Há um mistério insondável nesse encontro de olhares.
Mãe e filho. Amamentação. Ato de suprema entrega. Momento de divina doação(…)
(Alice Capel)
Conversando com meu filho…
“Oi meu filho querido, tentarei relatar algumas coisas que nos aconteceram nestes dias de adaptação.
Passaram-se 18 dias desde que saímos do hospital, estamos no dia 25 de janeiro e perdoe-me se esqueci algum detalhe no meio do caminho, o meu relato começará assim:
Era uma quarta-feira de muito sol em Curitiba.
Fui amamentando você durante o percurso sem deixar de perceber a ansiedade e a alegria do seu pai enquanto dirigia, o mais bobo de todos…
O caminho de 10 km entre nossa casa e a maternidade parecia ainda mais longo em função do trânsito e do calor que fazia. Eu estava muito sensível a tudo e a todos, era muita coisa para dar conta num espaço tão curto de tempo.
Enfim estávamos a caminho de casa.
Quando chegamos, sua avó e a tia Su nos esperavam com o almoço pronto.
Acomodei você no berço e fui almoçar. Eu estava esfomeada!
Filho, durante o dia, como num passe de mágica, e que mágica, meus peitos encheram-se de leite e ganharam um volume extraordinário!
Não tenho como explicar o que senti a cada minuto que passava.
A dor nos meus peitos era tanta que eu não conseguia deixá-lo amamentar.
Depois de uma porção de tentativas frustradas, no final da tarde, ligamos para o Banco de Leite do Hospital Evangélico pedindo ajuda e orientação.
Em pouco tempo, recebi a visita da Rosane, que entendeu o meu desespero e prontamente prestou-me atendimento em casa.
Um pouco mais calma e com muita paciência, Rosane ensinou-me a massagear as mamas e a “ordenhar” caso eu tivesse excesso de leite.
Filho, tudo de bom que eu havia passado durante a gestação, naquele momento era um mar de dor sem fim. Produzi leite em excesso e não dava conta de massagear e tirar o suficiente para que a dor fosse embora.
Na manhã do dia seguinte, liguei de novo ao hospital e pedi ajuda às santas enfermeiras do Banco de Leite.
Por telefone tentavam acalmar-me e explicar o quê e como fazer para sentir-me melhor.
Mais uma noite mal dormida, mais um dia e, meu Deus, como doíam…
Já estávamos na sexta-feira e lá fui eu bem cedinho com você e seu pai até o Banco de Leite do Evangélico.
As enfermeiras esclareceram-me sobre como fazer a ordenha, massagear as mamas e assim conseguir alimentá-lo melhor.
Eu tinha tanto leite que neste dia eu também pude doá-lo.
Mesmo com todo o esforço e a ajuda dos anjos do Banco de Leite as dores e o inchaço continuaram no sábado. Mas foi no domingo que o desespero bateu!
Acordei com dores e o inchaço parecia maior.
Seu pai, coitado, tentava acalmar-me e passou o dia todo ajudando-me nas massagens e cuidados para tirar o leite…Mas em vão.
Mal consegui dormir à noite e pior, não conseguia alimentá-lo também.
Acho que a dor maior era esta.
Seu pai e eu tentamos de tudo o que podíamos e sabíamos fazer, mas na segunda-feira, o mais cedo que pudemos ir, estávamos os três no Banco de Leite novamente e foi assim durante toda a semana com a ajuda de dois anjos chamados Cleide e Ecleise.”
Lições que aprendi sobre a amamentação…
Todas as futuras mamães devem ser orientadas com relação a amamentação.
E quando escrevo sobre isto é porque passei pela experiência da minha falta de preparo e informação.
Quando saí da maternidade os peitos encheram-se de leite e como consequência veio a dor e o endurecimento das mamas.
Quando dei-me conta do que estava acontecendo, coloquei a Rosane em cena para meu alívio.
Ouvi tantas barbaridades enquanto estive amamentando que foi preciso ser firme e “desconfiada” para não me deixar “seduzir” por tantos conselhos e dicas que recebi.
Claro, no momento da dor, tudo o que eu queria era que ela fosse embora e me deixasse sossegada para curtir a amamentação com meu filho.
Mas não foi bem assim.
Uma das preciosas dicas, e que infelizmente acabei fazendo, foram as famosas compressas quentes para aliviar a dor…
Aliviam, sem dúvida, mas em seguida provocam uma vasodilatação nas mamas aumentando a produção de leite, o inchaço e as dores também…
E começa tudo de novo.
Então, para o seu bem, por favor, não faça isto.
Aprendi que na hora do banho quente, a primeira água a cair é em nossas costas.
Fazendo isto eu testava a temperatura da água para impedir que a água quente fizesse o mesmo efeito que as compressas.
Este hábito dura até hoje, por mais incrível que pareça!
Por favor, não coloque casca de banana nos bicos dos seus seios se eles racharem, pesquisas mostram que estas cascas apresentam coliformes fecais de insetos e humanos e é uma fonte de contaminacão para a mãe e para o bebê.
Outra coisa, a massagem faz-se necessária para desempedrar os seios e homogeneizar o leite, pode doer um pouco, mas alivia em seguida…
Depois de apalpar e massagear é preciso aprender a esvaziá-los.
Como eu fazia: com uma das mãos segurava o peito a ser esvaziado, com a outra fazia as massagens apertando em volta das aréolas, como se fôssemos espremê-las (não tenho outra palavra mais adequada aqui para explicar).
Tudo deve ser feito com calma porque se massagear rápido demais, na ansiedade de esvaziar os peitos, eles serão estimulados e encherão novamente de leite, as dores voltarão e isto é tudo o que não se deseja neste momento.
Para mim a palavra mais engraçada nesta história toda era ordenhar.
Eu não sabia que este termo era usado para auxiliar na amamentação e tudo o que aprendi a respeito foram das visitas ao Banco de Leite do Hospital Evangélico.
Por quase 15 dias, Antonio e eu estávamos no Banco de Leite aprendendo, ordenhando e doando leite.
O alívio provocado pelas mamadas do meu pequeno era indescritível.
Na verdade ele foi o meu melhor ordenhador.
Foi a única vez na vida que desejei ter meus seios flácidos, molinhos, mas cheios de leite e sem dor para alimentar meu filho.
Volto a falar mais sobre isto… O assunto ainda é longo!
Fique com Deus e até o próximo post.
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