Já falei em outro post aqui no blog que tenho um certo apreço pelo diretor mexicano Robert Rodriguez e seus filmes “despretensiosos”. Assim como seu amigo próximo e parceiro em alguns títulos, Quentin Tarantino, Rodriguez entrega exatamente o que seu público quer e gosta: filmes trash, mas cheios de estilo e repletos de arroubos visuais. E que são, principalmente, divertidos. A Balada do Pistoleiro (Desperado, 1995) nunca será tão dramático e complexo como um Rastros de Ódio (The Searchers, 1956), mas pode ser tão intenso quanto, se estivermos no humor certo na hora de dar o play.
Chegará o dia em que Robert Rodriguez será considerado um cineasta cult, usufruindo do mesmo sucesso de público e crítica de Tarantino? Ainda é cedo pra dizer. E talvez nem seja essa sua intenção – ainda mais se considerarmos sua leva de estrambóticos filmes infantojuvenis, como a série Pequenos Espiões e A Pedra Mágica (Shorts, 2009). Rodriguez não parece preocupado em agradar aos críticos e intelectuais ou “amadurecer” seu trabalho. Oscar? Besteira.
Agora, isso não quer dizer que seus filmes não podem, com o tempo, assumir a aura de cults. E se há algum que já está com um bom caminho andado nessa direção é o sanguinolento Um Drink no Inferno (From Dusk Till Dawn, 1996). É justamente aqui que a parceria Rodriguez – Tarantino atinge seu ápice, reunindo os excessos e maneirismos que marcam o trabalho dos dois diretores.
Além de escrever o roteiro, Tarantino também nos oferece aquela que é sua atuação mais insana no cinema, como Richard, um dos irmãos Gecko, dupla de assaltantes que deixa um rastro de morte e destruição enquanto tenta se refugiar no México. O outro irmão? Ninguém menos do que George Clooney, em um papel pouco convencional na sua longa carreira de bom moço no cinema. A dupla é uma espécie desajustada de Mickey e Mallory — o violento casal homicida de Assassinos por Natureza (Natural Born Killers,1994). Seth (vivido por Clooney) é o irmão “bom”, paternal, que tenta manter o caos sob controle. Richard é o irmão “mau”, um estuprador perturbado que, com frequência, bota tudo a perder.
A química entre os dois atores é um dos pontos altos da produção, que, em sua primeira parte, segue o ritmo mais “convencional” dos filmes policiais de perseguição, com a dupla se apresentando como anti-heróis caçados por uma polícia raivosa. No caminho dos irmãos, surge uma família disfuncional, que é feita de refém (o que não deixa de ser um velho clichê do gênero): um pastor que perdeu a fé após a morte da esposa, e seus dois filhos. Harvey Keitel faz o papel do pai de família, enquanto Juliette Lewis é a filha que vira objeto de desejo do lunático Richard.
Os irmãos Gecko, então, aproveitam o trailer da família para seguirem até uma boate no meio do nada, onde precisarão esperar por um indivíduo que, ao amanhecer, levará os criminosos em segurança para longe da polícia. A tal boate é uma espécie de club de strip-tease frequentado por motoqueiros e todo o tipo de gente mal encarada — o que rende bons momentos e diálogos típicos de Tarantino, com o pastor e a família ambientando-se ao lugar e tentando, sem sucesso, resistir ao carisma dos dois assaltantes.
É neste trecho da trama que o filme dá uma virada total, deixa de ter a marca de Tarantino e se aproxima mais do universo de Robert Rodriguez (para o bem e para o mal). O refúgio do grupo, na verdade, é um antro usado como matadouro por vampiros (??!!) ou qualquer coisa semelhante. O visual dos monstros é trash total, chegando a ser constrangedor em alguns momentos. Apesar da sanguinolência e da urgência dos personagens em tentar sobreviver ao ataque, a entrada de outros “heróis” coadjuvantes — como o infame Sex Machine — e as mortes absurdas dão um tom de comédia pastelão à obra. Ao mesmo tempo que é difícil não rir, também é muito mais difícil levar a sério o filme.
É curioso pensar que Um Drink no Inferno poderia de fato ser um filme mais dramático, caso mantivesse o ritmo e o tom de sua parte inicial, focando na difícil interação entre a família feita refém e os irmãos Gecko, e guardando as cenas de ação para o confronto dos criminosos com a polícia. Mas, convenhamos, já vimos isso antes em várias outras histórias. O “faroeste vampiresco” de Robert Rodriguez se diferencia — e fica na memória — justamente por revirar essas convenções do gênero, sem medo, mais uma vez, de soar ridículo. E a isso podemos acrescentar os diálogos afiados, a edição virtuosa, a trilha sonora esperta e atuações inspiradas do elenco principal. Assistir a Clooney e Tarantino atuando juntos e lançando xingamentos um para o outro em meio a um tiroteio já vale o filme. Isso que eu nem falei da dança sensual de Salma Hayek…
Confira abaixo a seleção feita pelo blog de algumas das melhoras (ou mais insanas) cenas de Um Drink no Inferno:
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Já assistiu a Um Drink no Inferno? Qual sua opinião sobre o filme? Para você, o “faroeste vampiresco” de Robert Rodriguez tem potencial pra ser cult ou será sempre trash mesmo?
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