Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta, na Gazeta do Povo:
O pedaço de asfalto que Rafael Greca tirou com os dedos da Vicente Machado foi o lance mais engraçado da campanha até agora. Especialmente quando acompanhado da frase de que o asfalto não pode ser “como glacê de bolo, que o gordo pega e passa e lambe o dedo”. Mas, além de mostrar a fragilidade da obra, a sequência de imagens mostrou algo mais: como tudo no mundo de nossas autoridades se submete ao cronograma eleitoral por esses dias.
Se o vídeo mostrava o asfalto esfarelando, a foto feita logo depois já mostrava operários a serviço do município trabalhando num remendo de emergência. A emergência, claro, era muito mais eleitoral do que de qualquer outro tipo. Afinal, quantos lugares da cidade têm problemas do mesmo gênero, ou crateras e sabe-se lá mais que outras esquisitices? Mas foi justo lá que o pessoal passou a trabalhar na segunda-feira, após a denúncia do PMDB.
A prefeitura de Curitiba, questionada pela coluna, negou a ligação da obra emergencial com a campanha. A resposta é que já havia uma obra programada para o local e, além disso, é assim mesmo que as coisas acontecem: um cidadão, um motorista de ônibus, qualquer um pode avisar e logo a equipe de plantão será informada. Mas, convenhamos: quando foi a última vez que você ligou para o 156 e a prefeitura apareceu ainda no mesmo dia para fazer o conserto necessário? Quem quiser conferir se funciona assim mesmo que faça o teste por conta própria.
Mas não é só a máquina da prefeitura. O governo do estado também se verga ao calendário da eleição. A secretária estadual de Família e Desenvolvimento Social, Fernanda Richa, abandonou temporariamente o posto e passa o dia pedindo votos. Até foto em cima de caminhão de lixo já fez. Outros secretários tiram férias e o próprio governador Beto Richa (PSDB) cogita se licenciar para fazer campanha por seu amigo Luciano Ducci (PSB), se preciso for.
Na Assembleia, os deputados deram um jeito de inventar um recesso branco, mesmo depois de Valdir Rossoni (PSDB) prometer que não faria isso. Disseram que parariam por uma semana para trocar equipamentos no plenário. A troca foi cancelada (a licitação não acabou), mas mesmo assim eles bateram o pé e conseguiram o que queriam: uma semana sem ter de parar a campanha para ir ao plenário. E agora já se fala em uma “onda” de licenças para que as sessões não “atrapalhem” a campanha.
A Câmara Municipal, então, já adiantou todas as sessões para a manhã, oficialmente, só para que todos possam sair à tarde pedindo votos sem ter de se preocupar com o emprego. Vereadores de todas as cores partidárias aprovam seus nomes de rua pela manhã e à tarde estão liberados para ir às ruas, já devidamente nominadas, tentar garantir mais um mandato.
Tudo fica dependendo da eleição. No entanto, apesar de tudo isso, a única mudança que parece incomodar aos cidadãos é a do horário da novela, para que seja exibido o horário eleitoral gratuito. Se os deputados ganham sem trabalhar, os secretários abandonam o posto e o asfalto de outros lugares cede vez ao da Vicente Machado, não há problema. Basta não mudar o horário em que a Nina irá se vingar da Carminha, ou vice-versa, e tudo estará bem.
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