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Câncer de mama…A história de Monica (LVIII)


Conversando com meu filho…

“30 de setembro de 2002, terça-feira.

Oi meu filho, está cada vez mais espaçado o meu tempo para escrever a você.
Hoje é aniversário da sua tia Ana e daqui a pouco ligaremos para ela.

Muitas coisas mudaram neste mês que passou.
Você aprendeu a engatinhar e também consegue ficar em pé segurando nos móveis, cadeiras, armários, sofá.
Tudo o que te dá apoio para erguer-se, lá vai você.
Ergue seus bracinhos, segura firme e fica em pé.

Quando ouve uma música balança-se todo num ritmo que é só seu.
Faz outros sons com sua voz e quando alguma coisa te agrada você bate palminhas!

Seus dentes começaram a apontar: dois em cima e um embaixo o que provoca alguns desconfortos como a falta de apetite, assaduras, inchaço nas gengivas e até umas pequenas rachaduras nos cantinhos da boca.

No berço é uma ginástica para trocar suas fraldas.
Você não para quieto nem um minuto e resmunga bravo o tempo todo enquanto faço a troca, chega a chorar de bravo, pode?

Também batizamos você.
Foi no dia 21 de setembro, um sábado, e aconteceu na Igreja Imaculada Conceição em Londrina.
Foi uma cerimônia muito linda e o Padre Jaime nos lembrou sobre a responsabilidade que seu pai e eu deveremos ter com você durante seu crescimento e por toda a vida.
A tia Ana e o tio André foram seus padrinhos.
Batizamos você na mesma igreja que seu pai foi batizado.
Quem sabe no futuro, ali também será batizado um filho seu, não é?

Ai filho, todas as vezes que venho para cá não dá vontade de voltar…
Mas, como disse o Padre Jaime: “- É melhor olhar para frente e seguir do que olhar para trás e virar estátua de sal…” (risos)
Vou cuidar para não ficar salgada demais, filho…Te amo muito, Deus te ilumine.”

Lições que aprendi…

Sinto bastante saudade das amigas que tenho em Londrina.
Graças a Deus tenho amigas que enchem os dedos das minhas mãos – Amigas com “A” maiúscula, então a saudade justifica-se.

Algumas são verdadeiras irmãs.
Como a Mônica… E a história começa mais ou menos assim:

Eu abria a minha casa para realizar festa junina.
Convidava amigos, vizinhos, parentes e agregados que quisessem participar também eram bem-vindos.

Fazer isto aliviava um pouco a saudade que eu sentia da minha família.

Eu adorava enfeitar a casa com tudo o que uma festa destas pede.

Bandeirinhas coloridas, bambus em arcos no corredor da entrada, fogueira, quadrilha, bolos, tortas, pé-de-moleque, pipoca, pinhão e uma vez nós até tivemos uma sanfoneira baiana para animar a quadrilha.

Numa outra, um contador de histórias, trazido pela amiga Rita que parou a festa e fez toda a criançada ficar quieta, prestando atenção na narrativa.

Era muito divertido e nem bem terminava a festa os convidados já se garatiam para a festa do ano seguinte e a turma aumentava a cada ano que passava.

Quando eu organizava a festa de junho 2009, lembro-me da Monica estacionando a camionete na frente de casa e oferecendo-se para irmos buscar os bambus, a lenha para a fogueira e qualquer coisa mais que eu precisasse.

Uma mulher linda, mãe dos gêmeos Thiago e Matheus.
Digo que vivo rodeada de anjos e não minto.
Monica é mais um deles.

Neste dia também, chamei seu Valdir, que era meu vizinho, para nos dar uma mão.
Acostumado a organizar presépios e festas da família, ajudou-nos a cortar os bambus que precisávamos.
Nossa! Com a ajuda do seu Valdir eu me pendurava naqueles bambus e os trazia até o chão.
Eu os segurava e depois lá ia o seu Valdir com o facão cortar as ponteiras que aproveitaríamos para a festa.

Na verdade a festa já começava ali em meio às boas risadas por conta do meu desajeitado esforço em agarrar os bambus para cortar.

Em casa, Alexandre sempre improvisava os principais arranjos de mesa com panelas de barro, espigas de milho, batatas doces, ovos, para fazer de conta que era uma mesa de roça. Ficava lindo, eu adorava!

Enfeitávamos o quintal com fitas coloridas, nas mesas colocávamos toalhas de chita e arranjos de flores que, na última festa que organizei, Monica e eu tivemos a “assessoria” da nossa amiga Adriana gaúcha que os fez com muito capricho!

