Conquistando ou não a presidência da França no próximo 7 de maio, Emmanuel Macron é, sem dúvida, um dos grandes fenômenos de marketing político dos últimos tempos. O atual líder das pesquisas chegou a ser apelidado por Theodore Dalrymple de “Obama francês”. Não era um elogio.
No primeiro turno, realizado em 23 de abril, Macron obteve 24% dos votos contra 21% de Marine Le Pen, que superou o ex-primeiro-ministro conservador François Fillon por apenas 450 mil votos (1,3%). Para o segundo turno, as pesquisas apontam uma vantagem de mais de 20 pontos do socialista, “centrista” para a imprensa, sobre a adversária nacionalista. Mesmo após duas gafes recentes, continua favorito.
Macron, após uma carreira meteórica do mercado financeiro, largou um emprego milionário para ganhar um salário incomparavelmente menor em 2012 como secretário adjunto da presidência pelo recém eleito François Hollande do Partido Socialista, do qual foi filiado por vários anos. Em 2014, após a nomeação de Manuel Valls como primeiro-ministro, Macron assume o ministério da Economia, Indústria e Assuntos Digitais da França aos 36 anos, seguindo como figura-chave de um dos mais impopulares e desastrosos governos da França.
No último mês de agosto, Macron se desligou do governo Hollande, fundou o próprio partido e passou a se apresentar como independente, anti-sistema e acima das ideologias. Num passe de mágica, todo seu passado socialista sumiria das matérias de jornal, seu protagonismo no governo Hollande é minimizado, suas posições ideológicas passam a ser “centristas” e ele próprio assume o bordão “não sou nem de esquerda nem de direita”.
Socialista por dentro, centrista por fora, defensor da União Européia e das políticas de imigração em massa realizadas por Ângela Merkel na Alemanha, Macron é a encarnação do candidato sonhado pelo atual establishment globalista. Seu apoio entre os principais políticos tradicionais, de toda a grande imprensa e da elite financeira é a prova da vitalidade do movimento globalista, como dito no artigo anterior.
Com apenas 4% dos franceses se dizendo satisfeitos com o governo Hollande no final do ano passado, o pato manco que ainda assombra os corredores do Palais de l’Élysée era carta fora do baralho. Logo após o abalo sísmico causado pela eleição de Donald Trump, uma avassaladora operação de salvamento da esquerda francesa entrou em campo.
Seis meses antes da eleição presidencial, uma vitória de Marine Le Pen já era vista, na prática, como o fim da União Européia e do projeto globalista de criar um Europistão, uma aberração governada por burocratas não eleitos e sem rosto a partir de Bruxelas. Havia muito em jogo para deixar que o eleitor francês decidisse livremente.
Em janeiro, um vazamento para a imprensa de uma investigação de favorecimento ilícito destrói as chances do principal concorrente de Macron na época, o conservador François Fillon, ex-primeiro ministro entre 2007 e 2012. Com a desidratação do capital político de Fillon, Macron ficou sozinho na disputa pelo apoio da elite francesa.
O jovem e bem apessoado socialista francês foi sócio do Banco dos Rothschilds que fez dele um milionário instantâneo ao participar de um processo bilionário de aquisição envolvendo a Nestlé e a Pfizer. Aos 34 anos e sem qualquer experiência em fusões e aquisições, Macron se tornava sócio de um dos bancos mais tradicionais do mundo e muito rico. É uma trajetória no mínimo inusitada, daquelas que biógrafos mais investigativos poderão se interessar um dia, e que lembra a do jovem e bem apessoado socialista americano que passou de líder comunitário a presidente dos EUA em menos de cinco anos.
Macron, o “centrista”, já deu todas as declarações que soam como música para a elite globalista: a de que devemos nos acostumar com o “imponderável” terrorismo em solo europeu, que a associação do terrorismo com a imigração em massa do Oriente Médio e a radicalização de certos movimentos islâmicos é preconceito, além do discurso que mistura clichês de MBAs de start-ups de tecnologia com o velho socialismo francês.
A estratégia de criação de um partido socialista “moderno” pelas elites financeiras é tentada no Brasil com a Rede de Marina Silva, partido criado e sustentado por algumas das famílias mais ricas do país que emulam a elite francesa que investe em Macron, mas ainda não emplacou. O “socialismo de banqueiros” ainda é um quadrado redondo e o mais perto que se chegou ao modelo no Brasil ocorreu nos anos 90 com os sociais-democratas do PSDB, capitaneados por Fernando Henrique Cardoso, um sociólogo que deu aulas na Universidade de Nanterre e que teve como aluno Daniel Cohn-Bendit, um dos líderes do maio de 1968.
A França não cresce há anos (1,1% em 2016) e o país está na inacreditável 72a posição no ranking de liberdade econômica da The Heritage Foundation, o mais importante que existe, atrás de Turquia, Albânia, Arábia Saudita e El Salvador. Macron, ministro da Economia do governo socialista até agosto do ano passado, faz campanha como quem não ter nada com isso e é tratado pela imprensa como um outsider “anti-sistema” que chegou agora ao mundo político. Vender Macron como anti-sistema e centrista é mais nova impostura da era da pós-verdade do jornalismo.
Se as pesquisas estiverem corretas, a França terá se livrado de François Hollande mas não de seu socialismo retrógrado, engessado e suicida. Como são as mesmas pesquisas que desdenharam do Brexit e que colocaram Hillary Clinton na Casa Branca, ainda é cedo para abrir a Veuve Clicquot em Davos.
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