Aos 65 anos, Richard Gillette decidiu que era hora de se destacar nas ruas. Então, construiu ele mesmo um John Cooper Works Mini Cooper com um motor de 228 cv de potência, capota vermelha e – claro – interior de couro preto.
"Construir" não significa que ele trabalhou na linha de montagem em Oxford, na Inglaterra. Em vez disso, Gillette usou um configurador on-line e escolheu todas as peças que queria acrescentar para concretizar sua visão de um Silver White Mini.
Cerca de US$ 39 mil (valor de um Ford Mustang GT Premium) e dois meses depois, seu carro personalizado chegou à concessionária em Nova Jersey.
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"Foi uma espécie de crise de meia-idade", disse Gillette, que se descreveu como "um tanto anglófilo" (paixão pela Inglaterra). Ele mudou os suportes dos espelhos e as rodas, melhorou o interior de couro e acrescentou decalques de listras para dar um toque especial.
Em nossa sociedade de consumo customizada, o simples está fora de moda. E, em um universo volátil de vendas de carros novos, marcas como Porsche, Ford, Mini e Volkswagen estão testando métodos de marketing para tornar seus modelos mais atraentes para os compradores – e para melhorar seus lucros.
Em uma pesquisa recente com mil adultos encomendada pela Mini, quase duas em cada três pessoas disseram considerar a personalização importante na escolha de um novo veículo.
"Logo estaremos vendendo carros elétricos", disse George Mengisopoulos, gerente de finanças da Porsche Gold Coast, em Westbury, Nova York.
"Assim, o motor não vai ser o diferencial, mas sim a experiência e a capacidade de personalização. As pessoas entre 35 e 55 anos têm sua própria ideia de como um carro deve ser. A empresa que faz o carro de seus sonhos é a empresa que vai conseguir seu dinheiro.
Henry Ford supostamente disse a seus clientes do Model T que eles poderiam ter um carro da cor que quisessem, contanto que fosse preto.
Nos anos 1970, a Honda se vangloriou dizendo que o Civic, que custava cerca de US$ 3 mil (aproximadamente US$ 14 mil em valores de hoje), vinha com um modelo específico. O comprador poderia adicionar uma transmissão automática e um limpador de vidro traseiro, e só. "Nós simplificamos", dizia o slogan da Honda.
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Pouco tempo atrás, um homem visitou uma concessionária Audi em Long Island trazendo um capacete de futebol da Universidade Estadual do Colorado, dourado. "Ele disse: 'Quero um carro desta cor'", contou Mengisopoulos, que trabalhava na loja na época.
"Enviamos o capacete à Alemanha para conseguirmos a cor dourada certa. Quando o carro chegou, estávamos todos nauseados de tão feio que ficou. Mas o cara o contemplou com olhos lacrimejantes. Estava apaixonado", contou ele.
Carro com a cara do cliente
Com veículos elétricos e autônomos no horizonte, quase todas as marcas temem que o automóvel vá se tornar uma mercadoria, um aparelho.
Assim, o conceito é permitir que os clientes construam um automóvel com suas especificações exatas, fazendo com que isso seja tão fácil quanto (e em alguns casos mais fácil que) encomendar um sofá em uma Ethan Allen ou um par de tênis da Nike by You.
Naturalmente, um automóvel feito sob encomenda é geralmente mais caro que um par de tênis.
Por exemplo, a Ferrari. O preço inicial de uma Ferrari 2019 é de mais de US$ 200 mil. Uma que tenha passado pelo programa de customização da fábrica custa – bem, se você precisa perguntar o preço, ela não é para você.
"É realmente uma experiência criativa e imersiva que lhes permite liberdade na escolha de materiais, cores e acabamento, para realmente ter um carro único", disse Jeffrey Grossbard, porta-voz da Ferrari América do Norte, sobre os compradores do programa.
Os clientes são convidados a visitar a fábrica em Maranello, na Itália, ou um centro de customização em Xangai, e apresentados às diversas opções por um "designer pessoal", disse Grossbard.
Para enfatizar a natureza única da máquina final, o processo "também permite que os próprios clientes proponham soluções novas e materiais que podemos desenvolver especificamente para eles", disse ele.
A Ferrari não anuncia seu serviço de customização, mas a marca Mini divulga agressivamente a seus compradores em potencial que existem milhões de opções para um carro.
"Tivemos um cliente que era aluno de engenharia no MIT, e ele analisou o número de opções e nos disse que estava mais perto de um bilhão", disse Ishaan Khatri, gerente de planejamento de produtos da Mini. "Mas, bem, não dava para acreditar."
Das mais de 16 mil capotas para os veículos de duas e quatro portas vendidos em 2017, 14 mil foram modelos únicos, disse Khatri.
Cores específicas
A marca, de propriedade da BMW, também está trabalhando na expansão de artigos disponíveis, com elementos impressos em 3D. Esse processo "realmente permite que o cliente individualize o painel, as soldas das portas, as projeções de luz, algumas peças de enfeite", disse um porta-voz da Mini, Patrick McKenna.
"É um novo território para nós. Ainda estamos nos estágios iniciais dessa tecnologia", acrescentou.
Apenas este ano, a Volkswagen, cujos modelos têm geralmente opções limitadas, está adotando um programa de sua divisão canadense, chamado Spektrum.
Usando um gráfico on-line, os compradores do Golf R de ponta podem pagar US$ 2.500 pelo privilégio de escolher entre 40 cores – entre elas, vermelho framboesa, cinza esquilo e azul da Prússia.
A empresa estima que até 600 dos quatro mil Golf R produzidos para o mercado dos EUA em 2019 passarão pelo programa, disse Megan Closset, gerente de produto do Golf da Volkswagen americana.
"O cliente do Golf R é único, exigente em relação ao carro que compra, com mais dinheiro para brincar. Nem todo mundo acreditava nesse programa no início, mas estamos vendo as encomendas no sistema, e o interesse de revendedores e clientes tem sido incrivelmente grande", contou Closset.
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Ela disse que, no Canadá, "a cor mais popular foi o verde víbora", de uma geração passada do VW Scirocco. O cinza não metálico vendeu bem também, afirmou, "junto com cores fortes e brilhantes, para o cliente que realmente quer se destacar". Há um porém: uma vez que o carro é solicitado, o comprador deve esperar até quatro meses pela entrega.
Na Audi, marca irmã da VW, a espera por uma cor especial da paleta da montadora pode levar até 120 dias e custa US$ 3.900 extras, segundo Matt McKown, gerente sênior da Audi Sport. "Fazemos cerca de 500 vendas por ano de veículos sob medida nos EUA", disse ele.
Em longo prazo, a indústria automotiva conta com a personalização que irá além dos aspectos cosméticos. Entre as empresas que desenvolvem um nível mais elevado da ciência focada no desempenho do carro está a Derive Systems, na Flórida.
Usando software avançado para direcionar os sistemas de controle do veículo, a Derive trabalha com entusiastas e vários fabricantes para "transformar o veículo padrão em algo personalizado, adaptado para atender às suas necessidades pessoais", disse David Thawley, diretor-executivo da Derive.
"Os resultados são grandes em relação a maior desempenho, melhor consumo de combustível ou aumento da segurança."
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