Monica e eu ficamos amigas assim e como se já nos conhecêssemos há tempos, fomos aos poucos aproximando nossas famílias também.

Um dia de 2010, não vou me lembrar qual, Monica me comunicou que teve diagnóstico para câncer de mama.
Depois de todos os exames feitos veio a confirmação de que precisaria recorrer à quimioterapia.

Fiquei triste e preocupada, mas ela, com o rosto sempre iluminado por um sorriso, seguia determinada a vencer o problema que nos envolveu ainda mais.
Eu com ela e Antonio com Thiago e Matheus.

No passar dos meses, vimos seus cabelos compridos começarem a cair e serem cortados logo depois da primeira quimio.

Num almoço que fizemos para reunir alguns amigos em casa, ela chegou mais bonita ainda desfilando seu novo corte de cabelo.

E depois de algum tempo, seus cabelos caíram totalmente, suas sobrancelhas rarearam, e os efeitos da quimio começaram a fazer efeito.

Tudo parecia ir embora, mas minha amiga inventava outras formas de manter o seu sorriso e a firmeza em passar uma força que eu, na minha ignorância ficava imaginando…De onde vinha?…

A quimio afetou-a fisicamente, deixou-a careca, ela emagreceu, mas cada dia que passava Monica mostrava a guerreira que estava dentro dela, como se cada dia fosse tão precioso que não poderia ser desperdiçado, nem um minuto, nem um segundo.

Se chorou…Nunca vi.
Apenas ouvia quando se punha a contar sobre uma noite mal dormida, sobre a dor e o cansaço que sentia depois da quimio.
A falta de apetite, o sabor sem sabor dos alimentos.

Se ela queixava-se?
Muito pouco. Eu mais com as minhas picuinhas ela menos pelo seu verdadeiro problema.

Eventualmente dizia-me que estava cansada e queria dormir para descansar um pouco.

Se liguei para ela todos os dias durante este período? Acho que quase todos.
Nos víamos com certa frequência porque moramos ainda bem próximas.

Quando podia aguentar-se sem os efeitos da quimio, procurava estar ativa, buscava qualquer coisa que pudesse preencher seu dia para fazer tudo aquilo passar de um jeito menos doloroso para ela.

Monica chegava em casa e ajudava-me a produzir meus sanduíches naturais, saia comigo para entregar pães, lutava a todo custo para não se deixar vencer pela doença que se estampava nela a olhos vistos.

No começo usava os lenços, vez ou outra uma peruca, mas por fim, assumiu sua cabeça careca sem medo de ser feliz e foi à luta!

Thiago e Matheus, tinham 5 anos e de mãe para mãe, senti por ela a ameaça do medo em não poder vê-los crescer.

O tempo passou, as sessões de quimio e rádio terminaram.
Minha amiga é uma verdadeira guerreira, como tantas outras que acompanho, de longe ou de perto com suas histórias e sinto-me orgulhosa por ela.

Monica é falante, conversa pelos cotovelos, adora contar piadas.
Sempre tem uma palavra de apoio para me dar, uma ajuda para oferecer, uma novidade de um trabalho que está fazendo para contar ou que aprendeu a fazer.

Tem uma história de vida linda, de uma mulher vencedora!

E a respeito dos filhos, em matéria publicada no caderno Viver Bem de julho de 2011, Monica diz o seguinte:

“Em todo esse processo, resolvi que o melhor era falar sobre a minha situação, explicar para as crianças de um jeito que pudessem entender, tê-los por perto, fazê-los cortar meu cabelo, brincar com a minha careca.
É claro que senti tristeza, raiva por isso ter acontecido comigo, escrevi cartas para os meus filhos, rasguei tudo.
Mas também tive amigos para conversar, razões para sorrir e motivos para lutar pela minha vida.”

– Um conselho para quem está numa situação parecida com a sua?
“Tire a dúvida, faça a biópsia e não desista! Nunca.”

Se anjos existem?
Tenho certeza que sim.
Minha amiga é um deles.
Deus te abençoe Monica, hoje e sempre.

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Também quero dedicar este post para:

Edna Ana Generoso Siciliano (mãe da Giu)
Maria Célia F. Chadi (minha prima)
Adriana Coelho (minha amiga)

Para todas as mulheres guerreiras que por esta grande lição de superação ensinam a mim e a todos os que as cercam a ter coragem, a persistir e não desistir. Nunca!

E ao meu querido amigo Valdir Coelho, que hoje pode estar em algum lugar além das nuvens, cortando bambus de estrelas para fazer festa junina em algum pedacinho do céu.
Que os anjos estejam com você.

-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-

Para ler a matéria completa da Monica:
Com Motivos Para Sorrir


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