“Se alguém nos faz sofrer, é porque esta pessoa também está sofrendo. (…)
Quando expressamos nosso ferimento, há três frases importantes que os ensinamentos budistas sugerem. Estas frases são o antídoto para o sofrimento. A primeira é, “Querido, eu estou com raiva. Eu estou sofrendo e quero que você saiba.”. A segunda é “Querido, eu estou fazendo o melhor que posso”. A terceira é “Por favor, ajude-me”.
(Do livro “Together we are one”– Thich Nhat Hanh)
Conversando com meu marido…
Logo que cheguei de Londrina, resolvi conversar seriamente com meu marido a respeito dos sintomas e transformações hormonais que estavam me acontecendo.
Sabia que o assunto seria delicado.
Alexandre já sentia o meu desinteresse por ele e, como consequência, o meu afastamento.
Mas dentro do possível, ele mantinha-se paciente e eu, muito angustiada e insegura.
Procurei, em primeiro lugar, entender o quê me acontecia e no meu caso as transformações hormonais foram radicais.
Percebi que já no segundo mês de gravidez alguma coisa estava mudando. Meu desinteresse pelo meu marido começava a se apresentar.
Não quis acreditar que isto estava acontecendo comigo. Em muitos momentos de intimidade recusei-me a aceitar que o meu desejo por ele havia se alterado.
Sempre nos entendemos bem e não haveria de ser naquele instante que isto mudaria.
Assim, para todos os efeitos e aos olhos dele, tentei manter a mesma situação de antes, mas cada vez mais sentia-me desestimulada e o meu desejo diminuir.
Eu não podia dar mais voltas a respeito disto. Até que chegou o momento de tentar dialogar.
Para mim, tudo fazia parte de um quadro de mudanças biológicas, hormonais, físicas e por incrível que pareça, natural: eu estava grávida!
Expliquei ao meu marido o que estava acontecendo. Disse que não era falta de amor, pois não deixava de amá-lo, mas sexo para mim, naquele momento, não tinha o mesmo sentido e nem era movido pela mesma intensidade e paixão de antes.
Sentia-me incomodada com o seu cheiro ou ao beijá-lo. Uma situação que não desejo a ninguém. Sabia que passaria, mas não sabia se duraria um, dois ou quantos meses.
Sentia-me culpada, impotente, incapaz, cruel até.
E para complicar, na minha cabeça ainda existia o medo de ser traída. Medo de não conseguir satisfazer sexualmente o meu marido e ele, por sua vez, poderia procurar “diversão” fora de casa.
Sentia-me fragilizada e o meu único porto seguro estava ali, diante de mim. E nesta conversa não sabia qual poderia ser sua reação.
A você que me lê, quantas histórias não conhecemos a esse respeito. Quantos casamentos acabam se perdendo por conta de situações como essa. Quantas mulheres se humilham e se dobram aos caprichos de seus maridos em condições assim?
Ou ao contrário, quando são os maridos que evitam suas esposas com medo de machucá-las, ou ao bebê. Ou em alguns casos extremos chegam a colocar as esposas em pedestais durante a gravidez tornando-as inatingíveis, intocáveis no maior significado desta palavra e quase sempre santificando-as.
Durante minha gravidez passei por várias sensações de insegurança. Mesmo expondo meus receios ou medos ao meu marido e contando com sua paciência, ainda vivi momentos difíceis como a ausência de diálogo com ele ou sofria com minha baixa auto-estima. Senti-me deprimida e o que mais me doía em algumas situações era a solidão.
Por mais que eu estivesse construindo uma nova família, a minha família de origem fazia-me muita falta.
Não me dava conta do quanto eu ainda estava ligada a ela e do quanto teimei em romper este fio, esta corda, este cabo de aço.
Necessário e importante para dar espaço ao meu casamento, ao meu marido e ao meu filho que estava por nascer.
Enfim, Alexandre tentou apoiar-me de todas as maneiras que sabia.
E não foi fácil para ele também.
Por mais natural que o estado de grávida pudesse ser, em alguns momentos o desconforto para ambos instalava-se.
Então sentávamos, conversávamos, ajudávamo-nos mutuamente e iniciar uma conversa nem sempre era fácil entre nós.
Antes delas, já havíamos nos magoado e mesmo quando conseguíamos resolver o que nos incomodava havia resquícios da raiva, do nosso orgulho ferido, de palavras mal colocadas que ecoavam aos nossos ouvidos a nos machucar…
A mágoa calcifica-se quando não a tratamos depressa, nem sempre meu marido e eu tivemos esta percepção para nos antecipar aos desajustes emocionais que passamos.
Mas, com a dor ou sem ela, tudo passava. Seguíamos adiante.
E como escrevi anteriormente (…) “apesar das crises, o casamento amadureceu e não naufragou.”
Nossa história se desenhava pouco a pouco, e onde eram apenas rabiscos e traços pontilhados, nós dois juntos, esticávamos as linhas, uníamos os pontos… Dávamos importância a algo maior: Antonio estava chegando.
Enfim, meu interesse sexual prosseguiu em baixa durante toda a gravidez.
Acredito que o que vivenciei não seja regra geral.
São casos e casos e no meu caso foi assim.
A lição que aprendi…
Que a vida a dois é muito mais que passear de mãos dadas, trocar olhares apaixonados, dizer palavras lindas de amor.
A vida a dois nos ensina a enfrentar e crescer nas situações doces e amargas, boas e ruins.
O que fazemos com as experiências que vivemos é o que nos deixará melhores ou piores para nós mesmos. São cicatrizes emocionais que carregaremos durante a nossa existência.
Toda a experiência a respeito das dificuldades e alegrias que passei na gravidez, serviram para que eu refletisse sobre uma Celi imatura, mimada e caprichosa que até hoje, reconheço, ainda tem recaídas.
Por muito tempo tive medo de não ser aceita, de não ser amada. Mas aprendi que não sou eu quem decide os sentimentos das pessoas por mim.
Aprendi que se alguém irá me amar ou não, não cabe a mim esta decisão. É uma questão particular de escolha, e está tudo certo, não junto mágoas por isto, não mais. Simples assim.
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