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vamos ver se aqui entra ou não
entra?
será?
e agora?
última chance
Raquel Antunes Silva tinha 11 anos de idade. Confesso que não consegui ver os vídeos que registram o momento fatal. Ela é prensada contra um poste pelo carro alegórico da escola de samba "Em Cima da Hora", do grupo de acesso do Rio de Janeiro. Foi socorrida e operada por 8 horas. Teve uma perna amputada mas, infelizmente, não resistiu.
O desfile prosseguiu porque o show tem de continuar, diz um dos meus sambas preferidos. Li em uma reportagem sobre o carnaval que o segundo dia de desfiles não atrasou tanto quanto o primeiro, sem mencionar o motivo.
O desespero da mãe da menina, Marcela Portelinha Antunes, contrasta com a apoteose do maior espetáculo da terra. A filha nem chegou a atrapalhar o carnaval, ele simplesmente atropelou a menina e seguiu festejando. Uma menina negra cuja família gosta de carnaval, que nem desfilando estava, havia comido um lanche estava tirando uma foto para guardar de lembrança.
A mãe passou mal, teve de ser atendida no hospital. Enterrou a filha enquanto a folia dominava o noticiário e a celebração. Ninguém merece enterrar um filho. O meu faz 11 anos mês que vem. Impossível alguém não ficar profundamente triste com a morte de Raquel, mas temos a impressão de que ninguém falou nada. Parece que ela é menos importante que o carnaval da "africanidade". Seu Che Guevara de apartamento preferido não deve ter visto essa morte.
Onde estava todo o pessoal do Black Lives Matter versão tupiniquim para dizer que vidas negras importam, mais uma criança morre e ninguém faz nada, o racismo estrutural do Brasil se revela no genocídio do povo preto, etc. Infelizmente, a morte de Raquel, uma menina de 11 anos, não se encaixa no clichê do identitarismo ou movimento woke. Ela que lute.
Seria um erro confundir o identitarismo com as minorias que ele diz defender e com as quais pretende ser confundido. Houve gente do movimento negro chorando a morte e demandando justiça. A família não calou um segundo. A cobertura de imprensa foi extensa e deu apoio à família. A polícia esteve lá. Quem não estava? Os Che Guevara de apartamento que usam qualquer morte de criança negra para sinalizar virtude. É o barulho deles que você não ouviu.
As frases emocionadas e moralistas sobre assassinato de crianças valem quando cabem na narrativa divisionista do identitarismo. O que importa não é a criança nem a minoria, é o inimigo que você vai atacar. Se o inimigo for Bolsonaro ou a polícia, por exemplo, o identitarismo vai fazer o maior carnaval com mais uma morte de criança preta ignorada pela branquitude. E a imprensa, que está coalhada de fiéis da seita wokeísta, seguirá no mesmo rumo.
Desta vez não faltou cobertura de imprensa, mas o que você viu foi o relato de fatos e o espaço para que uma família chore publicamente a dor que ninguém quer ter de enfrentar. Por que parece tão insuficiente se efetivamente não foi? Porque nós nos acostumamos a reportagens que são o mais puro suco do colunismo moralista do identitarismo. É a condenação do demônio do outro lado pelo lado do bem, o que eu defendo.
Movimentos divisionistas que tem a ilusão de ser o lado do bem lutando contra o demônio são comuns na política em todo o mundo, mas representam a antipolítica. Essa infiltração ocorre em parte devido às redes sociais. Como esses grupos da seita woke usam os mesmos temas de muitos movimentos políticos, acabaram se infiltrando. Não podem, no entanto, ser jogados no mesmo balaio, como adorariam.
São esses os grupos que fomentam os julgamentos morais hipotéticos mais estapafúrdios. Uma criança morre em uma tragédia e eles já selecionam quem atacar. Vão apontar o dedo a alguém ou algum grupo dizendo que, se fosse uma criança branca, estaria indignado. Mas, como foi uma criança negra assassinada pela polícia, finge que nada está acontecendo. E esse pessoal não fez exatamente isso agora? Então eles também não se importam com assassinato de criança? Devagar com o andor.
Aqui está o pulo do gato para separar o joio do trigo. Apontar para alguém com o julgamento moral pesadíssimo de que "não se importa com assassinato de criança" é ação divisionista e extremista. Eu não diria que os Che Guevara de apartamento se importam com esta morte menos que com outras. Não é por isso a diferença de reação. O identitarismo se importa mais com o inimigo a combater do que com quem sofre, é por isso a diferença.
Fatos não importam. Pessoas reais e dores reais não importam. No mundo encantado do identitarismo, você pode ser um revolucionário a partir do seu sofá em Paris. É só fingir acreditar em toda baboseira pós-modernista, aprender o vocabulário inventado para parecer inteligente e, principalmente, atacar as pessoas certas com argumentos raivosos, emocionais e moralistas.
Há duas categorias de grupos em quem o identitarismo deve bater frequentemente. A primeira e mais óbvia é o demônio. No Brasil, ele pode ser traduzido como Bolsonaro e tem como derivados a polícia, o sistema judicial, o patriarcado, o racismo estrutural, etc. Quem está nesses grupos não deve ser tratado como ser humano e contra essas pessoas tudo é permitido, nada é errado.
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