Esqueça Michel Temer. O atual presidente é não só um anão moral, um sujeito de dimensões ridiculamente pequenas na nossa política. Em algum tempo, terá tanto espaço nas aulas de história quanto qualquer outro presidente passageiro e desimportante, como Café Filho ou Carlos Luz (aliás, envolvidos, cada um de um lado, numa tentativa de golpe contra JK).
Os próprios congressistas sabem que Temer não vale grande coisa, que é apenas um produto das circunstâncias e que não será capaz de fazer qualquer coisa de relevante para o país. Não é um estadista, não é um intelectual, não tem um projeto. É apenas um oportunista que acumulou poder da maneira mais sórdida e que usa-o agora para livrar a si mesmo e aos seus do castigo merecido – e prometido pela Lava Jato.
Esqueça Temer. Ele será esquecido de qualquer forma. O que está em jogo no país no momento é algo muito maior. É se vamos continuar o que começamos, fazendo com que pela primeira vez na história do país nossa elite responda por seus crimes – ou se, pelo contrário, deixaremos que os responsáveis por tudo que existe de mais canalha em nossa vida pública joguem tudo para debaixo do tapete.
Seria muito ingênuo quem não visse (ainda hoje, depois de todas as provas), que a principal motivação do Congresso em cassar Dilma era, de fato, tentar estancar a sangria da Lava Jato. Pegar uma intrusa, que nunca foi parte do grupinho, que entrou no jogo só pela força política de Lula, e jogá-la aos leões da opinião pública. E depois da posse do vice, esse sim um dos inventores do jogo parlamentar sujo que deu origem a mensalões e petrolões, abafar tudo da melhor maneira possível.
Os ataques às investigações vieram de todas as formas possíveis. No Legislativo, acabando com as Dez Medidas contra a Corrupção. E também com a tentativa patética de anistiar o caixa 2. No Ministério Público, nomeando, contra toda a tradição, a segunda mais votada para o cargo de procuradora-geral da República. Na Polícia Federal, diminuindo a equipe de investigação e, agora, vejam só o descaramento, desmontando a força-tarefa que fez tudo o que fez até aqui.
Com ajuda do Judiciário, colocam-se na rua os investigados da fase pós-PT da crise. No STF, nomeia-se o antigo ministro da Justiça, filiado ao PSDB, para julgar tucanos. E articula-se com o TSE a possibilidade de fazer com que o financiamento privado de campanha (que deu origem a tudo isso! Com a Odebrecht! Com a JBS!) volte a ser legal.
Temer existe como “presidente” hoje por um único motivo: para jogar investigações e punições para debaixo do tapete. O outro motivo que tinha, a promessa de reformas, já foi por água abaixo. O que se tem em Brasília neste momento não é um governo: é um mutirão de corruptos. Sua tarefa é pôr fim às investigações que podem acabar com um esquema de décadas. Um esquema que começava com empresários corruptores visitando presidentes na calada da noite e terminava com governadores levando milhões em joias da H. Stern para a esposa.
Derrotar o mandato de Temer é mostrar que não se aceitará que tudo continue sendo como sempre foi. Deixar que os deputados barrem a investigação contra o presidente é um crime contra o país. E ver que há deputados trocando seu voto por verbas e sabe-se lá mais o que numa hora dessas é o mais triste espetáculo que uma democracia pode ver.
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