Em xadrez, os melhores jogadores conseguem enxergar vários movimentos adiante. Em política, também. Tanto em um caso quanto no outro, o que o jogador faz de melhor é silenciar sobre isso. No tabuleiro, seria ridículo o sujeito ficar pensando em voz alta sobre o que pretende fazer. Na política, José Serra fez exatamente isso.
Em entrevista ao Estadão nesta segunda-feira, Serra disse literalmente o seguinte, quando questionado sobre a possibilidade de o PSDB fazer parte de um futuro e suposto governo de Michel Temer. “O PSDB será chamado.” Para, em seguida, emendar que é obrigação do partido, e de todos os partidos, aceitar o convite.
Depois recobrou os sentidos e negou que vá ser ministro, ou melhor: que isso já esteja acertado. A própria reportagem do Estadão, porém, sem citar de onde vem a informação, diz que o tucano está ajudando Serra a abrir caminho para formar seu governo e seu ministério.
Seja ato falho ou não, Serra deu como certo o governo de Temer: ou seja, acredita que o impeachment sai. Até aí, tudo bem, pode ser mera aposta de quem vê o cenário e o analisa. A certeza com que ele afirma que o PSDB “será” chamado para o governo, porém, denota algo diferente. Esse é o tipo de afirmação que nenhum político experiente faz sem combinar com os russos. Os russos, no caso, chamam-se Temer.
Com tudo isso, Serra só ajudou a deixar mais claro do que nunca que Temer age sim nos bastidores pelo impeachment de Dilma. Coisa que ele jurou que não faria. Alguém lembra quando perguntaram sobre isso e ele jurou que não passaria à História como oportunista porque não conspirava contra a presidente?
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