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Mãe de primeira viagem…(XXXV)


“Quando Deus lhe confia a alma que vem do invisível dando-lhe a honra da maternidade ou paternidade, é porque sabe que no meio em que você vive e com os recursos variados ou parcos de que dispõe terá as possibilidades de bem orientá-lo para a vida”
(Thereza de Brito)

Conversando com meu filho...*

“Quinta-feira, 31/01/2002,

Oi meu querido, estou sentada na sala e você está quietinho dentro do carrinho.
Nós dois não tivemos uma boa noite de sono, você gemeu de cólicas o tempo todo e eu morro de pena!

O período de adaptação não tem sido dos mais fáceis para mim.
Preciso aprender a controlar minha ansiedade e respeitar seus horários, suas dores, seu soninho, as fraldas sujas, seus incômodos.
Afinal são apenas 24 dias aqui do lado de fora, não é mesmo?

Olha, filho, estamos sem dormir direito todos estes dias.
Sinto-me exausta e quando me faltam as horas de sono começo a ficar irritada, sensível, tenho vontade de chorar o tempo todo, não consigo pensar direito no que fazer e fico esquecida.
Tento ficar mais calma para não passar isto tudo para você enquanto o amamento.

Quando você começou a apresentar as primeiras cólicas, você gemia e se contorcia de dor, imagine o que é isto para uma mãe de primeira viagem.

A importância de uma dieta neste período era justificada pelos sintomas que você passava a apresentar enquanto eu aprendia o que comer.
As cólicas que muitas vezes você sente, dependem muito da dieta que mantemos nesta “quarentena”.

Passei a ingerir menos massas, açúcares, e controlei a ingestão de fibras, alimentos que poderiam fermentar e colaborar com suas dores.
Aprendi que seus intestinos começavam a funcionar com um novo tipo de comida e eu cuidava para que isto não acarretasse maiores danos para sua digestão.

Seu pai e eu passamos alguns dias nos batendo sobre o que fazer com você neste período.
Eu sofria vendo-o sofrer.

Mas a ajuda veio da Rosane do banco de leite nos explicando sobre o que poderia provocar as cólicas e nos esclareceu o seguinte:

O primeiro leite que toda mãe produz, ou seja, quando você chora de fome e aquele leite que imediatamente te ofereço nos primeiros 5 a 10 minutos é um leite mais rico em açúcar, portanto, é o que pode provocar e prolongar suas cólicas.
E é este leite que alguns bebês tomam e perdem peso no início, por ser mais doce e ter menos proteína para sustentá-los.

Muitas vezes quando sentia dor você procurava o peito desesperadamente.
Na minha cabeça era fome e acredito que, no seu instinto, uma forma de aliviar o mal estar que sentia.
Assim, eu oferecia o peito, você mamava uns 10 minutos, acalmava-se e dormia.
Mas mal dormia e logo começava a contorcer-se e gemer com os incômodos que, fatalmente, a fermentação daquele primeiro leite provocava nos seus intestinos tão sensíveis ainda.

Orientada pela Rosane, eu ordenhava o primeiro leite antes de deixá-lo mamar, porque, depois o leite da sua mamada apresentava-se mais rico em proteína. Isto te faria ficar mais saudável e você passaria a ganhar peso.

Depois deste exercício todo, você ainda teve cólicas, mas conseguia suportá-las melhor e eu também.

Deus te abençoe, meu lindo, nossa como eu te amo!”

Lições que aprendi…

Lembro-me de quando fomos à primeira consulta com o Dr. Petrini, o pediatra.
Antonio, nos 15 primeiros dias de vida engordou 570g e cresceu 5 cm para nossa alegria!
O Dr. nos deu os parabéns.
O esforço valia a pena.

Antonio desenvolvia-se forte e saudável.
Reagia bem aos seus freflexos, as pernas eram firmes e engordava feito um “bezerrinho” pois mamava cerca de 600 ml por dia, mais do que os bebês da sua idade.

No período de “abstinência de minha mãe”, sozinha, sem ter com quem conversar ou trocar experiências via-me uma analfabeta no primeiro ano de escola sem ter a mínima compreensão daquele universo de mãe onde eu agora fazia parte.

