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Alunos “brincam” de gari porque sabem que esse jamais será seu futuro

Gari e atendente de lanchonete: no Marista, só mesmo de brincadeira. (Foto: )

Uma “brincadeira” de colégios gaúchos causou revolta nas redes sociais nesta segunda. Os alunos do terceiro ano do Colégio Marista Champagnat de Porto Alegre e da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo, que se preparam para o vestibular, participaram de um “recreio temático”. O caso de Porto Alegre é de 2015. O de Novo Hamburgo, de agora.

Cada um usou uma fantasia. E o tema era: “Se nada der certo”. Há fotos na internet de alunos vestidos de gari, de atendente do McDonald’s, de faxineira e de cozinheira, entre outras coisas. Todos trabalhos braçais ou mal remunerados que, obviamente, passam longe dos sonhos da garotada que frequenta os colégios particulares gaúchos.

Existem vários motivos para repudiar a iniciativa. A brincadeira menospreza não só as atividades profissionais como as próprias pessoas que trabalham com aquilo. Quer dizer que para as pessoas que trabalham com aquilo nada deu certo? São necessariamente fracassados? Para muita gente, um trabalho no McDonald’s é um sonho; fazer faxina é a diferença entre passar ou não passar fome.

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Mas o que torna a brincadeira de real mau gosto é o fato de que ela só é possível porque os alunos do Marista gaúcho e do IENH sabem que jamais vão precisar passar por esse tipo de situação. Pela condição social exigida de quem paga um colégio desse tipo, estão fadados a ter profissões mais “nobres”.

O Marista, por exemplo, anuncia na Internet suas várias vantagens. Por exemplo, os cursos de formação de liderança; as aulas de imersão em inglês; o turno bilíngue; a possibilidade de intercâmbio com países como Canadá, Inglaterra e Nova Zelândia; as aulas de robótica.

Evidente que tudo isso custa caro. E óbvio que se os pais podem pagar por isso, maravilha. O que fica mal é parecer que a moçada, garantida na vida na maioria das vezes desde o nascimento, está tirando um sarrinho de quem nasceu em berço mais modesto.

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Num país de pouca mobilidade social como o Brasil, quem nasce para Marista jamais vai ser gari; e quem nasce para faxineira muito dificilmente vai ter aulas de robótica e fazer intercâmbio na Nova Zelândia.

Os meninos que se vestiram de atendente de McDonald’s podem ficar sossegados: não correm o risco de encontrar um colega de classe servindo sanduíche no shopping para eles. A tarefa vai continuar cabendo àqueles para quem “nada deu certo”.

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