O ex-governador Beto Richa (PSDB) deu nesta quinta-feira a sua primeira entrevista depois de ter sido preso por acusações de desvio de dinheiro público, na semana passada. E inventou um novo modo de se defender das acusações: a amnésia de conveniência.
Richa falou com Wilson Soler, do Bom dia Paraná, logo cedo. Respondeu basicamente sobre todo tipo de acusação, inclusive de seus assessores, já que seu governo inteiro foi preso na semana passada junto com ele.
Quando chegou a hora de responder sobre o áudio mais constrangedor de sua carreira, em que pede a divisão de um “tico-tico” que caiu na conta de um empresário amigo, Beto simplesmente saiu pela tangente. Diz que está esperando a perícia para ver se a voz é dele, para ver se houve edição.
A conversa mostra Beto Richa e Tony Garcia, seu atual delator, em um carro, falando sobre o dinheiro que caiu na conta de Celso Frare. O ex-governador é muito claro ao dizer que, se Tony era o encarregado de cobrar a divisão desse bolo, que “fosse para cima”.
Richa agora diz que as delações não têm credibilidade, dando a entender de novo que Tony Garcia, seu velho amigo, não é confiável. A mesma estratégia que usou com Maurício Fanini, Nelson Leal Júnior, Eduardo Lopes de Souza e todos os outros que o delataram.
Beto tem todo o direito de se defender. Tem o direito, especialmente, de reclamar do modo como sua prisão aconteceu: afinal, ela de fato pareceu desnecessária naquele momento da investigação. Mas os fatos são os fatos.
Mesmo que Tony Garcia tenha realmente um passado complicadíssimo com a Justiça (e Beto sabia disso quando andava com ele para cima e para baixo), os áudios estão ali, assim como as gravações, os depoimentos confirmando boa parte do relatado e as transcrições de conversa em que todos admitem o esquema.
O tico-tico caiu. Beto diz que isso era só um pagamento legal. Ok. E “ir para cima” para obrigar a divisão do butim? Como explicar?