O secretário de Segurança Pública, Fernando Francischini (SD), tem comemorado publicamente não só os índices de criminalidade no estado que, segundo as estatísticas oficiais, se reduziram desde a posse dele, como também ações específicas da polícia. Prisões de assaltantes, por exemplo. E também confrontos em que a polícia mata criminosos.
Só nesta semana, Francischini comemorou dois casos em que policiais usaram armas e mataram durante confronto. Num dos casos, foram três mortos e um policial ferido (o que até torna patente o confronto, coisa que nem sempre se verifica em histórias do gênero). No outro caso, a polícia teria perseguido dois sujeitos com mandado de prisão. Quando foram alcançados, um teria se rendido e o outro reagido. Foi morto.
Francischini usa os comentários para reclamar também do tipo de comentário que ações polícia geram quando há violência envolvida. Diz que a imprensa entende mal a situação e chama a polícia de truculenta quando, na verdade, está salvando vidas da população.
No post sobre os três mortos, por exemplo, comentou:
“Espero que amanhã a Polícia seja elogiada, pois um dos nossos Policiais Militares colocou sua vida em risco e esta baleado no Hospital e não criticada por suposta truculência contra injustiçados socialmente!!”
É claro que às vezes existem situações em que não resta à polícia outra alternativa. Para evitar a morte de um inocente, por exemplo, precisa atirar. Parece ter sido o caso nessa história em que o policial saiu baleado. Uma família estava amarrada em casa durante o assalto, e corria riscos. Talvez a polícia não tivesse como prender os assaltantes sem causar riscos maiores para os reféns.
Em outras vezes, realmente o sujeito reage a tiros quando é pego. Corre o risco por conta própria, e evidente que o policial tem o direito de se defender. Nesses casos, evidente que seria despropósito fazer o discurso que o secretário questiona. Mas não é esse o ponto.
Francischini pode não concordar, ou pode nem querer aceitar os fatos. Mas nossa polícia realmente mata muito. A comparação com países de primeiro mundo é aterradora. Em 2014, por exemplo, a polícia britânica matou uma pessoa. Isso num país com sessenta milhões de habitantes. Isso significa que a polícia paranaense, só nesses dois posts de Francischini, matou quatro vezes essa quantidade.
Mesmo nos casos em que o confronto é inevitável e em que há mortes que a polícia não teve como evitar, a postura de um agente de segurança não deveria ser a de comemoração. Afinal, a prioridade da polícia não é nem pode ser a de agir violentamente. Por lei, os policias são obrigados a prender criminosos. A morte mesmo de alguém violento deve ser evitada. E, se ocorrer, deveria ser visto como um acidente de percurso, um mal necessário.
Um discurso que se entusiasma com a violência, com as mortes, só joga mais combustível numa situação já tensa. E é preciso lembrar que em muitos casos a ação violenta não só era evitável como ocorre contra a lei. um caso recente, no governo Requião, descobriu-se que um grupo de policiais havia matado cinco pessoas sem necessidade, depois de um assalto. Houve, à época, quem comemorasse mais uma vitória da polícia contra o crime. Depois, descobriu-se que a história era diferente.
Os assaltantes tinham se rendido. E só analisando o GPS da viatura percebeu-se que a história do confronto tinha sido armada pelos policiais. Eles tinham levado os assaltantes no camburão até um matagal no Santa Cândida, onde foram mortos a sangue frio.
Evidentemente, não é isso que o secretário quer. Mas pode não ter percebido que, ao comemorar tão efusivamente as ações quando há mortes, pode estar facilitando esse tipo de comportamento. Ao defender tão irrestritamente ações em que há violência, tentando silenciar de antemão toda a crítica à ação violenta, pode no mínimo estar abrindo brechas perigosas para que casos como esses se repitam.
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