“Nada na minha vida pode ser igual, normal ou com sabor padronizado, nasci arquiteta, mas não sabia. Fiz das letras um varal, uma escada e por aí desmancho as vigas das frases, abro espaços e o coração.
Na tentativa de ser uma arquiteta de letras, desconstruo meu pensamento todos os dias para respirar novos desenhos, sonhar outros projetos e escrever nas linhas tortas o que ainda não sei fazer direito.”
(Celi Anizelli)
Conversando com meu filho…
“02 de abril de 2003, quarta-feira, 21H30…
Filho, você já dorme o sono dos anjos.
Seu pai acabou de sair para fazer uma pauta, seu irmão assiste TV e agora o tempo é para nós dois…
Com frequência, coloco um CD chamado Mozart for Babies para você ouvir.
Em especial, tem uma música que não me canso de ouvir: “Piano Piece in F Major”. Ela tem apenas um minuto e meio de duração, mas eu a ouço tantas vezes que a faço durar horas.
Você dorme embalado por ela e muitas vezes pede música para dormir.
Aliás, você é todo musical.
Qualquer batuque que ouve já põe-se a chacoalhar e dançar.
Imita seu pai tocando trompete.
Pega as surdinas e sai pela sala a fazer barulho como se tocasse numa orquestra sinfônica.
Hoje quero te contar uma historinha que recebi da Rita, minha amiga. Acho que já te contei sobre ela. Ela é quase uma irmã para mim, temos muita afinidade e ela está de mudança para o Rio de Janeiro…
Mas a historinha começa assim:
“Imagine que você está sentado no chão, ao lado de uma cadeira. Nesta cadeira, está sentada uma pessoa bordando um tecido esticado por aqueles aros de madeira, que eu não vou lembrar o nome…
De onde você está, só consegue olhar para cima e ver aquela pessoa formando um emaranhado de linhas e cores, as quais você não consegue entender tanto ir e vir com a agulha…
E você pergunta a esta pessoa:
” – O quê você está fazendo para deixar tudo tão misturado e confuso daquele jeito?”
A pessoa te responde:
“- Eu estou bordando. Depois te mostro o resultado da confusão que você está vendo aí de baixo!”
Passado um tempo, a pessoa te chama para ver o que ela fez. E qual não é a surpresa ao olhar o monte de linhas transformar-se num lindo desenho bordado no tecido.”
Sabe, filho, entendi que a vida depende de que lado você olha o bordado.
Às vezes, olhamos para o céu e perguntamos a Deus:
“- Por quê está tudo tão confuso por aqui?”
Com certeza, Ele tentará nos acalmar a nos dizer que está bordando nossa vida para nós e que logo iremos entender o porquê de tudo estar assim.
Se conseguirmos nos sentar ao Seu lado e ver com os olhos de quem está colocando a agulha e puxando os coloridos fios, entenderemos que toda a confusão faz parte do projeto de Deus para as nossas vidas e que tudo tem um propósito em Suas mãos.
Basta saber esperar, confiar e descansar…Ele sempre faz a parte d’Ele, e espera que também façamos a nossa.
Deus te abençoe, meu filho…E à Rita também.”
Lições que aprendi…
Meu filho já lê o que escrevo.
No Diário eu me perguntava se eu contribuiria com alguma coisa a esse respeito, com tantas letras escritas e espalhadas…
Aprendemos muito um com o outro e cada dia que passa Antonio surpreende-me com suas delicadezas comigo, com seu carinho e respeito.
Alegre, brincalhão e todo musical. Por mais brava que eu possa estar, no final acabamos fazendo alguma palhaçada para terminar bem a nossa história.
Hoje, a historinha que a Rita me mandou há tantos anos, ainda faz-me olhar para o céu…
Fiquem com Deus,
obrigada por sua companhia!
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Seja bem-vindo, seja bem-vinda.