O relatório da Oxfam mostrando que oito pessoas têm riqueza igual à de 3,6 bilhões de indivíduos é chocante – e ao mesmo tempo não chega a ser uma grande novidade. A concentração de riqueza não só é enorme como tem aumentado em anos recentes.
Pelo relatório (que está disponível na íntegra em português), basta você pegar as fortunas de oito pessoas e será necessário somar tudo o que acumulou ao longo de sua vida a metade mais pobre da humanidade para equilibrar a balança.
Oito pessoas contra 3,6 bilhões é um número impressionante. E não é o único número chocante. Se você pegar as fortunas dos 400 indivíduos mais ricos dos Estados Unidos (quase todos brancos e homens, assim como os oito bilionários da lista da Oxfam), vai descobrir que eles têm mais do que todos os 16 milhões de lares de negros no país.
Leia mais: Desigualdade prejudica até os mais ricos
A Oxfam havia dito recentemente, inclusive, que ao final de 2016, o 1% mais rico do mundo teria, sozinho, mais riquezas do que os demais 99%. Por isso o nome do relatório, “Uma economia para os 99%”.
Para entender bem o que o relatório da Oxfam diz é preciso primeiro entender o que é “riqueza”. Não se está falando de renda – salário, por exemplo, não entra nesta conta. O que entra é aquilo que chamamos de patrimônio – ações, dinheiro em investimentos, imóveis etc. Nemk bens duráveis (como carros) contam aqui.
A maior parte da humanidade sequer tem “riqueza” neste conceito. Quem não tem casa própria vive de salário muito possivelmente apareceria como um “zero” nesta conta da Oxfam, a não ser que tenha dinheiro investido. Aliás, há quem tenha riqueza negativa (dívidas maiores do que o patrimônio).
Leia mais: O risco de achar que os pobres são vagabundos
A concentração de riqueza é muito maior do que a concentração de renda (a maioria das pessoas que não têm patrimônio tem alguma fonte de renda, como um salário, uma aposentadoria ou uma pensão). E é evidente que sempre será assim.
O que o estudo da Oxfam tenta mostrar – por meio do choque do número – é que essa desigualdade não precisaria ser tão profunda. Aliás, já foi menos profunda. Desde os anos 1970, tem crescido significativamente.
O crescimento da desigualdade é o tema do belíssimo estudo de Thomas Piketty, em “O Capital do Século 21”. Lá, ele mostra que o grande problema da desigualdade é que ela sempre tende a crescer quando o crescimento da riqueza é maior do que o crescimento do PIB.
E isso acarreta um aumento permanente e cada vez mais acelerado da desigualdade. Porque quem herda dinheiro pode viver tranquilamente com ais riqueza do que alguém que vem debaixo jamais poderá sonhar em ter.
A solução, segundo Piketty, não seria acabar com o capitalismo nem nada semelhante, e sim instituir impostos que façam com que viver de renda e repassar heranças sejam algo menos pernicioso do que hoje – em termos de desigualdade, não há dúvida de que isso seja maléfico.
Ou seja: seria preciso cobrar mais imposto sobre heranças e sobre grandes riquezas, além de ter um controle mais sério sobra riqueza escondida, como dinheiro colocado em contas numeradas na Suíça, por exemplo.
Na verdade, segundo muita gente, o que põe o capitalismo em risco não são soluções como essa, e sim o excesso de desigualdade, que ameaça levar até mesmo a crises e rupturas, com revoluções à vista.
Na época da Primeira Guerra Mundial, quando havia uma concentração parecida com a de hoje, o que se fez, por exemplo, foi diminuir a rentabilidade de títulos de governo e instituir o Imposto de Renda progressivo.
Nada que hoje pareça radical. Mas um conjunto de soluções que ajudou a diminuir a concentração de riquezas por um século, antes de voltarmos a um abismo como o atual.
Siga o blog no Twitter.
Curta a página do Caixa Zero no Facebook.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
Otan diz que uso de míssil experimental russo não vai dissuadir apoio à Ucrânia
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião