A grande pergunta que fica depois que se ouve a gravação de Deonilson Roldo combinando a licitação da PR-323 é: até onde o governador Beto Richa sabia de tudo? Isso pode determinar não só o futuro eleitoral de Beto como até mesmo sua sorte no processo criminal que está nas mãos do juiz Sergio Moro, na 13.ª Vara Criminal federal de Curitiba.
É impossível saber só pela gravação. Em tese, Beto Richa poderia dizer o que sempre tem dito em todos os escândalos que estouraram em seus governos: ele não sabia, foi pego de surpresa. Deonilson em nenhum momento fala as coisas claramente nesse sentido. Mas há alguns elementos que se deve levar em consideração.
O primeiro deles é a proximidade de Beto com Deonilson. O chefe de Gabinete é sempre uma pessoa de extrema confiança do governante. E, no caso de Deonilson, era mais do que isso: ele era uma espécie de conselheiro-mor de Beto. Os dois trabalharam juntos por anos e confiavam um no outro de olhos fechados.
Segundo, e mais importante. Deonilson poderia ter o poder que fosse dentro do governo. Mas certamente não é o chefe de gabinete que define os rumos das grandes obras do estado. Se conversou com alguém sobre isso dizendo que uma decisão estava tomada, essa decisão certamente veio de cima. Não havia quase ninguém acima dele.
E há um terceiro ponto. Embora Deonilson não fale nada claramente sobre o ponto, seu silêncio em um trecho é revelador. Antes de fechar o negócio, o empresário Pedro Rache pede algumas garantias. Por exemplo, saber se o governador está por dentro de tudo. Veja o trecho:
“Tenho que levar para eles… O governador sabe? Estamos tranquilos? Isso é uma posição clara? Não tem problema com relação com a isso? Sendo isso tudo positivo. Abro uma conversa ainda hoje para poder andar nesse processo.”
Deonilson não responde com todas as letras. Mas ouviu o pedido de garantias. E diz que é para levar o projeto adiante. As garantias estão dadas tacitamente? Com a palavra, o Ministério Público Federal.