Três anos atrás, um novo grupo de deputados estaduais começava a cumprir seus mandatos na Assembleia Legislativa do Paraná. No entanto, já nos primeiros dias de trabalho, tiveram que entrar na sessão escondidos e sob proteção policial.
Ao invés de usar a cancela para passar com seus carros, precisaram chegar em um carro do choque, uma espécie de ônibus, que passou por um corte feito na grade em cima da hora. Manifestantes tentaram impedir que eles entrassem. Um chegou a se atirar debaixo do pneu do ônibus.
O episódio marcaria os 33 deputados que aceitaram fazer a ridícula viagem como a “bancada do camburão”. O apelido servia para dizer que eles topavam tudo para ficar de bem com o governo. Inclusive enfrentar a fúria do funcionalismo público.
O episódio do camburão seria apenas o início do choque entre a base de Beto Richa e os professores da rede pública. O ápice da crise aconteceria dois meses depois, no 29 de abril, com 213 pessoas sendo feridas em frente à Assembleia enquanto os deputados aprovavam a reforma desejada por Beto Richa.
O governo saiu do episódio com a imagem abaladíssima, a base de sustentação diminuída, críticas mais do que merecidas vindas do mundo todo, e com o ódio justo dos trabalhadores do funcionalismo público. Mas o plano funcionou: o governo também saiu com bilhões na mão.
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Tudo o que Beto Richa queria era dinheiro. Dinheiro para ajustar as finanças do estado que ele mesmo havia quebrado em seu primeiro mandato – apesar do discurso, à beira da reeleição, de que tudo ia muitíssimo bem.
No começo parecia que a bancada do camburão pagaria um preço alto demais por ter topado essa aventura. Deputados foram cercados em suas bases, execrados publicamente, perseguidos. Os sindicatos marcavam protestos diante de suas casas, eles mal podiam andar pelas ruas.
“Eles não têm ideia do que fizeram com a carreira política. Principalmente esses mais novos”, dizia à época um deputado mais experiente, que ao ver o tamanho do pepino saltou rapidinho para o bote da oposição – logo fazia fotos em meio à multidão de manifestantes.
No entanto, hoje, três anos depois, a situação parece ter mudado completamente. Os deputados da base de Richa inauguram pequenas obras e distribuem dinheiro loucamente, como se não houvesse amanhã. E apagam a memória do confronto com a população na base de ambulâncias, trechos de asfalto e promessas de muito dinheiro.
Não só não estão mais sitiados como passaram a ser invejados. Três deputados que não estavam na base pediram para voltar. Os filhos pródigos viram que precisam de um dinheirinho estatal para a sua reeleição. Tem para todos.
O grande teste da sabedoria eleitoral de quem aderiu ao plano maquiavélico de Richa será em outubro. Mas, hoje, tudo indica que quem apostou em afrontar os professores se saiu muito bem; melhor do que se imaginava. Entrar no camburão, quem diria, valeu a pena.
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