[Olá, pessoal. Esse é mais um guest post que trago para vocês. Quem retorna hoje aqui para escrever para vocês é o Fábio de Faria e Souza Campos, sommleier de cervejas pelo Instituto da Cerveja e proprietário da loja Santo Lúpulo, da cidade de São José do Rio Preto (SP). Ele também tem um blog, o Infobeer, onde escreve sobre cervejas. Fábio já escreveu aqui sobre as famosas Westvleteren e agora fala sobre o mercado de cerveja artesanal americano. Se você também quer fazer um guest post aqui no Bar do Celso, entre em contato por e-mail.]
Entre o fim do Século XIX e início do Século XX, chegaram a existir nos Estados Unidos mais de duas mil cervejarias, a grande maioria distribuindo sua produção em escala local ou regional. Com a aprovação da 18ª Emenda à Constituição daquele país, também conhecida como Lei Seca, e sua entrada em vigor em 17 de janeiro de 1920, todas as cervejarias se viram obrigadas a fechar as portas ou a mudar de ramo.
Durante o período compreendido entre o fim da Lei Seca, em 1933, e o fim da Segunda guerra Mundial, em 1945, a indústria cervejeira norte-americana sofreu uma completa transformação. Um mercado consumidor pouco habituado à cerveja de verdade e que, em grande parte, cresceu consumindo refrigerantes, já não aceitaria o amargor, os sabores e os aromas marcantes da bebida. Além disso, a necessidade de produzir e vender ao menor custo possível, devido à Grande Depressão, obrigou as cervejarias a utilizarem matérias primas como arroz e milho, muito mais baratos que o malte de cevada, e a reduzirem a quantidade de lúpulo na cerveja. O resultado desta equação foi uma bebida pálida com pouco aroma e sabor e um mercado dominado por poucas e grandes cervejarias. No pós-guerra as American Lagers e Light Lagers se espalharam por todo o planeta e varreram diversos estilos regionais do mapa, respondendo hoje por cerca de 95% do mercado mundial.
Por coincidência, o mesmo país, a partir do final da década de 70 e início da década de 80, foi de extrema importância para o renascimento da cerveja artesanal. Por volta de 1980 existiam nos EUA menos de 50 cervejarias, mas este cenário estava prestes a mudar. Em 1979 a produção caseira de cerveja, proibida desde a instituição da Lei Seca, foi finalmente legalizada. A partir de então ocorreu um grande aumento no número de cervejeiros caseiros que, ao invés de planilhas de custos e estratégias de marketing, utilizavam imaginação, habilidade e os melhores insumos para reproduzir estilos europeus e fabricar cervejas que agradassem seus gostos pessoais.
Alguns destes cervejeiros caseiros viram em seu hobby uma oportunidade profissional e, assim, os EUA dos anos 80 testemunharam o nascimento da cerveja artesanal pelas mãos de alguns pioneiros. Essa pequenas empresas apresentavam à população local cervejas muito diferentes daquelas consumidas na época, com mais aromas, sabores e, acima de tudo, personalidade.
Se a década que havia se passado foi marcada pelo pioneirismo de alguns, nos anos 90 o número de microcervejarias disparou, chegando a impressionantes 58% de crescimento em 1995. Por volta daquele ano, os EUA já contavam com mais de 1000 cervejarias em funcionamento. O crescimento na década de 90 continuou durante o início do século XXI. O gráfico abaixo demonstra a evolução do número total de cervejarias nos EUA de 1887 a 2012.
Segundo relatório do Demeter Group Investment Bank, a indústria da cerveja artesanal cresceu cerca de 10% ao ano entre 2007 e 2012. Dados da Brewers Association, associação que representa grande parte das cervejarias artesanais norte-americanas, demonstram que em 2012 funcionaram no país 2.347 microcervejarias. Ainda segundo o órgão, para ser considerada cerveja artesanal, a cervejaria deve ser pequena (produzindo até 6 milhões de barris/ano), independente (com menos de 25% da empresa pertencendo a uma companhia da industria da bebida alcoólica que não seja outra microcervejaria) e tradicional no uso de insumos, ou seja, que não utilize arroz e milho apenas para baratear a produção.
O futuro? Segundo especialistas, este mercado ainda tem muito a crescer. Para provar este ponto de vista, Bart Watson, economista na Brewers Association, utiliza duas comparações: o mercado de vinhos e a Alemanha. Segundo Watson, existem nos EUA mais de 7.000 vinícolas, mesmo esta indústria sendo menor que a da cerveja em dólares e em volume. Ainda segundo o economista, a Alemanha possui cerca de 1.500 cervejarias, apesar de possuir uma população bem menor que a dos EUA. Assim, caso os Estados Unidos tivessem o mesmo número de cervejarias per capita que a Alemanha, possuiria mais de 5.000 delas.
Neste cenário, até mesmo gigantes como AB InBev e MillerCoors, que detêm juntas quase 90% do mercado americano, investem algumas fichas em cervejas super premium como Shock Top e Blue Moon, respectivamente. Tal conduta tem sido condenada pelas microcervejarias e seus representantes, que acusam as grandes do setor de induzirem o consumidor a pensar que estas marcas são artesanais, apesar de pertencerem a grandes corporações.
E não é só no mercado interno que a cerveja artesanal americana vêm fazendo sucesso. Diversas delas são exportadas para vários países do mundo. O consumidor brasileiro de cervejas especiais, inclusive, tem tido cada vez mais oportunidades de conhecer rótulos representativos da nova escola cervejeira. Apenas entre 2012 e 2013, cervejarias como North Coast, Coronado, Speekeasy, Balast Point e Bear Republic passaram a ter diversos de seus rótulos importados para nosso país. Além disso, em junho de 2013 uma comitiva da Brewers Association visitou a Brasil Brau, Feira Internacional de Tecnologia em cerveja que ocorreu em São Paulo.
Além da possibilidade de degustar excelentes cervejas americanas, outra boa notícia para o apreciador brasileiro de cerveja artesanal é que especialistas na área vêem semelhanças entre a realidade atual do nosso país e o início do renascimento da cultura cervejeira nos EUA. Se hoje o Brasil possui cerca de 250 microcervejarias, pode-se dizer que ainda temos um longo caminho pela frente e muito espaço para crescer.
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