Um dos partidos mais emblemáticos da Nova República é, até o momento, a grande força de um governo que implodiu a lógica partidária construída pela Nova República. A 40 dias da posse de Jair Bolsonaro, o DEM é a única legenda com filiados confirmados no futuro ministério. Deputados da sigla vão comandar Casa Civil (Onyx Lorenzoni), Saúde (Luiz Henrique Mandetta) e Agricultura (Tereza Cristina Dias).
Os demais 12 nomes escolhidos até a manhã desta quarta-feira (21) para o primeiro escalão (incluindo aí estatais como a Petrobras) não são políticos de carreira, nem possuem vínculo partidário. Não há gente do PSL, partido do presidente eleito, que fez a segunda maior bancada da Câmara. A propósito: o DEM não esteve na coligação de Bolsonaro, mas na de Geraldo Alckmin (PSDB), o candidato que mais se dedicou a desconstruir a imagem do capitão ao longo do primeiro turno da eleição presidencial.
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Mas, dentre tantas legendas de olho em nacos de poder espalhados pela Esplanada, quais são os motivos para a unção do DEM? E, lá no fundo, será que o partido está mesmo sendo propositalmente ungido? A resposta para essas questões ajuda a elucidar o método de tomada das decisões políticas de Bolsonaro, um segredo não revelado durante a campanha.
Futuro ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) (e a figura mais ouvida e respeitada por Bolsonaro em seu núcleo duro), o general Augusto Heleno disse nesta quarta que a opção pelo trio do DEM é “mera circunstância”. A lógica do preenchimento de ministérios, segundo o militar, é escolher “por bancada e não por partido”. Fora Onyx, que é da cota pessoal de Bolsonaro, Teresa Cristina foi indicação da bancada ruralista e Mandetta, da Frente Parlamentar da Saúde.
O xadrez dessas escolhas mostra que, após 28 anos ininterruptos de mandato parlamentar, Bolsonaro aprendeu a interpretar os humores do Congresso. E que está disposto a mudar as regras do jogo em função disso. Na nova cartilha, está absorvido que os partidos são relevantes, mas muito menos que os interesses setoriais dos parlamentares.
O PT, maior bancada da Câmara, elegeu 58 deputados. O PSL, 52. Somados, eles não são nem metade dos mais de 230 representantes da bancada ruralista.
Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e os petistas Lula e Dilma Rousseff colocaram tanta carga sobre o presidencialismo de coalizão (padrão absoluto de relação entre Executivo e Legislativo durante a Nova República) que os pneus do sistema arriaram. Lula chegou a ter ministros de dez partidos diferentes em seu ministério (PT, PSB, PCdoB, PV, PDT, PTB, PMDB, PP, PR, PRB e PDT).
Dilma teve representantes de nove. Para aplacar a fome dos aliados, montou um primeiro escalão com um recorde de 39 pastas. Acabou devorada pelo monstro que alimentou.
Bolsonaro alterou a lógica e dá sinais de que está construindo um novo presidencialismo de coalizão, com menos carga e motor que teoricamente consome menos gasolina. Ainda assim, a opção pelo DEM não pode ser vista como coincidência.
Descendente da Arena, partido de sustentação do regime militar, fruto de uma costela do PDS e ainda lembrado pelo antigo nome, PFL, o DEM é um sobrevivente do lulopetismo. Em setembro de 2010, Lula falou publicamente em extirpá-lo. Em 2011, uma ala significativa do partido resolveu fundar o PSD e aderiu ao governo Dilma.
Em uma década, o DEM quase morreu de inanição, mas foi saindo aos poucos do estado vegetativo até cair no leito do Centrão de Eduardo Cunha. Cassado e preso, Cunha foi morar na mesma cidade que Lula. O DEM juntou parte do espólio de ambos e acabou na segunda posição da atual linha sucessória presidencial, com a eleição de Rodrigo Maia para a presidência da Câmara.
Pós-petismo e com um cenário francamente favorável à centro-direita, o DEM renasce como condutor das bancadas setoriais às quais se abrigou para sobreviver. Empresta expertise a Bolsonaro, dono de um partido ocupado às pressas pelo time do presidente eleito. Não à toa, virou a elite da “nova ordem” bolsonarista.
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