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O Dorminhoco: o bizarro sci-fi de Woody Allen

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No início dos anos 1970, Woody Allen era ainda um ilustre desconhecido. Tinha lá seus fãs e já era abordado na rua, apesar de estar anos-luz à distância da imagem do diretor de cinema prolífico tratado como patrimônio histórico-cultural de Nova York. Por isso mesmo, seus primeiros filmes, despretensiosos e preocupados apenas em fazer rir, são uma boa pedida a qualquer hora, principalmente para quem conhece somente as fases mais “cabeça” do diretor, com filmes como Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977), Crimes e Pecados (Crimes and Misdemeanors, 1989) e Ponto Final – Match Point (Match Point, 2005).

Woody, num estilo descabelado e trapalhão.

O Dorminhoco (Sleeper, 1973) foi o quarto filme escrito e dirigido por Woody – tirando a brincadeira com dublagem em O que Há, Tigresa? (What’s Up, Tiger Lily,1966). Repleto de gags visuais e emulando em muito a comédia pastelão do cinema mudo, O Dorminhoco é considerado uma das produções mais divertidas desta fase inicial do diretor, que deita e rola na pele de um ingênuo músico de jazz que é congelado durante uma cirurgia e volta à vida 200 anos depois.

A graça não está somente na figura do despenteado ator e diretor, mas também nas dezenas de piadas e referências feitas a uma tecnologia que evoluiu, mas continua falha e controversa. Há referências aos robôs domésticos, capazes de limpar a casa e cozinhar o almoço – algumas das sequências mais divertidas são aquelas em que Woody se disfarça de um destes robôs –, a uma cabine apelidada de “orgasmatron”, que substitui o ato sexual e ao “orb”, um globo prateado que desperta sensações de euforia apenas com um simples toque.

“Quando terminei de escrever O Dorminhoco, notei que um dos temas recorrentes no filme é que a tecnologia avançada não funciona: no futuro, um sujeito dá um tiro e a arma explode; eu entro numa cozinha futurista e ela quebra. No meio do processo de escrita, sem planejar, eu comecei a inventar piadas engraçadas sobre tecnologia”, disse o diretor ao jornalista Eric Lax durante uma entrevista após o lançamento do filme, em junho de 1974.

Em resumo, a história gira em torno de um movimento anarquista que quer utilizar o recém-descongelado músico como um espião para desestabilizar o onipresente regime político em vigor – o personagem veio do passado e, portanto, é o único cidadão que não consta nas bases de dados oficiais. Logo, Woody passa a ser perseguido pelas autoridades e se envolve em missões secretas que incluem até sequestrar o nariz (!!) do líder do regime.

Woody travestido de robô e uma jovem (e bela) Diane Keaton: dupla afinada.

Há algumas sequências surrealistas e tão “sem-noção” que só poderiam vir mesmo da cabeça inquieta do diretor. Em certo momento, o protagonista é “programado” pelo sistema para ser um cidadão comum e, após ser resgatado pelos rebeldes, passa por uma desprogramação a fim de ser lembrado da sua vida pregressa. Seus companheiros improvisam um teatro e fazem os papéis dos pais judeus de Woody. Momentos depois, passam a representar os atores Vivian Leigh e Marlon Brando em uma cena de Uma Rua Chamada Pecado.  Total nonsense, mas funciona bem na tela.

O Dorminhoco foi a primeira parceria de Woody Allen com Diane Keaton e, de imediato, a química entre os dois surge como uma das atrações do filme – tanto que a dupla seria retomada em várias outras produções do diretor, com destaque para o já citado Noivo Neurótico, Noiva Nervosa. Apesar de exagerado em alguns momentos, principalmente para quem se acostumou com o tom mais sóbrio dos filmes recentes, O Dorminhoco vale como diversão descompromissada e é uma prova de que, para fazer comédia, não é preciso recorrer necessariamente à escatologia, como ocorre em 8 a cada 10 produções do gênero.

Confira abaixo uma seleção de algumas das melhores cenas do filme, feita por um cinéfilo empolgado no You Tube.

 

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É fã de Woody Allen? Leia aqui outro post já feito sobre o diretor no blog! E deixe também sua avaliação sobre O Dorminhoco!

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