A parte mais assustadora da fala (já assustadora em si mesmo) de Eduardo Bolsonaro (PSL) sobre o possível fechamento do Supremo Tribunal Federal passou despercebida. São cinco palavrinhas que parecem apenas uma introdução à frase seguinte, que foi a que chamou mais atenção. Mas é altamente reveladora.
Eduardo, antes de dizer como se fecha o STF, começa a frase literalmente assim: “O pessoal até brinca lá”. E aí sim vem o trecho que ganhou as manchetes. “Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não precisa nem mandar um jipe, cara. Manda um soldado e um cabo.”
As cinco palavras deixam claro que o discurso não foi um rompante de Eduardo Bolsonaro, como se ele tivesse tido na hora uma ideia para uma “piada” para sua plateia. Não. Ele mesmo diz que é uma “brincadeira” do “pessoal”. Algo que eles haviam comentado entre eles anteriormente.
O tempo da frase é o presente. O “pessoal”, segundo ele, “brinca”. Ação atual e contínua. Algo que se fala repetidas vezes, não algo que se mencionou apenas em uma ocasião. Uma “brincadeira” corrente entre eles. Porque, evidente, qual é a candidatura à Presidência que não brinca sobre como fechar a corte constitucional do país?
Jair Bolsonaro (PSL), pai do autor da frase, passou sete mandatos dizendo barbaridades sobre a democracia: a essa altura é impossível que algum eleitor informado não saiba que ele avisou que fecharia o Congresso no primeiro dia de um eventual mandato. Agora, à beira da Presidência, faz-se de democrata. Há quem acredite, por incrível que pareça.
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Claro que essa crença num “estalo de Vieira” é uma conveniência, mais nada. É impossível achar que um predador de repente se transforme em cordeiro.
Mas o gosto pela ditadura e pela tirania nos Bolsonaro é tamanho que não consegue passar muito tempo sufocado. A “verdade sufocada” vem à tona mesmo que eles não queiram. Porque é do DNA, do nó da madeira. Ou simplesmente porque eles não estão nem aí com a democracia mesmo.
Fato é que a declaração de Eduardo Bolsonaro, em qualquer país que levasse a sério as instituições e o Estado Democrático de Direito seria objeto de repulsa da sociedade. Seria o suficiente para acabar com uma candidatura. Com um grupo político.
Estaria nas manchetes dos jornais, não com o ar leve e condescendente usado neste domingo – bastou o pai de Eduardo dizer que não concordava e todos os jornais brasileiros disseram: “Ah, então, tá”. Como se tudo estivesse resolvido.
Se não tivessem prestado atenção aos sete mandatos de Bolsonaro pai, à sua biografia (que começou com um plano para explodir bombas em quartéis), à sua campanha antidemocrática, bastaria prestar atenção ao vídeo. Às palavras.
Mas a imprensa comercial brasileira fechou com Bolsonaro. E o país segue, de olhos bem abertos, para o abismo.
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