A política brasileira é pródiga em momentos surreais. Nesta semana, o show de horrores ficou por conta de certos setores da direita. Encafifados com um vídeo de Gleisi Hoffmann para a Al-Jazeera, senadores se juntaram a militantes virtuais e criaram uma teoria da conspiração sem pé nem cabeça.
Gleisi, presidente do PT, gravou seu vídeo para a Al-Jazeera, uma espécie de CNN do mundo árabe. No vídeo, denunciava a prisão de Lula e supostos desmandos do Judiciário e do atual governo brasileiro, a que classifica de golpista. Nada que já não tenha feito antes.
Você pode não concordar com Gleisi, claro. Pode achar que ela está completamente errada. Isso faz parte da democracia: assim como ela critica Sergio Moro, você pode criticar Gleisi. Mas a reação foi assustadora.
Imediatamente, os militantes virtuais do MBL e de outros congêneres começaram a reação, dizendo que a senadora atentava contra a Lei de Segurança Nacional, criada no período da ditadura. Estaria instigando governos árabes a interferirem no Brasil.
Leia mais: Gleisi pediu ajuda a terroristas? Não
Evidente que Gleisi não estava falando para governos. Seria como imaginar que alguém grava um vídeo para a CNN para tentar falar com Donald Trump. Ou que se faz uma mensagem para a Globo para passar a Michel Temer um recado sobre uma conspiração secreta.
O MBL foi mais longe. Em seu Jornalivre, a “nova direita” lançou mão de um dos expedientes mais velhos (e mais covardes) do panfletarismo. Fez uma acusação dizendo que nem acredita muito nela, mas que, sabe como é, esses malucos podem tudo…
“Além disso, esse chamado também pode ser uma cifra. Há quem diga que Gleisi está mesmo é convocando terroristas muçulmanos de forma indireta. Não é de se duvidar.”
No plenário do Senado, José Medeiros deu o tom ao debate. Disse que se acontecer um atentado terrorista no Brasil a culpa será de Gleisi, por ter pedido ajuda aos árabes. O senador Lindbergh, nem sempre um exemplo de sensatez, tentou interrompê-lo, falando que era uma ignorância confundir “árabe” com “muçulmano” e com “terrorista”. Mas Medeiros foi em frente e deixou transparecer todo o seu racismo.
O MBL vibrou e disse que o senador do Podemos “mandou a real” sobre Gleisi.
Ana Amélia, uma “progressista” gaúcha, foi no embalo. Acabou virando piada, como se tivesse confundido Al-Jazeera com Al-Qaeda. (O que deu motivo para a Internet dizer que ela não ouve Al-Cione nem come Al-Fajor.)
Não se trata de um episódio ridículo, apenas. É uma mostra de até onde se pode ir na fúria contra um partido. Ou, por outro lado, é uma demonstração de quanto esse pessoal que se diz o “novo” é na verdade a mais acabada repetição do que sempre se viu como símbolo do atraso: xenofobia, racismo, preconceito e uso de mentiras deslavadas em nome de um projeto de poder.
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