Antonio cabia no meu braço feito uma “trouxinha”.
Observar aquele serzinho que se formava, aparentemente tão frágil e indefeso, despertava em mim meus instintos de proteção.

Quantas vezes ao amamentá-lo, relembrava minha infância, meus passeios com meus pais e planejava os meus passeios com Antonio.
Meu pequeno núcleo familiar se formava.
Nossas histórias a serem contadas e construídas dia após dia.
Como relembrar tantas coisas se eu não tivesse registrado isto nestas linhas…

Algumas pessoas podem achar graça ou nem acreditar ou dizer: “ – Quanta bobagem!”
Mas só quem é mãe ou pai saberá entender o amor que esta responsabilidade nos traz e transforma.
Amor de mãe, amor de pai, amor de família que aprendemos todos os dias a construir.

Filhos são seres que nascem para iluminar nossas vidas.
Mesmo aqueles que nos dão mais trabalho, não importa, estão entre nós para nos dizer que precisamos ter paciência, carinho e boa vontade.
Estão entre nós para nos dizer que não desistamos deles em momento algum.

Estão nos pedindo para que aprendamos a nos educar para educá-los melhor , fazem-nos lembrar hoje e sempre que enquanto pais temos a missão de ajudá-los a endireitarem-se na vida.

Eles nos pedem para entender que, quando algum problema surgir, possamos então usar nossa maturidade de pais para conduzi-los ao melhor caminho, e encontrarmos juntos uma solução.
Mesmo que pareça difícil, mesmo que eles resistam, ou rebelem-se.
O tempo todo pedem-nos para não desistir.

Pedem que estejamos presentes com eles brincando na chuva, debaixo do sol, subindo até as estrelas, no fim do mundo ou no fim do poço, sempre.

São nossos filhos, amados, abençoados e que por algum motivo dado e escolhido por Deus vieram para nos acompanhar nesta pequena viagem chamada vida.

Deus nos ilumine e aos nossos filhos.

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Pegando carona num texto…

Eis as linhas de um manuscrito encontrado numa igreja em Boston, por volta do ano de 1644 que pego carona como um conselho que deixo ao meu filho…chama-se Filho do Universo:

Siga tranquilamente entre a inquietude e a pressa, lembrando-se de que há sempre paz no silêncio.

Tanto quanto possível, sem humilhar-se, viva em harmonia com todos os que o cercam.

Fale a sua verdade mansa e calmamente e ouça os outros, mesmo os insensatos e ignorantes – eles também têm sua própria história.

Você é filho do Universo, irmão das estrelas e árvores.
Você merece estar aqui e mesmo que você não possa compreender, a Terra e o Universo vão cumprindo o seu destino.

Evite as pessoas agressivas e transtornadas, elas afligem nosso Espírito.

Se você se comparar com os outros, você se tornará presunçoso e magoado, pois haverá sempre alguém inferior e alguém superior a você.

Viva intensamente o que já pode realizar.
Mantenha-se interessado em seu trabalho, ainda que humilde – ele é o que de real existe ao longo do tempo.

Seja cauteloso nos negócios, porque o mundo está cheio de astúcia, mas não caia na descrença.
A virtude existirá sempre.

Muita gente luta por altos ideais e em toda parte a vida está cheia de heroísmos.
Seja você mesmo, principalmente, não simule afeição, nem seja descrente do amor, porque mesmo diante de tanta aridez e desencanto, ele é tão perene como a relva.

Aceite com carinho o conselho dos mais velhos, mas seja compreensível com os impulsos inovadores da juventude.
Alimente a força do Espírito que o protegerá no infortúnio inesperado, mas não se desespere com perigos imaginários – muitos temores nascem do cansaço e da solidão.

E a despeito de uma rotina rigorosa, seja gentil consigo mesmo.
Portanto esteja em paz com Deus, como quer que você o conceba.
E quaisquer sejam seus trabalhos e aspirações na fatigante jornada da vida, mantenha em paz a própria consciência.
Acima da falsidade, dos desencantos e agruras, o mundo ainda é bonito – seja prudente.

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A proposta do DIÁRIO DE ANTONIO é a de um livro virtual.
Você poderá ler os assuntos alternadamente ou acompanhar desde o início capítulo por capítulo.

Você também poderá ler outros textos que publico no blog
Sal de Açúcar

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