A liberação da cura gay é um crime, e um crime grave. De início, alguém poderia achar que é apenas um retrocesso engraçado. Algo como permitir que professores voltassem a usar palmatória em alunos canhotos – aqueles teimosos que insistem em não escrever com a mão direita. É muito pior.
A decisão da Justiça Federal atenta não só contra a ciência – os psicólogos do país, que são quem mais conhece sobre o tema, reconhecem que a cura gay é um absurdo. Não atenta apenas contra a imagem do país: que tipo de ideia uma nação que quer curar as pessoas de seus desejos passará para o mundo? Atenta contra vidas.
O que a sentença liminar permite é que as pessoas entendam a homossexualidade como uma doença. E, portanto, que se veja o homossexual como um doente. Como uma aberração. Como alguém que precisa ser tratado. Curado. Ou então, caso recuse essa generosa ajuda, como alguém que deve ser evitado. Isolado. Quem sabe? Talvez combatido. Talvez morto.
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Não se trata apenas de ignorância científica. Trata-se de uma obsessão, essa sim doentia, pela vida das outras pessoas. É um retrocesso contra o principal avanço obtido pelo século 20: a ideia de que podemos ser diferentes uns dos outros sem que alguém tenha o direito de nos considerar indecentes, piores, execráveis.
Em outros momentos da humanidade, isso seria compreensível. Hoje, depois de séculos de ciência moderna, é um absurdo inaceitável.
Não fosse o resto, o argumento da ação, aceito pelo juiz, é de uma falácia que qualquer estudante mais atento percebe. Não se proibiu jamais que se estude qualquer coisa. O que se proibiu foi tratar a homossexualidade como doença.
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O que o juiz do Distrito Federal acaba de dizer é que tudo bem se considerarmos pessoas como doentes só por não gostarmos de sua orientação sexual. Por acharmos que algo “não é natural”. O que não é natural é essa falta de empatia pelo outro, esse gosto por ver mais gente ser humilhada, espancada e morta por causa do ódio alheio.
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