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Não existe uma estatística oficial, mas basta conversar com os motoristas para constatar que de cada dez pelo menos oito não simpatizam com os motoboys. As reclamações são as mais variadas: riscam os veículos, quebram os retrovisores, xingam, costuram e estacionam sobre as calçadas.

Aliás, são raras as categorias profissionais que gozam de tão pouco prestígio.

Mas alguém tem de levar os documentos de um lado a outro da cidade, pagar contas, entregar a comida chinesa ou a peça do carro que está na oficina. Imagine o impacto que os quase 14 mil motoboys existentes em Curitiba e região metropolitana trariam ao trânsito se fizessem suas entregas de carro! Por isso, esse trabalhador sobre duas rodas de certa forma acaba por amenizar os problemas de trânsito daqueles que os recriminam.

A verdade é que a convivência pacífica entre os dois "segmentos" ainda é algo distante. Os desentendimentos vão desde gestos, palavrões a ameaças físicas. "Certa vez bati no espelho de um carro e fiquei esperando no semáforo para pedir desculpas. O senhor que dirigia e aparentava ter perto de 50 anos ameaçou jogar o veículo em cima de mim para me derrubar caso tivesse arrancado o retrovisor", revela Flávio Marcelo Osinaga, 24 anos, de Colombo.

O curitibano Luciano Pavliak, 31 anos, conta que em dez anos como motoboy já perdeu as contas de quantas discussões teve no trânsito. Por duas vezes foi vítima de motoristas que cortaram a preferencial. "Por sorte, tive lesões leves. Mas um amigo ficou um ano sem trabalhar após ser atropelado por um veículo que vinha na contramão. Fraturou o fêmur e as duas tíbias", relata.

Batidas inevitáveis

André Araújo dos Santos, 40 anos, que há oito anos largou a construção civil para virar motoboy na capital paranaense, reconhece que as batidinhas nos retrovisores são corriqueiras e que há colegas imprudentes no trânsito. No entanto, segundo ele, também existem motoristas mal-intencionados. "Alguns não respeitam os corredores. Fazem questão de colocar o carro em cima da faixa quando vêem uma moto pelo retrovisor. O impacto, às vezes, torna-se inevitável", argumenta.

Do outro lado do conflito estão os que apontam os condutores de carro como vítimas na maioria das vezes. O contador Reinaldo Alberto de Oliveira, 45 anos, de Almirante Tamandaré, acusa o motoqueiro de circular em alta velocidade, não prestar atenção nos pedestres e sequer dar sinal ao ultrapassar. "Ignora os carros e sente prazer em disputar espaços nas vias", salienta.

A pressa em duas rodas "acertou" o retrovisor do carro do professor Frederice Pugsley Branco, 52 anos, de Curitiba. "Ele queria ultrapassar em local onde só seria possível se jogasse o carro na calçada. Sempre que posso dou passagem, mas às vezes é impossível", ressalta.

Branco acredita que há espaços para todos desde que o respeito no trânsito venha em primeiro lugar. "Os motoristas de carro têm de se conscientizar de que os motoqueiros são uma realidade e vieram para ficar. Já estes devem colocar na cabeça que o fato de conduzirem uma veículo mais ágil não os autoriza a barbarizarem no trânsito", aconselha o professor, com a autoridade de quem já esteve dos dois lados do confronto, dirigindo moto por mais de 30 anos.

Na opinião dele, há duas situações especificas envolvendo motoristas e motoqueiros. Ou o motorista não consegue visualizar o motoqueiro e faz alguma manobra inconsciente. "É fácil de identificar, pois ele se assusta e geralmente pede desculpas, reconhecendo o erro". Ou então se impõe pela lei do mais forte sem medir as conseqüências. "Provavelmente neste caso ele nunca tenha pilotado uma moto e desconhece a dificuldade em controlá-la numa emergência", observa.

Legislação

Respeitar as leis de trânsito é o primeiro passo para eliminar muitas das situações de atrito, aponta David Antônio Pancotti, diretor geral do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran/PR). Para ele, atitudes simples ajudariam muito, como sinalizar com antecedência a intenção de mudar de faixa e manter-se no meio da sua faixa de pista. "Um dos fundamentos da lei é dar espaço aos menores, o caminhão para o carro, este para a moto que, por sua vez, precisa estar atento às bicicletas", orienta.

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