Assim que vieram à tona as notícias sobre uma briga dentro do shopping Palladium, no Portão, em Curitiba, começaram novamente as discussões sobre a possibilidade (e a conveniência) de se barrar pessoas em espaços como esse. Nas redes sociais, o horror de sempre: xingamentos, baixo calão e soluções radicais. Mas, convenhamos: existe um problema.
Uma vendedora escreveu a sua versão no Facebook:
“Eu trabalho no Palladium e nao foi uma simples briga de gangue, foi arrastão mesmo. E o pior de tudo é que depois do tumulto alguns continuaram andando pelo shopping fazendo bagunça, gritando… E nós trancados dentro da loja, trabalho em uma loja que vende roupa para criança e os pais falavam que nunca mais iriam lá por medo de acontecer novamente… Isso é um absurdo…”
Parece mesmo ter sido assustador. No caso do Palladium, a história é antiga. Desde que o shopping abriu, começaram a haver boatos sobre pessoas sendo barradas na entrada. A frequência de gente de bairros mais pobres é grande porque o shopping fica mais perto da zona sul e da zona oeste da cidade (com bairros pobres como Tatuquara e Cidade Industrial) do que outros do gênero.
Logo no início do funcionamento do shopping um grupo de pessoas foi barrado. Houve a discussão sobre o critério, sobre possíveis preconceitos. Depois, o caso sumiu por um tempo. Recentemente, quando um garoto foi barrado, voltaram as notícias. O shopping disse que o critério era específico para aquele caso: o rapaz já tinha se envolvido em incidentes dentro do ambiente.
Agora, o que se passou foi uma briga dentro do shopping. Muita gente disse que “é isso que dá” reclamar quando barram alguém. Como se a solução fosse estabelecer um critério mais rigoroso na entrada de espaços comerciais. Isso criaria um belo problema: qual pode ser esse critério? Evidentemente não poderia ser algo genérico, como renda ou vestuário. Não se pode punir todos pelo ato de alguns.
Mas é isso que parece que se pede.
“Show de pobres, desqualificados, que quase sempre, não tem nem se quer, R$ 1,50 para pagar a passagem de ônibus e então. furam os tubos, invadem os coletivos, e com a cara de pau e de pobre, vão para lugares refinados, incompatíveis com seus comportamentos, fazer arruaça e promover vandalismo”, disse um no Facebook.
“Já passou da hora do Shopping proibir a entrada desse tipo de gente,e quem achar ruim que leve pra casa !!“, escreveu outro.
É claro que quem brigou, cometeu vandalismo ou tumultuou tem que enfrentar as consequências. O shopping tem todo o direito de barrar as pessoas que se excederam e, dependendo da situação, tem a obrigação de chamar a polícia. Quem trabalha no shopping ou passeia por ali não pode ficar exposto a crimes.
Mas, como diz a socióloga Simone Meucci, da UFPR, não há “insígnias” visíveis e claras para saber quem é arruaceiro. Mesmo as roupas padronizadas que muitos jovens gostam de usar não quer dizer que todos vão ter o mesmo tipo de comportamento.
“A ‘estética’ do vileiro permeia também jovens de classe média. possivelmente o critério será cor, alvura dos dentes, textura das mãos. o mulato pobre será facilmente identificado como vileiro. tudo isso oculta preconceito racial e de classe (que se interseccionam no caso em questão). no entanto, essa é uma percepção das classes médias que não necessariamente será identificada pelas classes pobres. as percepções são nítidas e serão alvo de disputa. as insígnias são sutis, mas são e serão operacionalizadas”, diz a professora.
Querer punir todas as pessoas de uma classe social, de uma região ou imaginar que todos os jovens que se vestem de uma mesma maneira são todos baderneiros é uma generalização perigosa que só tende a piorar a criação de “guetos” que já existem na cidade.
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