Uma paixão organizada

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Praça do Atlético, estacionamento do Tribunal de Contas, Largo da Ordem... O que esses espaços têm em comum? Além de localizados em Curitiba, são alguns dos inúmeros pontos de encontro utilizados por clubes de carro. A quantidade de grupos que cultivam a paixão por determinado modelo ou marca de veículo é tão grande que até estacionamentos de supermercado, churrascarias e shoppings acabaram virando locais para encontros e exposições.

Atualmente, o número de clubes automotivos na capital chega a 50. Boa parte é bem organizada, com sede, estatuto, quadro associativo e reuniões regulares. Desenvolvem atividades que incluem viagens, exposições, ações beneficentes, competições, intercâmbio de peças e de conhecimento e confraternização entre associados.

Alguns transformaram Curitiba em referência para o país. É o caso do Veteran Car Club, criado em 1977 com o objetivo de preservar os automóveis antigos. Entre as raridades conservadas estão Cadillacs, Impalas, Oldsmobiles, Chryslers e modelos nacionais como Simca, Aero Willys e Gordini. Já o Clube do Fordinho do Paraná, fundado em 1999, mantém aceso o fascínio dos clássicos Ford "T" e "A", do início do século passado. Uma característica do grupo são as freqüentes viagens em comboio, cruzando inclusive as fronteiras do país. Detalhe: a uma velocidade média de 60 km/h. As duas associações, ao lado do Museu do Automóvel e do Clube Elas, fizeram de Curitiba a capital brasileira do antigomobilismo.

Na mesma esteira nostálgica, porém com ingredientes contemporâneos está o Curitiba Roadsters. O clube é formado por apreciadores de hot road, um estilo de carro que surgiu no Estados Unidos logo após a Segunda Guerra e se caracteriza por mesclar carroceria de modelos das décadas de 30 a 50 com mecânica moderna e potente. "O estilo ainda está amadurecendo no Brasil, mas temos projetos de alto nível, que nada devem aos Estados Unidos, berço do movimento. Os hots construídos aqui são considerados os melhores da América do Sul", destaca Marco Aurélio Cachel, presidente do Curitiba Roadsters, que possui um Ford 28, com motor 4 cilindros do Opala, e um Ford 30 Tudor, alimentado por um V8 de 300 cavalos.

Veículos ícones de esportividade também motivaram diversos cultuadores em Curitiba. Há clubes do Mustang, do Maverick e dos brasileiríssimos Puma e MP Lafer, este um conversível clássico produzido por aqui em pequena escala como réplica do britânico MG Lafer. Outros modelos que marcaram época na indústria automotiva nacional continuam "vivos" nas ruas graças a iniciativas como as do Amigos do Galaxie e Dodge Clube.

Os adeptos do off-road, que curtem muita lama e terrenos acidentados, também decidiram se organizar através do Jeep Clube de Curitiba. A sub-sede Paraná foi criada em 1984 e hoje é a segunda maior do país, atrás apenas de São Paulo. Tradicionais eventos no estado levam a assinatura da turma de jipeiros, como o Transparaná, o Raid da Meia-Noite e o Raid do Trabalhador. "Além de divulgar o off-road, temos como objetivo promover ações sociais. Todo o fim de ano fazemos o ‘Jipe do Noel’, onde entregamos brinquedos às crianças mais carentes", observa o presidente Joselito Voltolini, que possui um jipe Suzuki 93.

Fusca

Um dos carros mais simpáticos do planeta não poderia deixar de ter admiradores em Curitiba. De tão querido motivou o surgimento de vários clubes. Estamos falando do Fusca, que muitos consideram até integrante da família. São vários grupos na capital, como Amigos do Volks, Fuscamania e Nipon VW. "Nossa finalidade é preservar a originalidade do modelo e também de outros integrantes da família como Brasília, Variant, SP2 e o Karmann Ghia. Se não houver esse trabalho, daqui a pouco esses veículos desaparecem", diz Ricardo Albuquerque, do Amigos do Volks.

Há projetos que acabaram derivando para as competições esportivas. Os clubes Chevetteiros, Passat e Opaleiros são bons exemplos. Participam de arrancadas e realizam shows de manobras radicais. O recordista mundial de zerinhos, conhecido como Zé Louquinho, é associado do Clube Chevetteiros. "Só aceleramos na pista. Sócio que é pego fazendo racha nas ruas é expulso", salienta Roberto Sescato, diretor do Chevetteiros e dono de uma Marajó SL 82.

O mundo tuning, com seus modelos coloridos, carregados de acessórios e muita potência sonora, também tem seus representantes. A maioria leva o nome de modelos de fabricações recentes, como Gol Club, Palio Tuning, Clube do Marea e Saveiro Clube.