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A segunda morte de Isabella Nardoni

“A primeira função de qualquer sociedade é proteger suas crianças.”

Ben Shapiro

A justiça brasileira acaba de autorizar a progressão de pena para regime semiaberto para ninguém menos que Anna Carolina Jatobá, 39. Ela é a madrastra de Isabella Nardoni, morta aos 5 anos ao ser atirada pela janela da casa do pai em 2008. O caso é daqueles em que toda a vileza da ideologização de extrema-esquerda do sistema penal e das leis brasileiras mostra a que veio.

Matar criança no Brasil de forma brutal e hedionda não dá, portanto, dez anos de prisão em regime fechado para o assassino se ele for maior de 18 anos. Se for menor, como você sabe, não dá praticamente nada. Anna Carolina Jatobá é branca e de classe média, não pertence a qualquer grupo de minorias tradicionalmente cafetinadas pelos justiceiros sociais, mas será beneficiada pelas leis criadas sob medida para quem a esquerda realmente gosta e protege: os criminosos.

As discussões sobre segurança pública no Brasil, intoxicadas por um esquerdismo esdrúxulo pós-modernista que, entre outras aberrações, condena o “punitivismo” e fala até em “abolicionismo penal”, estão na raiz do genocídio do seu próprio povo, incluindo as crianças. Um grupo de juízes e promotores de justiça recentemente lançou o Movimento de Combate à Impunidade para alertar a população sobre o papel nada louvável exercido pelo sistema penal, por acadêmicos e pelas leis do país na escalada da violência. É um pequeno passo na direção certa, mas a guerra pela retomada da sanidade e da racionalidade no debate ainda nem começou.

Anna Carolina Jatobá, que tem dois filhos com Alexandre Nardoni, foi condenada a 28 anos e 8 meses pelo assassinato da enteada, mas em menos de 10 anos já pode sair da prisão todos os dias para “trabalhar”, ver suas crianças e usar a penitenciária como hotel gratuito para pernoitar. Ela ainda terá direito aos famigerados indultos nos feriados.

Isabella Nardoni seria hoje uma adolescente de 15 anos, uma vida ainda toda por viver, mas seu assassinato brutal cortou esta história ainda no primeiro capítulo. Já Anna Carolina está sendo autorizada a retomar aos poucos a vida com o marido e os dois filhos. A mãe biológica de Isabella, Ana Carolina Oliveira, declarou que está “chocada, arrasada” com a progressão da pena da assassina da filha que nunca mais poderá ver. A assassina, com o beneplácito da justiça, poderá voltar a conviver com os filhos de 10 e 12 anos.

Enquanto lia esta notícia no celular, ouvi que a rádio BandNews FM anunciava uma série de reportagens sobre a população carcerária feminina do Brasil e das dificuldades das ex-detentas de conseguirem emprego. Num país com 15 milhões de desempregados, problema para arrumar emprego não é privilégio de assassinas ou sequestradoras, mas o jornalismo costuma ter prioridades e agendas bastante singulares. A BandNews FM poderia dar o exemplo entregando a creche da empresa para Anna Carolina Jatobá cuidar. A jornalista que fez a matéria pode testar a idéia com os colegas, fica a sugestão.

A morte de Isabella Nardoni aconteceu um ano depois do assassinato do menino João Hélio, arrastado por sete quilômetros pelas ruas do Rio, aos 6 anos de idade. Os assassinos de João Hélio também são elegíveis para o regime semiaberto e você poderá esbarrar com qualquer um deles a qualquer momento nas ruas.  A lista de criminosos impunes ou soltos após crimes hediondos no Brasil é quase infinita.

O candidato a presidente que tiver uma proposta factível e sensata de combate ao crime e à impunidade tem chances reais de vencer a próxima eleição num país traumatizado pela violência e pela desvalorização quase que total da vida humana em função de uma agenda revolucionária que aposta no caos e na desordem para esgarçar o tecido social até que o caminho esteja aberto para um populista corrupto a autoritário, do tipo que pede a concentração imediata de poderes no executivo em troca do reestabelecimento da ordem, como se vê na Venezuela.

Os três direitos fundamentais e inalienáveis de qualquer indivíduo, mencionados na Declaração de Independência dos EUA, “vida, liberdade e busca da felicidade”, devem ser lidos necessariamente nesta ordem. “Vida” não aparece em primeiro por acaso. A população brasileira está sendo dizimada e o crime, cinicamente permitido.

O Brasil é uma aula diária do que é o “estado da natureza” hobbeseano e de como a mais importante função do estado, na verdade a única, que é a proteção da vida da população, está sendo negligenciada em nome de uma agenda política demoníaca. É um preço alto demais para idéias tão baratas.

Não se engane: o tema político mais importante do Brasil hoje é a segurança pública. Quem entender isso terá grandes chances em 2018.

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