Naqueles dias, quando o país se encontrava à beira de uma calamidade, com a eleição de um falso Messias, o escriba, chorando, sentou-se e atribuiu a cada um as suas culpas, e as suas retribuições:
– Ai de ti, Luiz Inácio, que deixaste corromper o teu governo, tirando do povo a esperança em ti e nos iguais a ti. Ai da tua soberba, que te cegou e te impediu de ver que não podias tudo, que te fez lançar um fraco sucessor para ser odiado como tu hoje és.
– Ai dos opositores democráticos de teu governo, igualmente corrompidos com malas de dinheiro, que tiraram do país o restante de sua crença.
– Ai dos donos dos partidos, que se recusaram a ouvir o povo e se fecharam em salas regadas a vinhos caros, a ambrosia e a néctar, e achando-se deuses, pensaram que nada de mal lhes podia ocorrer – até que chegou a tempestade.
– Ai dos que vendo o perigo se recusaram a recuar e se unir contra ele, e que em nome da vaidade se recusaram a retirar suas candidaturas para salvar a nação.
– Ai da imprensa, dos jornais, das tevês, dos escribas, que para agradar a massa ignara se recusaram a denunciar o monstro que surgia, que lucraram com ele e se deixaram assim corromper.
– Ai dos novos fariseus, que se preocupam tanto com a liturgia, com as regras e com a tradição, e tão pouco com a vida humana que será devorada pelo monstro que se aproxima.
– Ai dos evangélicos, dos conservadores religiosos, que se deixaram enganar por falsos riscos, quando o que ronda o futuro de nossas crianças é algo bem pior, quando o que nos cerca não é a disputa entre o que é macho e o que é fêmea, e sim entre o que é humano e o que não é.
– Ai dos que difamaram os intelectuais, imputando-lhes falsos crimes, falsas intenções, e tiraram o peso da palavra dos sábios, deixando aos gritos da multidão sedenta de sangue a última palavra.
– Ai dos que se acovardaram ao ver surgir o falso Messias, mas principalmente dos que vendo sua aproximação se uniram a ele em troca do sonho do ganho fácil e de habitar os palácios.
– Ai dos que calaram voluntariamente, pois agora serão calados contra sua vontade.
Sobre vós recairão as dores deste mundo. Sobre vós, os vossos pecados, e a eles ainda serão acrescentados os daquele que levastes ao poder.
Recairão sobre vós as dores das mães que perderem seus filhos torturados e jogados em valas. Pois foi isso o que aconteceu com os que caíram nas mãos dos heróis do falso Messias.
Sobre vossos ombros pesarão cada tiro e cada morte dados pela polícia contra inocentes. Pois o falso Messias já se pronunciou dizendo que não importarão as mortes de inocentes.
Sobre vossas cabeças recairá a dor das mulheres humilhadas, dos gays que apanharem, dos negros ofendidos, do estrangeiro que devíeis receber.
Respondereis por todos os crimes do falso Messias. Por terdes ignorado sua corrupção. Por terdes mentido sobre sua idoneidade. Por terdes sido coniventes com ele.
Vosso nome estará na história como parte da geração que enterrou os sonhos de uma nação. E que entregou a seus filhos um país pior do que o herdado de seus pais.