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Requião não é a Costa Rica

J. Freitas/Ag. Senado

Ouvi dizer em Brasília que seria mais fácil a Costa Rica passar pelo grupo da morte na Copa do Mundo que Roberto Requião vencer a convenção estadual do PMDB. Eis que os Ticos se classificaram às oitavas-de-final com uma rodada de antecedência e o senador será candidato a governador do Paraná. Mas não seja ingênuo: apenas o desempenho dos costarriquenhos pode ser considerado uma enorme zebra.

Nas últimas seis eleições para governador do Paraná, Requião só não participou das duas em que esteve legalmente impedido de se reeleger (1994 e 2010). Nas quatro que disputou, ganhou três (1990, 2002 e 2006). Perdeu apenas em 1998 para Jaime Lerner – aliás, a única derrota em uma carreira com oito mandatos disputados desde 1982.

Requião é, inegavelmente, uma máquina de fazer campanhas. Ao longo de tantas disputas, ele passou por todo tipo de situação. Foi azarão em 1990, contra José Richa (PSDB) e José Carlos Martinez (PRN), e em 2002, contra Alvaro Dias (PSDB).

Por outro lado, era favoritíssimo em 2006 e por 10 mil votos não foi desbancado por Osmar Dias (PDT). No último pleito, em 2010, quase não conseguiu a segunda cadeira para o Senado. Após dois mandatos seguidos no Palácio Iguaçu, fez só 24,84% dos votos válidos contra 23,1% de Gustavo Fruet (então no PSDB).

Qualquer análise história ou estatística comprova que eleição com Requião tem emoção. A dúvida é saber se ele vai acrescentar qualidade ao debate ou apenas posicionar-se como o jogador de sempre. Com o senador, não há meio termo, a disputa sempre se transforma em um vale-tudo.

Em 1990, desconstruiu a imagem de José Richa mostrando o acúmulo de aposentadorias do tucano. Chegou ao segundo turno e derrubou Martinez, candidato amparado pelo então presidente Fernando Collor, com o caso Ferreirinha. Em 2014, ele entra no confronto como ex-governador beneficiado pela obesa aposentadoria de R$ 26.589,68 mensais (e sabe-se lá como vai explicar a situação).

Olhando o lado meio cheio do copo, a vantagem da candidatura do peemedebista é romper a polarização entre Beto Richa (PSDB) e Gleisi Hoffmann (PT). A dupla se encaminhava para um debate monotemático sobre uma suposta perseguição do governo federal à gestão tucana. O “coitadismo” transformaria a campanha em algo, além de chato, improdutivo.

Agora a discussão será inevitavelmente local. Requião e Beto vão precisar comparar feitos administrativos. Gleisi terá de apresentar o que tem condições de fazer diferente dos dois.

A propósito, vale lembrar que Beto venceu no primeiro turno em 2010 justamente porque se posicionou como candidato da mudança, que acabaria com a era de bravatas instalada ao longo dos dois mandatos de Requião. Três anos e meio depois, o clima institucional melhorou, a economia paranaense é a que mais cresce no país, o governo bate recordes de arrecadação, mas o estado sofre para manter as contas em dia e conseguiu diminuir a proporção dos investimentos em relação à receita.

Nesse cenário, o certo é que nenhuma das três opções entra na disputa como zebra. E que Beto, apesar do favoritismo de quem está com a máquina na mão, precisa tomar cuidado para não dar uma de Espanha ou Inglaterra. O primeiro turno no Paraná será em ritmo de grupo da morte.

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