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Sessão HQ: o Batman de Nolan e a expectativa, a maior inimiga do cinéfilo
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Além do cinema, tenho uma paixão antiga que faço questão de manter até hoje: as histórias em quadrinhos. Como muita gente por aí, comecei com a Turma da Mônica, passei para Tio Patinhas e Cia. e acabei chegando enfim às HQs dos chamados super-heróis. Mesmo antes de aprender a ler, já colecionava gibis, folheando maravilhado aquelas páginas e tentando entender o que estava se passando.

A minha mãe, coitada, já passou maus bocados comigo quando, lá pelo meus seis a sete anos, fazia certo estardalhaço ao passar por uma banca de revistas. Uma vez ameaçou me jogar num buraco de obras, caso eu não desistisse da ideia de coagi-la a passar alguns cheques para comprar gibis, já que ela alegava estar sem dinheiro. Ameaça boba de mãe, claro. Quero crer eu que nunca corri o risco real de ir parar numa trincheira de lama.

Dito isto, e considerando as dezenas de adaptações de histórias em quadrinhos que pipocam no cinema há anos, vou aproveitar para falar aqui no blog sobre HQs e cinema, todas as segundas-feiras. A ideia é relembrar alguns destes filmes e convidar, como de praxe, os leitores do blog a apresentarem suas considerações. Vale lembrar que as histórias em quadrinhos não se resumem a super-heróis e, apesar do sucesso recente de blockbusters como Os Vingadores (The Avengers, 2012), há muita coisa bem bacana que já acabou indo parar no cinema e foge do círculo Batman, Superman, X-Men e derivados. Como Sin City – A Cidade do Pecado (Sin City, 2005), Marcas da Violência (A History of Violence, 2005) e Estrada para Perdição (Road to Perdition, 2002), por exemplo. Afinal, já passou do tempo que HQs eram tratadas como “coisa de criança”. Assim, não necessariamente adaptações para o cinema precisam ser “diversão para toda a família”. É ou não é?

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(atenção: o texto abaixo está recheado de SPOILERS! Se você não viu o filme ainda, melhor passar por aqui outra hora)

Este fim de semana, aproveitei os últimos momentos do domingo para rever, dessa vez na TV, o fim da trilogia de Cristopher Nolan sobre o Batman – este, sem dúvida um dos meus personagens preferidos das HQs, ao lado do infame John Constantine. Talvez por isso eu tenha criado tanta expectativa e feito questão de acompanhar, nos meses que se antecederam ao lançamento do filme, cada notícia, teaser e boato referente à produção.

Quem é fanático por determinada franquia ou personagem dos cinemas sabe o perigo que isso representa. Afinal, quanto maior a expectativa, maior pode ser a decepção. Antes mesmo de sentarmos nas poltronas do cinema, já temos imagens e avaliações pré-concebidas sobre o filme. Estamos torcendo para que ele atenda a essas nossas altas expectativas e seja, no mínimo, épico. Inesquecível. Não queremos nada menos do que o filme do ano.

Não deu outra. Quando saí da sessão de The Dark Knight Rises, estava aturdido. Sim, o filme era épico, mas muito diferente do que eu imaginava. A trilogia que elevou o nível das adaptações de super-heróis no cinema estava enfim concluída, com um desfecho à altura. Mas algo não batia. Aquele era um Batman diferente do que eu havia me acostumado a acompanhar nos quadrinhos. Diferente até daquele que tinha visto nos dois filmes anteriores.

Divulgação.
Christian Bale… o Bruce Wayne que nos fez esquecer de George Clooney, Val Kilmer e Michael Keaton.

O problema era que eu esperava um Batman mais “urbano”, digno de enfrentar a escória criminosa nas ruas, combatendo o crime a socos e pontapés. O mesmo Batman que eu gosto de ver e ler nos quadrinhos. Não havia cogitado uma cidade sitiada, a ameaça de uma bomba nuclear, fábulas sobre ressurgir, abraçar o medo da morte, inspirar o mundo por meio de um símbolo maior do que si mesmo, todas essas discussões e dilemas existenciais que Nolan trouxe à sua releitura do universo dos Cavaleiros das Trevas.

