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Trump e Coreia do Norte: diplomacia com testosterona

Foto: Nicholas Kamm/AFP (Foto: )

Toda vez que, numa conversa, criticam a atuação do presidente Donald Trump no Twitter eu respondo: prefiro assim, um político dizendo às claras o que pensa – para o bem e para o mal. Especificamente sobre a Coreia do Norte, ninguém na política de hoje negocia e blefa melhor, com mais eficiência e com mais autoridade do que Trump.

Porque o presidente americano inaugurou uma forma completamente diferente de fazer política, os comentaristas estão mais perdidos que cego em tiroteio. Estão desnorteados porque, quando muito, aprenderam a teoria e a prática política de acordo com uma perspectiva que vai sendo superada pelas mudanças tecnológicas, pelas transformações na sociedade e pela entrada de novos atores políticos. E eles se recusam a se atualizar, a admitir a possibilidade de novos eventos e, portanto, a pensar e analisar o problema de uma maneira distinta da que está consolidada.

Numa outra seara, é similar ao que vem acontecendo no Brasil com a Lava Jato. A maneira de pensar e de usar o direito brasileiro com ferramentas novas como a Análise Econômica do Direito vem tendo sucesso contra a impunidade pela força da técnica e da lógica, e dificultando a labuta de famosos advogados de defesa, que ainda estão presos ao século 20.

A Lava Jato conseguiu o que conseguiu, da liberdade e recursos para atuar às descobertas e condenações, porque desenvolve um trabalho em que ninguém tinha conhecimento teórico para imaginar as suas consequências e, assim, barrá-la em seu nascedouro ou neutralizá-la em seu curso. O alto índice de sentenças de Sergio Moro confirmadas por instâncias superiores é um dos dados empíricos desse sucesso. Outro são os malabarismos jurídicos feitos por ministros do STF para atrapalhar a Lava Jato.

A falta de testosterona no mundo intelectual e na política converteu analistas e políticos num bando de maricas agarrados a visões restritas de mundo e da diplomacia que beneficiavam mentes juvenis como a do ditador comunista da Coreia do Norte, Kim Jong-un. Bastou ser confrontado com virilidade que o ditador baixou a guarda. E assim a diplomacia dos bastidores, aquela que não somos dados a conhecer, pôde funcionar.

O encontro entre o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, e o ditador comunista Kim Jong-un já é histórico, mesmo que o sucesso completo ainda dependa da assinatura do acordo de paz entre as duas Coreias que prevê a retirada das armas nucleares da Península Coreana. Mas o aperto de mãos e a possibilidade concreta da conclusão da negociação já é o resultado positivo do enfrentamento público e de bastidores do presidente dos Estados Unidos, que nos primeiros tuítes mais contundentes foi acusado de instigar uma guerra nuclear.

Agora, aqueles que negam a realidade por ideologia ou por “antitrumpismo” têm dito que tudo aconteceu apesar de Trump. Mentira deslavada. E não sou quem digo. Em entrevista à jornalista Christiane Amanpour‏ do canal CNN, que jamais poderá ser acusado de apoiar o governo, a ministra das Relações Exteriores da Coreia do Sul, Kang Kyung-wha, afirmou enfaticamente que foi a determinação de Trump desde o primeiro dia de governo a responsável por tornar possível o encontro.

Velha raposa, o presidente dos Estados Unidos não se deixou levar pelo simbolismo da reunião. Em entrevista coletiva, Trump disse que só continuará negociando se for adiante o acordo de paz. “Os EUA não serão passados para trás. (…) Nós fomos lindamente enganados; ninguém sabia o que estava acontecendo lá. Isso não vai mais acontecer conosco”, prometeu.

Joseph Nye Jr., celebrado teórico das relações internacionais que eu tive o privilégio de conhecer numa palestra na Universidade de Oxford em 2010, criou três interessantes formas de ver a política externa entre diferentes países. Por meio do hard power, um país seria bem-sucedido numa negociação se fizesse pressão militar e econômica. Por meio do soft power, um país seria bem-sucedido numa negociação se usasse seu exemplo, valores, cultura, liderança moral em vez da imposição, da ameaça de agressão. Por meio do smart power, um país seria bem-sucedido numa negociação se combinasse o uso equilibrado de hard e soft power.

O que estamos a presenciar com Donald Trump é o que, baseado nos conceitos de Nye Jr., eu chamo de smart badass power. Essa nova forma de fazer política internacional é caracterizada pela junção não harmônica da hard, soft e smart power combinada com a sagacidade imprevisível – e, portanto, irreproduzível – do presidente dos Estados Unidos e de sua equipe.

Até agora, com resultados variáveis, o smart badass power tem dado certo. E que Deus nos proteja e impeça que dê muito errado.

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