Todo mundo lembra. Em 2016, corria o impeachment de Dilma. Quando eleitores dela reclamavam da parcialidade, da falta de provas, do fato de outros que cometem e cometeram coisas piores estavam piores, se dizia: “Primeiro a gente tira a Dilma, e depois os outros”.
Tiraram a Dilma. Veio o Temer. E logo Temer foi pego com bem mais provas em coisas bem piores. Seu assessor mais próximo foi filmado recebendo uma mala com meio milhão de reais. Mas ninguém foi para a rua. Ninguém protestou. E o Congresso se sentiu à vontade para manter o presidente, apesar dos sérios indícios de corrupção, no cargo que jamais deveria ter sido dele.
Ou seja. Aprendemos que primeiro a gente tirou a Dilma. E depois ficou por isso mesmo. Há razões para crer que o governo Temer seja mais corrupto do que qualquer outro recente. Veja-se a mala de Rocha Loures, vejam-se as malas de Geddel. Vejam-se as acusações de compra do impeachment e de compra da permanência de Temer no poder.
E Lula?
O caso de Lula é parecido. Primeiro a gente prende o Lula, e depois… Depois o quê? Estamos vendo o mesmo Supremo que permitiu a prisão do ex-presidente andar a passos de tartaruga em todos os demais processos da Lava Jato. Aécio foi pego numa situação horrorosa, e está lá, tranquilão. E o inquérito não anda.
Esses dias, saiu uma notícia de que 11 anos depois pautaram o julgamento de Azeredo, tido como o mentor do mensalão do PSDB. O mensalão tucano ocorreu antes do petista. Dirceu já foi condenado, saiu da cadeia, voltou, saiu de novo… e o tucano ainda nem foi julgado.
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As prescrições em casos de outros partidos vêm em série. Um dia depois do julgamento de Lula, descobriu-se que mais um caso de corrupção contra Serra prescreveu. Já virou piada: o único recurso que salva um petista da prisão é filiar-se ao PSDB.
Indignação
Claro que há petistas radicais que não se conformam com nada que se diga ou faça contra Lula – simplesmente por se tratar dele. Mas há uma outra indignação, mais justa, que é a de ver a seletividade das punições. Está bem claro a essa altura que só interessa punir um grupo de políticos. Aos inimigos, a lei. Aos amigos, a prescrição.
A prisão de Lula, assim, não chega a ser um alívio para quem quer o verdadeiro fim da impunidade. Fica parecendo apenas um caso de ódio seletivo por um tipo de liderança. A exceção, e não a regra.
Muita gente, nesta semana, está soltando foguetes. Deve haver gente achando de fato que isso significa um passo rumo a um país melhor. Torçamos para que estejam certos. Para os pessimistas que ouviram o áudio de Jucá e acompanham o noticiário com um mínimo de distanciamento, a impressão é bem outra.
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