Colecionador
Original na cidade, adaptado no mato
O empresário Leandro Macedo, 32 anos, é um apaixonado por Jeep e por trilha. Participa há dez anos de campeonatos organizados pelo Jeep Clube do Paraná, do qual também é sócio. As primeiras disputas ele fazia com um Willys 1951, versão militar. Não demorou para a adrenalina dar lugar ao aperto no coração por ver um Jeep original todo arranhado pelos galhos de árvores e com a lataria amassada. "Além do valor sentimental também tem o fato de a estrutura original não ser a ideal para off-road", observa. Ele aponta como principais deficiências o motor fraco, a altura baixa do pneu e da suspensão, o que faz "pegar" embaixo, e a parada obrigatória na oficina a cada trilha. "Sem falar nas eternas folgas da direção, que já considero férias", brinca Macedo.
Ele decidiu então aposentá-lo das competições. Como substituto, transformou um Jeep 1970, 6 cilindros, herdado do avô, num legítimo off-road. O jipão ganhou o motor 4 cilindros do Opala, com ligeira preparação; caixas de direção do Santana e de câmbio da C10; kit de mola da Toyota; amortecedor de competição; banco em concha; gaiola de proteção; guincho mecânico; pára-choques dianteiro e traseiro tubulares; pneu mamute aro 15; entre outros. "Gastei perto de R$ 30 mil. Agora não tenho mais como vender, vão me chamar de louco se pedir esse valor", conclui, sem conter os risos.
Assim como o Fusca, o Jeep Willys também possui uma mística capaz de atrair milhares de admiradores. Muitos têm o modelo como seu segundo e até primeiro carro. Mas, ao contrário do simpático Volks, o utilitário requer uma manutenção mais freqüente, principalmente se ele for um veterano que já cruzou a casa dos 40 anos. Por ter uma vocação off-road, é comum o dono colocá-lo para encarar trilhas. Nesse caso, o cuidado deve ser redobrado e algumas adaptações feitas para que o veículo não perca sua aura de valente.
Boa parte dos Jeeps Willys que circulam pela ruas e estradas brasileiras é da versão CJ-5, fabricado entre as décadas de 50 e 70. Vinha equipado com tração nas quatro rodas e motor quatro cilindros de 73 HP e 2.150 cilindradas. Popular, acabou criando uma indústria de fornecedores de peças que mantém aquecido o mercado de reposição. "Temos todo tipo de peça disponível. Se a pessoa trouxer apenas o chassi, montamos o carro inteiro", salienta Endrigo Macedo, proprietário da Zezo 4x4 Off-Road, no Bacacheri. Metade de sua clientela é formada por donos de Willys.
Segundo o comerciante, ao contrário do que se imagina por aí, a manutenção do Jeep é bastante simples. "Com a revisão em dia é difícil ele apresentar defeito mecânico", observa. Macedo afirma que os problemas se concentram no acabamento. Pelo fato de ser um veículo muito usado em terrenos desfavoráveis, as borrachas de vedação, espelhos retrovisores e tapetes são os que mais acusam a ação do ambiente. E as substituições estão longe de ser um rombo no bolso. Os espelhos, por exemplo, custam em média R$ 15 cada, enquanto o jogo de tapetes sai por R$ 115.
Restauração
Para os jipeiros que buscam manter a originalidade do carro há alguns componentes que não podem faltar na restauração. Entre eles a tradicional capota, que custa R$ 1 mil; as rodas aro 15' e 16', em aço e alumínio, cujo valor varia de R$ 100 a R$ 150 cada; o farol dianteiro, vendido a R$ 10 cada; e a manopla de câmbio, encontrada por R$ 8. Já o pára-lamas original, feito em lata, deixou de ser "fabricado". Por isso, só é possível achá-lo usado e pelo custo médio de R$ 200. "Agora usa-se o de fibra, mais frágil a batidas, que vale R$ 160", diz Macedo. O pneu, por sua vez, pode ser recapado por R$ 250 a unidade e assim ganhar uma sobrevida de 10 mil quilômetros.
Quanto à mecânica, algumas precauções evitam a visita constante à oficina. Motor mais antigo requer a troca do óleo e de seu respectivo filtro a cada 3 mil quilômetros. O intervalo para a substituição do jogo de velas não deve ultrapassar 10 mil quilômetros.
Quem anda por estradas empoeiradas precisa ficar atento à limpeza do filtro de ar. No propulsor original, o filtro é a óleo. Isso significa manutenção a cada 60 dias. "É preciso trocar o fluido e limpar o componente, pois com o tempo o interior fica puro barro", orienta Luciano Baseo, proprietário da Kiko 4x4, no Pilarzinho. O gasto pelo serviço não passa de R$ 5. Para quem colocou o filtro de ar convencional, basta uma limpeza a cada 6 mil quilômetros.
O mecânico faz um alerta àqueles que andam sem o filtro de ar: "Com duas ou três trilhas a poeira começa a danificar o motor, desgastando os anéis (pistão e cilindros) e acarretando a queima de óleo. O prejuízo com a troca dos anéis chega a R$ 500", salienta.
Os Jeeps produzidos a partir de 1976, já pela Ford, exigem manutenção anual da caixa de câmbio. Baseo explica que a partir daquele ano o veículo passou a vir com quatro marchas. "Se não for feita a revisão periódica pode ocorrer o travamento do sistema". Nos modelos anteriores a 76, com três marchas, o intervalo entre cada manutenção sobe para quatro anos.
Se a aventura fora da estrada contou com a transposição de rios, saiba que é imprescindível dar uma passadinha na oficina depois para verificar o óleo da caixa de transmissão e do diferencial. É comum entrar água e ela se misturar com o fluido lubrificante. "O óleo perde suas propriedades e com isso há risco de estourar o rolamento por falta de lubrificação", diz o dono da Kiko 4x4.
Folga de direção
Toda a originalidade tem sua cota de sacrifício, por isso uma vez ao mês vá a uma oficina dar uma ajustada no sistema de direção. O mecanismo possui vários pontos de dobra e todos eles podem ocasionar folgas, que somadas viram uma tremenda folga. Este problema causa instabilidade do carro e perda de controle em curvas. O serviço não tem custo e é feito na hora. "Apesar da manutenção simples, o Jeep não é igual a um carro normal. Qualquer desatenção nos cuidados regulares fazem que ele deixe o dono na mão", completa Baseo.
Serviço: Zezo 4x4 Off-Road - (0XX41) 3256-4999. Kiko 4x4 - (0XX41) 3235-3246.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast
Deixe sua opinião