O sufixo “ismo” é usado para casos de políticos que se transformam, por luz própria, numa corrente político-ideológica. É algo normalmente de caráter populista (sem juízo de valor sobre o termo), à esquerda e à direita. Tivemos florianismo, getulismo, lacerdismo, lulismo e, neste momento, acompanhamos a gênese do bolsonarismo.
Jair Bolsonaro é muito maior que o Partido Social Liberal (PSL), pelo qual se elegeu presidente. Nunca escondeu que só entrou na legenda por uma questão de necessidade legal – não à toa, abraçou durante a campanha o lema “meu partido é o Brasil”. Meses antes de migrar para o PSL, havia acertado a filiação ao Patriota (antigo Partido Ecológico Nacional) e só não consumou a negociação por problemas com o cacique da legenda, Adilson Barroso.
Barroso era o político brasileiro que tinha, sabe-se lá como, o maior número de seguidores no Facebook em fevereiro de 2018. Ficou famoso por dar bom dia a alface na rede social e pela busca incessante por um candidato a presidente para chamar de seu. Não deu com Bolsonaro, acabou com Cabo Daciolo.
O presidente do PSL, Luciano Bivar, é um tipo de Barroso que não cumprimenta vegetais, mas com ambições nas alturas. Após lotear o partido para o movimento Livres, desfez o acordo, fechou com o clã Bolsonaro e viu o seu partido saltar de uma mísera cadeira na Câmara dos Deputados para 52. Como brinde, o “17” virou gente grande nos fundos partidário e eleitoral.
Ex-cartola do Sport Recife e ex-presidenciável nanico, Bivar saiu do comando do partido durante a campanha e cedeu o cargo para Gustavo Bebianno, atual secretário-geral da Presidência, e homem de confiança de Bolsonaro. Elegeu-se deputado federal por Pernambuco, voltou para o antigo cargo partidário e, agora, começa a ver seus esqueletos se remexendo no armário.
A três dias da eleição de 2018, o grupo de Bivar liberou o repasse de R$ 400 mil do PSL para Maria de Lourdes Paixão – mais do que foi repassado durante toda campanha para Bolsonaro, segundo apuração da Folha de S. Paulo. Candidata a deputada federal, a senhora de 68 anos recebeu 274 votos e, obviamente, não se elegeu. A história é redondinha como uma laranja.
O que Bolsonaro tem a ver com isso? Provavelmente muito pouca coisa – ele convalescia de uma facada à época e tinha muito mais coisa com que se preocupar do que financiamento para a eleição parlamentar pernambucana. Mas, goste-se ou não, cada escândalo do PSL é um escândalo que pode ser colado ao presidente.
Vai continuar assim até que se saiba o que Bolsonaro quer da vida partidária. Ele vai constituir uma casa própria ou vai viver do aluguel de Bivar para sempre? Brasileiros não ligam para partido, porém, a construção de um legado político para Bolsonaro precisa de certa organização.
O PSL raiz é um partido de dono, que difere muito pouco de outros partidos fisiológicos. Explodiu involuntariamente como berço de nomes antissistema. Ou o caos põe ordem no partido ou partido vai continuar caótico como a velha política.
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