Balneário Camboriú há tempos atrai turistas paranaenses. Parte deles, com alto poder aquisitivo, desce em busca de imóveis luxuosos, uma marca daquela orla litorânea, localizada no Norte de Santa Catarina. E o que isso tem a ver com escândalos de corrupção no Paraná? A considerar recentes investigações – da Operação Quadro Negro à Operação Integração -, Camboriú vez ou outra é citada. Imóveis adquiridos na cidade litorânea, suspeitam as autoridades, podem ter sido comprados com dinheiro ilícito.
Dois delatores já admitiram o crime. Eduardo Lopes de Souza, dono da Valor Construtora e réu da Operação Quadro Negro, comprou um apartamento na Avenida Atlântica, em meados de 2013. Foi avaliado em R$ 5 milhões pelas autoridades que apreenderam o imóvel, no final de 2015, em uma das fases da investigação. Meses depois, o empresário resolveu delatar o esquema de desvio de dinheiro público, destinado a reformas e construções de escolas do Paraná, e explicou como fez para comprar o apartamento: “O apartamento de Balneário Camboriú eu comprei financiado em 2012. Dei um sinal de R$ 50 mil e estava pagando o restante aos poucos. Em 2014, época em que entrou a maioria dos recursos do esquema na Seed [Secretaria da Educação], eu acelerei os pagamentos, mas não cheguei a quitar”.
Perto daquele apartamento do delator da Operação Quadro Negro, e ainda na Avenida Atlântica, o ex-diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) Nelson Leal Júnior também adquiriu um imóvel no final de 2013 com dinheiro ilícito. Parte da propina que recebia através de concessionárias de pedágio, confessou o engenheiro civil, foi usada para pagar boletos do apartamento que comprou no Edifício Dom Alfonso – avaliado pelos investigadores em mais de R$ 2,5 milhões. O dinheiro também pagou móveis e aluguel de iates.
A delação de Nelson Leal Júnior abasteceu fartamente ao menos duas investigações da Polícia Federal do Paraná – a Operação Integração e a Operação Piloto. Ele também contribuiu com a apuração ligada à Operação Rádio Patrulha, tocada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público do Estado do Paraná.
Família Richa
No âmbito da Operação Integração, Nelson Leal Júnior foi quem também informou aos investigadores sobre a suspeita de lavagem de dinheiro envolvendo imóveis da família Richa em Camboriú. O empresário Elias Abdo Filho e o ex-secretário de Infraestrutura e Logística Pepe Richa, irmão do ex-governador do Paraná e candidato ao Senado Beto Richa (PSDB), são proprietários de um imóvel de mais de 35 mil metros quadrados no bairro Barra Sul, como atesta o 2º Registro Imobiliário de Balneário Camboriú. De acordo com o ex-DER (o órgão é vinculado à pasta de Infraestrutura e Logística), empresas de Abdo Filho recebiam recursos de concessionárias de pedágio para repassar a agentes públicos e políticos.
Um dos vendedores do imóvel em Barra Sul, Walgenor Teixeira, afirmou à Polícia Federal que recebeu R$ 500.000,00 em espécie, embrulhados em um jornal, e entregues diretamente por Pepe Richa. O irmão de Beto Richa e também Abdo Filho estão presos, na esteira da segunda fase da Operação Integração, deflagrada na quarta-feira (26). Naquela data, a defesa de Pepe Richa distribuiu uma nota à imprensa, na qual informa que o ex-secretário está colaborando com a investigação e “confia que sua inocência restará provada na conclusão do processo”. O blog De Brasília não conseguiu localizar a defesa de Abdo Filho.
Fernanda Richa, esposa de Beto Richa e ex-secretária de Desenvolvimento Social, também está sendo investigada por lavagem de dinheiro, no bojo da Operação Rádio Patrulha. De acordo com o delator Tony Garcia, empresário e ex-deputado estadual, um imóvel de Fernanda Richa, localizado em Camboriú, e estimado em R$ 800 mil, teria sido incluído em uma negociação suspeita. Para adquirir um andar inteiro de um prédio comercial localizado no bairro Centro Cívico, em Curitiba, no valor de R$ 2,5 milhões, o contador Dirceu Pupo, que é responsável pela administração dos negócios da família de Fernanda Richa desde a época do Bamerindus, teria dado, além do apartamento em Camboriú, mais R$ 1,7 milhão “em espécie”. “Em dinheiro, em dinheiro”, reforçou Tony Garcia aos investigadores do Gaeco.
“Essa sistemática de aquisição de imóveis de valores distintos através de simples permuta, omitindo dos registros formais os pagamentos realizados em dinheiro, em quantias consideráveis, não parece ter sido isolada por parte da família Richa”, anotou o Gaeco. Mas Fernanda Richa e Dirceu Pupo negam terem cometido qualquer crime. Em depoimento ao Gaeco, a ex-primeira-dama disse que Dirceu Pupo tinha autonomia para realizar negócios imobiliários e que confia totalmente no contador. “Tudo que nós fazemos é por transferência bancária, registrada”, disse ela aos investigadores.