Panos de fundo que são bem-vindos, claro. Ninguém quer ver um embate típico entre o vilão que quer dominar o mundo e o mocinho altruísta que pretende impedir o cara malvado a tempo de beijar a mocinha ao fim do dia. Nolan talvez apenas tenha levado a sério demais a intenção de transformar seu desfecho em um épico, no sentido mais literal da palavra.

Não me decepcionei com The Dark Knight Rises, longe disso. Apenas fui obrigado a reconhecer que o filme tem alguns equívocos – assim como vários acertos. O desenrolar arrastado, o final ambíguo, a menção desnecessária ao Robin, a surpresa sobre a verdadeira identidade do vilão, que não surpreende ninguém (a não ser o próprio Batman). E a certa facilidade com que, após escapar da prisão, o maltrapilho Bruce Wayne atravessa meio-mundo sem um tostão no bolso para, na cena seguinte, surgir incólume nas sombras de Gotham City.

Lembro que, quase ao fim do filme, fiquei estupefato e maravilhado quando, num ato de sacrifício sem precedentes, Batman morre para salvar Gotham City e impedir que todo seu trabalho até então tenha sido em vão. Quase não acreditei. “E não é que mataram o Batman mesmo? Aí está um modo muito f@#$ de terminar a trilogia”, pensei na hora. O filme tinha atingido um novo significado para mim. Mas aí, segundos depois, descobrimos que Bruce Wayne saiu são e salvo. Foi pra Europa, enfim curtir a vida, bem acompanhado. Não bastasse, passa o bastão para o dedicado detetive Blake que, olhem só!, na verdade se chama Robin.

Divulgação.
Batman x Bane: quem diria que uma saga como “A Queda do Morcego” acabaria respingando no cinema?

Todos esses apontamentos são aquelas observações chatas de fã, como dá pra perceber de cara. Todo cinéfilo é meio torcedor de futebol. Se julga no direito de dar pitaco sobre a escalação dos filmes e acredita que poderia ensinar ao técnico/diretor como vencer o jogo. Faz parte. Ainda mais quando temos uma ligação afetiva com a história ou com os personagens.

Neste fim de semana, ao rever The Dark Knight Rises dessa vez sem esperar nada de sensacional e já sabendo o desenrolar da trama, acabei me divertindo mais e saindo mais satisfeito de quando abandonei a sala de cinema, quase um ano atrás. Pude reconhecer que, de fato, a trilogia como um todo pode ser considerada um marco não só pelos roteiros competentes e dramáticos, mas também pelos vilões emblemáticos — gostem ou não, o Coringa de Heath Leadger já pode ir para o lado de Darth Vader no panteão de personagens memoráveis do cinema — e, principalmente, por ter mostrado a todos nós e aos executivos de Hollywood que adaptações de histórias em quadrinhos podem, sim, render filmes sérios, adultos e, ainda por cima, que respeitam a mitologia dos personagens.

Prova de que essa mocinha traiçoeira, chamada expectativa, deve mesmo ficar do lado de fora da sessão de cinema, pra não corrermos o risco de envelhecermos como cinéfilos ranzinzas. Por isso mesmo que estou evitando fazer qualquer pré-avaliação sobre Man of Steel, o retorno de Superman às telas, sob a batuta de Zack Snyder e, claro… Cristopher Nolan. O filme chega aos cinemas em julho deste ano. Até lá, vou acompanhar o herói nos quadrinhos só. E torcer simplesmente para que todos nós possamos sair surpreendidos da sessão.

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E você, o que achou do desfecho da trilogia criada por Nolan para o Cavaleiro das Trevas? Qual é seu filme preferido dos três?

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