,5 km/l na cidade e os 15,5 km/l na estrada.
O preço acessível também é um fator que atrai compradores. O Twingo 1.2, custa entre R$ 5 mil (1995) e R$ 7,9 mil (2000), segundo a Tabela Fipe. Já o modelo 1.0 8V parte de R$ 7 mil (1999) e chega a R$ 11,7 mil na versão 1.0 16V, com 70 cv (2002).
A primeira geração do Twingo durou até 2007 na Europa, com 2,1 milhões de unidades vendidas. A Colômbia foi o último país no mundo a produzi-lo, até 2012, com o visual antigo.
Na Europa ele continua na ativa, em sua terceira geração, agora como um subcompacto premium, cheio de conforto e itens tecnológicos, mas sem perder a essência que cativou muitos proprietários, entre eles Ricardo Boechat.
Renault / Divulgação
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