B, Ana, bebê
Quando vocês chegarem nas aulas de história do Brasil, mais pra frente, acho que vão ouvir falar de uma coisa chamada Lava Jato. Imagino que ela já vai ter acabado (isso foi uma tentativa do pai de ser engraçado, mas vocês não vão entender a piada: é que olhando daqui, desse passado distante, em 2018, parece que não acaba nunca).
E eu sei o quanto é difícil a gente entender as coisas do passado. Eu me lembro de como fiquei confuso quando li, já mais velho, sobre a confusão antes da posse do Juscelino, só para ficar num caso. Aquilo tudo parece surreal para quem não viveu: um presidente que se mata, outro que é eleito, um terceiro que assume interinamente e tenta impedir a posse mas vira ele mesmo alvo de um golpe e tenta fugir de barco…
O Brasil é confuso. Como diria um grande brasileiro, não é coisa para amadores.
E a Lava Jato, pra vocês, também vai dar essa mesma impressão. Um professor talvez diga que foi a melhor coisa do mundo. Outro, que foi um desastre. E os pais dos amigos de vocês talvez chamem um deles de doutrinador, vá saber…
O pobre do pai de vocês, aqui dos anos dois mil e dez, não tem o menor distanciamento histórico dos fatos. Mas pode dizer o seguinte pra vocês: foi um terremoto.
Começou devagarinho. Lembro quando prenderam um deputado aqui do Paraná, o André Vargas. A gente achou aquilo importante. Não tinha como saber que seria uma mera nota de rodapé…
O ponto é que descobriram, meio que por acaso, fuçando num posto de gasolina, o fio de uma meada que, aparentemente, levava a todo mundo que já tinha ocupado cargo público nesse país. Começou com um delegado. E foi virando uma bola de neve.
O “Dia do Juízo” foi quando prenderam ops donos das empreiteiras – que, a gente sabe, soube sempre, são os donos das obras públicas. Todo mundo sabia que eles metiam a mão, que tinha cartel, que roubavam. Mas, meus filhos, não esqueçam nunca isso: entre saber e provar vai uma diferença imensa.
E prenderam diretores de estatais. E um ia denunciando o outro. Até que fizeram uma lista de quarenta deputados e pessoas investigadas, incluindo senadores e ministros, para serem investigados no STF. E ainda era o começo.
Hoje, enquanto escrevo, um ex-presidente, o Lula, está preso, não muito longe de a gente mora. Quer dizer, é em Curitiba, mas dá uns bons dez quilômetros. Fica perto da casa do juiz que mandou colocar ele na cadeia…
Leia mais: Carta a meus filhos: Afinal, o que foi essa Lava Jato?
E ninguém sabe como vai acabar. Os adversários do Lula também estão na mira? Tem gente que acha que o objetivo era só pegar os partidos de esquerda, impedir o Lula de virar presidente de novo. Tem gente que acha que agora abriram a porteira e vai todo mundo pro mesmo caminho.
Vocês é que me contam como foi o resto da história.
O que a gente sabe é que uma coisa muito diferente está acontecendo. Eu, pessoalmente, acho que tinha uma boa carga de preferência por pegar o pessoal do PT (as investigações nunca recuam para antes dos mandatos do Lula; o processo dele foi curiosamente rápido; as provas são duvidosas).
Mas torço para estar errado. Que o alvo seja mesmo a impunidade. Porque aí sim vocês estariam prestes a ter um país melhor.
Mas, se for mesmo uma ação política, se mais ninguém for preso, se tiver sido só um pretexto para remover da política alguém pela sua ideologia, aí eu tenho pena do país, de mim e de vocês.
Contem aí: como terminou? O que vocês estudam sobre isso?
Fim do ano legislativo dispara corrida por votação de urgências na Câmara
Teólogo pró-Lula sugere que igrejas agradeçam a Deus pelo “livramento do golpe”
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Frases da Semana: “Alexandre de Moraes é um grande parceiro”
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião