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Affonso e Valente…(XLV)
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AFFONSO E VALENTE

“Voe livre e feliz além de aniversários e através do sempre. Haveremos de nos encontrar outra vez, sempre que desejarmos, no meio da única comemoração que não pode jamais termimar” (Richard Bach)

Conversando com meu filho…

“16 de março de 2002

Filho, depois da reação que teve da vacina preferi te levar ao pediatra.
O Dr. Waldner tem consultório a menos de uma quadra da casa da sua avó e, para qualquer emergência, ele mora no mesmo prédio que ela.
Facilidades de cidade pequena, tudo de bom.

Ele te examinou, te pesou e mediu…
Você não vai acreditar!
Engordou 540g, ou seja já pesa 6,640kg e mede 60 cm!!
Onde é que você vai parar seu “chumbinho”?

Eu também melhorei bastante. Claro, com tantas visitas queridas, quem é que não se sente melhor??
Ah! Como é bom estar na nossa terrinha querida. Com tanta gente nos paparicando, deste jeito nem dá vontade de voltar para Curitiba.
Seu pai está com saudades e logo, logo estaremos em casa.

Mas filho, quero te contar sobre seu primo…
Affonso, na maturidade dos seus 4 anos, estava todo atencioso com a gente.
Toda vez que pensava em tocar você, olhava para as mãozinhas para saber se estavam limpas e, se não estavam, saia pedir ajuda para alguém lavá-las e voltava correndo para perto de nós.
Ele ficava te fazendo carinho e dizia em voz baixa: “- Oi Antonio.”
Ficou assim, batendo papo com você, bem melozinho. Uma graça.

Eu fiquei com vontade de dar umas mordidas nele de tão fofo, mas não quis atrapalhar a prosa de vocês.
Ele e eu adorávamos brincar de rolar no chão.
Sua tia Ana dizia que eu o deixava agitado de tanta festa que nós dois fazíamos quando nos encontrávamos…Mais eu do que ele, não é?

O tempo passa muito rápido, filho, e daqui a pouco ele estará um mocinho e eu nem terei tempo de vê-lo crescer.
Mas é a vida seguindo seu curso. Cada um no seu caminho.

Depois vou arrumar nossas coisas, nosso voo é amanhã às 13 horas e não quero deixar para fazer isto correndo.

Viajar de avião nos faz perceber o quanto somos frágeis e pequenos aos olhos de Deus.
Lá do alto até as preocupações ficam minúsculas diante da imensidão do Universo.
Não podemos esquecer que estamos aqui de passagem e temos muito aprendizado pela frente.
Que o bom Deus nos abençoe, filho.

Agora vamos curtir mais a família, porque, como eu disse, o tempo “avoa”!”

Lições que aprendi…

Querido Affonso,
você está lindo aos 14 anos. O tempo passou e de verdade não o vi crescer.

Vejo-o poucas vezes quando vou à Londrina e entendo que a fase é de se autodescobrir, ficar com amigos e namorar.
Tenho saudades das brincadeiras que fazíamos e dos nossos passeios no fusquinha do vô Gena pelas ruas de Bela Vista.

Sinto um carinho enorme por você como se eu o conhecesse de muitas vidas. E como sua tia aqui é chorona, fica difícil conter minhas lágrimas quando as lembranças vem.

Peço a Deus que te abençoe. Que te ilumine pois sei que tem um coração de ouro.

Lembro-me de uma vez que estávamos no Capri e você fez de um vira-latas seu amigo.
Quantos anos você tinha? Uns 8 eu acho.
Era curioso como ele te seguia, passeava com você e te cuidava por toda a praia, lembra?
E você deu a ele um nome: Valente.

Todos ficamos preocupados porque achávamos que você sofreria ao voltar da praia e ter que deixá-lo para trás.
Mas, assim como o nome que deu ao cãozinho, valente você foi também.

Nossa coragem reside nas decisões que tomamos, naquilo que abrimos mão pelas escolhas que fazemos.
E naquele dia, você foi Valente.

Talvez, no seu coraçãozinho de menino, restasse a esperança de que ele o seguisse até cansar e sem conseguir te alcançar voltaria pelo mesmo caminho de onde veio e quem sabe o reencontraria no próximo ano.

Talvez, você assim o desejasse e veio sonhando com seu amiguinho na viagem de volta das férias.

Na vida, aprendi a deixar muitos Valentes para trás, sem deixar de lembrar, sonhar ou desejar que estivessem por perto.
Valentes que ensinaram-me o valor de uma amizade longa e sincera, ou que passaram rapidamente deixando-me alguma lição.

Aprendi, num dos livros de Richard Bach que “as únicas coisas que importam são as feitas de verdade e alegria, não as de lata e vidro.”

Então lembrarei das suas gargalhadas de criança.
Da alegria que eu sentia quando estávamos juntos.
Da brincadeira de esconde-esconde, de te ver vestido de chef nos servindo brigadeiro e pasteizinhos na escola, todo compenetrado.
De passar a mãozinha no meu barrigão esperando que o Antonio se mexesse, e lembrar da engraçada cara de susto que você fez quando isto aconteceu…

Porque o que guardei de você foi feito de verdade e de alegria.

Eu tenho a vida inteira para esperar sem pressa por mais momentos assim.

Por hora, vamos deixar o tempo passar porque hoje “não posso ir ao seu encontro porque já estou com você. Você não é pequeno porque já é crescido, brincando entre suas vidas como todos fazemos, pelo prazer de viver.”

Deus te abençoe, “Affonso Valente”, sua tia chorona ama muito você.

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