“O começo da sabedoria é chamar as coisas pelo nome.”
Provérbio chinês
Nesta quinta, o Reino Unido vai às urnas decidir entre manter Theresa May no cargo ou mergulhar na aventura Jeremy Corbyn. Há muito mais em jogo do que parece.
A atual primeira-ministra chegou ao cargo em julho do ano passado por conta de uma barbeiragem política de seu antecessor, o jovem e carismático David Cameron, empossado em maio de 2010. Descendente direto do rei Guilherme IV (1765-1837), Cameron é primo de quinto grau da rainha e se tornou, aos 43 anos, o primeiro-ministro mais jovem do Reino Unido em dois séculos.
Como seu partido não conseguiu as 326 cadeiras para formar a maioria necessária na eleição de 2010, montou o primeiro governo de coalizão desde a Segunda Guerra, unindo-se com o Partido Liberal Democrata. Na eleição de maio de 2015, os conservadores conquistaram 330 cadeiras e Cameron foi confirmado no cargo de primeiro-ministro, agora sem a necessidade de coalizão.
Tudo parecia ir muito bem até o histórico referendo de 23 de junho de 2016 sobre a permanência do Reino Unido na União Européia, o “Brexit”. Cameron apostou todas as suas fichas políticas no lado “Remain” (“permanecer”), acusando os adversários, muitos deles eleitores do seu partido, de xenófobos, isolacionistas e atrasados, gerando um enorme desgaste para sua imagem entre os conservadores. Com a vitória do “Leave” (“sair”) pela apertada margem de 51,89% dos votos, Cameron não tinha mais como exercer a liderança do governo e renunciou.
Para ocupar a principal cadeira do mais antigo parlamento do mundo, emergiu de forma surpreendente a Ministra do Interior de Cameron, a rígida e nada carismática Theresa Mary May, 60 anos, uma apoiadora do “Remain” e, assim como seu predecessor, derrotada no referendo do “Brexit”.
Em menos de um ano no cargo, May resolveu fazer a aposta mais ousada da sua carreira e convocar novas eleições em 18 de abril deste ano. Ela pretende conquistar a legitimidade para conduzir a saída do Reino Unido da UE com mais velocidade, usando a eleição desta quinta para provar que o povo está com ela. A primeira-ministra confiou também na impopularidade de seu principal adversário, o ultra-radical Jeremy Corbyn.
“Temos que ter em mente que expressar uma opinião política [apoiar o ISIS] não é, em si, um crime.”
Jeremy Corbyn
O atual líder do Partido Trabalhista, fundado há um século pela Sociedade Fabiana para representar os socialistas britânicos, é um extremista até para padrões brasileiros. Suas posições são tão controversas que o antecessor Tony Blair declarou que sua escolha para a liderança significaria o fim do partido. Até Paul Krugman, o mais conhecido economista da esquerda americana, declarou que Corbyn é radical demais.
Jeremy Bernard Corbyn, 68 anos, quer estatizar os serviços públicos, ferrovias e estradas, promete dar educação “de graça” para todos, usar toda a alquimia keynesiana de expansão de moeda e crédito, aumentar impostos e desarmar o reino unilateralmente. É um opositor declarado das políticas de austeridade fiscal e quer derrubar qualquer restrição legal para greves. Ele também se declara a favor do fim da monarquia no país, mas reconhece que a popularidade da realeza faz com que a questão não seja prioridade na sua agenda.
Corbyn chegou a ser âncora de um programa na TV estatal do Irã, da qual se sabe que recebeu pelo menos US$ 30 mil por aparições entre 2009 e 2012, o que já deveria bastar para tirar o sono de qualquer ocidental. Numa declaração publicada hoje, Corbyn disse que apoiar o ISIS “não é crime”, é apenas “uma opinião política”.
Ele tem uma relação próxima com o Hamas e com o Hezbollah, já tendo convidado “amigos” de ambos para eventos no parlamento britânico. Corbyn declarou em 2009 que o Hamas é uma “organização dedicada a promover o bem do povo palestino” e a classificação de grupo terrorista, dada pelo governo britânico, é “um enorme erro histórico”. Quando Osama bin Laden foi morto, Corbyn disse na TV iraniana que era uma “tragédia” já que o líder máximo da Al Qaeda deveria ter sido “julgado” e não assassinado.
A vantagem de Theresa May nas pesquisas têm caído constantemente e a eleição de Corbyn para primeiro-ministro britânico, que parecia impossível até poucas semanas, já não é mais descartada. Corbyn têm usado o fato de May ter ocupado o poderoso cargo de Ministra do Interior, responsável pelas políticas de imigração do reino durante todo o governo Cameron (2010-2016), para responsabilizar a primeira-ministra pela insegurança atual do país, anulando em parte suas ligações com os movimentos muçulmanos.
A escolha de Jeremy Corbyn para a cadeira que já foi de Winston Churchill e Margareth Thacher, num momento em que o prefeito de Londres Sadiq Khan, muçulmano de origem paquistanesa e também do Partido Trabalhista, tem levantando dúvidas sobre sua capacidade de conter o terrorismo islâmico na cidade, representa um risco à segurança nacional e à saída do Reino Unido da União Européia.
A assimilação cultural dos islâmicos no Reino Unido não tem sido nada satisfatória, como demonstram várias pesquisas publicadas recentemente. Um levantamento do ano passado revelou que dois terços dos muçulmanos britânicos não denunciariam um conhecido que tivesse ligações ou simpatizasse com movimentos terroristas.
A mesma pesquisa diz que mais da metade deles defende que o homossexualismo seja ilegal no Reino Unido, como acontece em vários países que seguem a Lei da Sharia. Cinco por cento dos entrevistados dizem apoiar apedrejamento de adúlteras. Há uma quantidade nada desprezível de muçulmanos britânicos que querem Londres mais parecida com Riad, Teerã ou Cabul do que imaginam os multiculturalistas.
Depois da escolha de Emmanuel Macron para a presidência da França, uma eleição de Jeremy Corbyn como primeiro-ministro britânico representaria mais um retrocesso histórico no atual choque de civilizações europeu e no combate ao terrorismo islâmico na Inglaterra, vítima de três atentados nos últimos três meses.
Theresa May pagou para ver e pode sair fortalecida do embate, mas até que o resultado das urnas seja conhecido não há motivos para descanso. O Reino Unido, ícone da democracia liberal e berço da revolução industrial que moldou o mundo atual, está literalmente entre a cruz e a espada.
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