Réu num dos casos mais famosos da história recente de Curitiba, Fernando Carli Filho teria todo o direito de ser julgado em outra cidade. A lei brasileira prevê que isso pode acontecer quando não há clima na cidade que possibilite um julgamento justo. Quando há ódio contra o réu, por exemplo.
Sendo assim, o pedido de desaforamento protocolado pela defesa de Carli até faz sentido juridicamente. O deputado realmente é odiado em Curitiba, por boa parte da população. E ão à toa. O que ele fez é de fato odioso: dirigiu sem carteira, bêbado, em alta velocidade e matou duas pessoas. Simplesmente porque achou que podia.
É bem possível que vários jurados tenham uma concepção prévia sobre o caso. Dificilmente alguém em Curitiba não ouviu falar do ato horroroso do ex-deputado. Dificilmente alguém não sentiu pena daquelas vítimas – pessoas mortas na juventude, sem culpa, por um ato criminoso de alguém agindo de maneira irresponsável.
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Mas o pedido de desaforamento, a essa altura, é uma nova facada nas famílias das vítimas. Porque nitidamente se trata de um modo de a defesa adiar, de novo, o júri. O caso, que aconteceu em maio de 2009, está por completar nove anos: e nada de Carli Filho responder pelo que fez.
Se a defesa achava que era o caso, teve anos – literalmente, anos – para pedir um julgamento fora de Curitiba. Escolheu esperar agora, quando falta menos de um mês para o júri. Por quê? É óbvio: porque até se achar outra comarca, achar agenda etc, tudo terá de ser, mais uma vez, adiado.
E o réu continuará posando sorridente para fotos com políticos enquanto as famílias das vítimas, que já perderam seus filhos, perdem mais uma vez o mero direito de vê-lo julgado.
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