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Plebiscito do “Sul é meu país” surfa na onda catalã, mas casos são totalmente diferentes

Diz a frase de H.L.Mencken que para todo problema complexo existe uma solução óbvia, simples e absolutamente errada. O separatismo é uma ideia desse tipo: sempre que aparece um problema nacional alguém pensa “E que tal se nós separássemos só o nosso pedacinho, não seria tudo mais fácil?”

Em alguns casos, o separatismo tem uma base histórica – o que equivale a dizer “tem algum sentido”. São povos diferentes morando sob o mesmo teto apenas por razões impostas externamente. Falam línguas diferentes, têm religiões diferentes, são etnicamente distintos, seu passado pouco tem em comum.

Na África, por exemplo, onde as fronteiras foram muitas vezes impostas na marra por europeus que viviam a milhares de quilômetros, por mera conveniência, vários movimentos do gênero podem fazer sentido. O mesmo vale para povos conquistados à força por potências maiores, como os países engolidos pela Rússia ao longo dos séculos.

O caso recente mais importante talvez seja o da Iugoslávia: várias nações que, apesar de suas diferenças, foram reunidas sob uma bandeira apenas por questões circunstanciais ao fim de um conflito. Fazia sentido que cada um seguisse seu caminho.

Catalunha

O caso da Catalunha é menos evidente do que vários desses. Está, digamos, numa situação limítrofes. A Catalunha tem um passado remoto separado da Espanha, mas há séculos faz parte da mesma nação. Mesmo assim, a separação anterior foi suficiente para que os catalães tivessem um idioma, uma cultura e instituições próprias.

Separatismo catalão: milhões de adeptos e uma história em comum.

A Espanha é toda formada assim, por territórios menores que, no fim da Idade Média e começo da Idade Moderna, foram se unindo por interesses de famílias nobres, na era de formação dos grandes Estados europeus. Agora, num contexto absolutamente diferente, e tendo em vista problemas que pouco têm a ver com essa formação, os catalães aproveitam sua origem distinta para tentar criar uma nação à parte.

O grande erro do governo espanhol, encabeçado por Mariano Rajoy, foi não saber lidar com o movimento independentista. O que terminou em confrontos graves que, agora sim, mais do que nunca, deram combustível a um discurso separatista – como se a Espanha odiasse a Catalunha, e não se tratasse apenas de um governo incompetente.

E o Sul?

No caso do Brasil, a situação é completamente diferente. O Sul não tem um idioma próprio. Não professa outra religião. Tem uma composição étnica miscigenada (e nisso não é diferente do resto do Brasil) composta basicamente por europeus (principalmente portugueses), negros e índios (e nisso é idêntico às demais regiões).

As proporções são diferentes, mas nunca foi disso que tratou nenhum separatismo válido. E aqui houve, assim como em São Paulo, mas migrantes europeus no século 19 (o que dá ao movimento um nem tão leve odor racista).

Os defensores do separatismo tentam resgatar um passado distante, como se se tratasse de falarmos tupi (!?) e homenagear caciques que lutaram pelo estabelecimento da fronteira com os espanhóis. Isso não só não faz parte do imaginário coletivo da região como é desbancado por qualquer historiador sério em cinco minutos de conversa.

Separatismo sulista: corrupção virou tema, mas fundo é fortemente racial.

Tentam ainda evocar questões pontuais de história (como a luta por menos impostos que levou à Farroupilha e a tentativa de diminuir o poder central que levou à Revolta Federalista) para formar uma falsa corrente histórica de fatos. Como se tudo mostrasse um desejo secular e coletivo da população dos três estados de se autogovernar.

Isso não é verdadeiro. As manifestações pelo separatismo catalão levam milhões às ruas. O movimento basco foi ainda mais radical (o basco é um idioma tão estranho que nem tem origem no indoeuropeu – ISSO é uma origem diferente).

Por aqui, o que parece haver é um grupo que acredita numa solução simplista e perigosa: perigosa pelo tom dificilmente disfarçável de racismo que carrega contra as demais regiões do país.

Ilegalidade

A única similaridade gritante com o caso espanhol é a ilegalidade. Lá, como cá, o plebiscito vai contra a Constituição. Porém, numa situação como a catalã, onde uma população inteira, com laços internos fortes e uma história em comum realmente deseja muito mudar os fatos, até há motivo para discutir. Aqui, não.

Como no Brasil o número de pessoas envolvido é muito menor e não há qualquer comoção popular com o tema, o melhor é mesmo ignorar. Não votar. Não criminalizar. Não criar discursos de mártir. Deixar que eles propaguem 100% de votos pró-Sul. Que seja.

Não vale nada mesmo. É um mero grito perdido na História, sem lastro e sem futuro.

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