Já comentei aqui no blog como a expectativa pode frustrar muitos cinéfilos, ainda mais quando se trata de conhecer filmes baseados em obras e personagens bem conhecidos. E, neste sentido, o inverso também pode ajudar. Quem nunca entrou no cinema sem ao menos conhecer a sinopse da produção que iria assistir e saiu de lá encantado? De fato, é muito mais fácil nos surpreendermos quando não nutrimos qualquer expectativa em relação a um filme, uma pessoa ou uma situação.
Foi o que aconteceu comigo – e acredito, com muitos outros espectadores – com a estreia neste fim de semana de Wolverine – Imortal (The Wolverine), a mais recente aventura nos cinemas do mutante mais querido dos quadrinhos. É simplesmente a sexta vez que Hugh Jackman encarna o personagem nas telas, contando a breve, mas inspirada, aparição em X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011). E, para a surpresa geral do público e dos críticos, Wolverine – Imortal é um bom filme, mesmo para quem não curte ou acompanha quadrinhos.
A surpresa vem da péssima recepção que o filme solo anterior do mutante, X-Men Origens: Wolverine (X-Men Origins: Wolverine, 2009), teve junto aos fãs. A produção foi bem nas bilheterias, mas hoje é execrada, seja por problemas no roteiro, nas atuações ou no tom geral do filme, chamado até de “pastiche mutante”. Há quem inclusive acredite que o novo filme não tenha tido uma arrecadação tão vultuosa nas bilheterias – até o momento foram US$ 141 milhões mundiais, abaixo da produção anterior – por conta do “pé atrás” de muita gente quanto a X-Men Origens: Wolverine.
Não à toa, os produtores decidiram construir a nova aventura como uma história independente, que nem sequer menciona ou leva em consideração os eventos retratados no outro filme solo do mutante. Desta vez, o esqueleto da trama é o arco de quadrinhos “Eu, Wolverine”, de Chris Claremont e Frank Miller. Digo esqueleto porque, como de praxe, há várias interpretações e conduções diferentes quanto à história original. Os fãs xiitas vão reclamar, mas quem não conhece a HQ (ou não leva tão a sério as adequações hollywoodianas) vai sair satisfeito.
Wolverine – Imortal funciona em grande parte como um bom filme de ação, com cenas de luta elaboradas e uma ambientação acertada – o filme se passa no Japão e remete, mesmo sustentando muitos estereótipos, às tradições e comportamentos dos habitantes do país. Não fossem as garras do herói e alguns personagens pitorescos que aparecem volta e meia, poderíamos assistir à clássica história do forasteiro (seja um detetive, policial, ex-condenado, agente da CIA, etc) que cai de paraquedas em um ambiente estranho e, contra sua vontade, precisa proteger alguém de organizações criminosas enquanto se vê à volta com uma conspiração. Aí, sobram perseguições, socos, chutes, tiros e mortes, além de uma inevitável aproximação íntima com a vítima que o herói acompanha. Já vimos esta história antes, não? E quantas vezes.
O interessante é que, mesmo com os clichês, a trama funciona em Wolverine – Imortal, intercalando boas cenas de ação com o gradual desenvolvimento dos personagens. A aproximação entre Logan e Mariko Yashida (a linda e competente atriz Tao Okamoto) não soa forçada e ajuda a humanizar o personagem mutante e torná-lo mais palatável. Uma boa surpresa também é a personagem Yukio (vivida por Rila Fukushima), que, apesar de garantir algumas risadas nas cenas com Wolverine, não fica reduzida à alívio cômico do filme – longe disto.
A preocupação com o caráter e anseios dos personagens pode ser um dos resultados da direção de James Mangold, que, até então, tinha pouca experiência com filmes de ação – quando ele foi escalado para o filme, houve uma preocupação geral dos fãs quanto a isso. Mangold é um diretor de filmografia enxuta, responsável por dramas como Johnny & June (Walk the Line, 2005), Garota, Interrompida (Girl, Interrupted, 1999) e Cop Land (1997), sobre o qual já falei aqui no blog.
Ao fim, Wolverine – Imortal é um filme que, se toma várias liberdades criativas em relação ao mutante e a trama original, pelo menos faz isso de forma consistente, em um filme sério (na medida do possível) e divertido, que foge dos excessos comuns às adaptações de histórias em quadrinhos. Enquanto Homem de Ferro 3 (Iron Man 3) soa como uma festiva comédia de aventura (me desculpem a sinceridade) e O Homem de Aço (Man of Steel, 2013) se leva a sério demais, Wolverine – Imortal surge como um bem-vindo meio-termo, sem carregar o peso de ter de arrecadar bilhões para o estúdio.
Ah, e antes que esqueça. Após o fim do filme, aguarde um pouco. Depois de alguns créditos, surge a tão falada cena que faz um link direto com a nova aventura dos X-Men no cinema, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (X-Men: Days of a Future Past), que estreia em julho de 2014 e terá, novamente, Hugh Jackman e seu Wolverine no elenco.
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Já assistiu a Wolverine – Imortal? Qual sua avaliação do filme e a sua expectativa para a nova aventura da equipe de mutantes no cinema? Comente aqui no blog!
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